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Jornal do Equador suspende edição impressa por restrições de legislação

O diário Hoy passará a ter apenas uma edição eletrônica a partir de segunda-feira

Agência France-Presse
postado em 29/06/2014 10:08

Quito - O jornal equatoriano Hoy, fundado há 32 anos e considerado de oposição pelo governo, anunciou a suspensão da edição impressa, em consequência de um boicote publicitário e por regulações restritivas de uma lei de comunicação. O Hoy passará a uma versão digital a partir de segunda-feira (30).

O jornal afirma em um editorial que a decisão foi baseada nas "regulações restritivas da Lei de Comunicação e o aprofundamento de alguns de seus dispositivos, incluindo os que limitam de forma discriminatória o investimento nacional em meios de comunicação".

O governo do presidente Rafael Correa, que mantém uma disputa com um setor da imprensa, que ele chama de opositor, promoveu a lei vigente desde junho de 2013, que proíbe que donos de bancos sejam proprietários de meios de comunicação. A norma é questionada pela iniciativa privada, que critica supostas restrições à liberdade de imprensa.

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"O permanente boicote publicitário ao Hoy, o cancelamento de contratos de impressão especialmente de textos escolares e outras limitações para financiar nossas operações, incluindo a iniciativa de transformar a informação em serviço público, em um cenário mundial de progressiva queda na audiência da imprensa escrita, nos obrigam a tomar a dura decisão de suspender a edição impressa diária", afirma o jornal de Quito.

"A gradual perda das liberdades e a limitação das garantias constitucionais sofridas no Equador, a autocensura que impõe a vigência da Lei de Comunicação, os ataques reiterados diretos e indiretos à imprensa que não é controlada pelo governo têm gerado, há mais de sete anos, um cenário totalmente adverso para o desenvolvimento de um jornal plural, livre, independente, aberto às distintas correntes de opinião", completa o editorial do Hoy.

O Hoy, que tem como diretor Jaime Mantilla, ex-presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), ressaltou que desde a sua criação o jornal defende "a democracia, o respeito aos direitos humanos e às liberdades e a luta por uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva".

Correa sustenta que vários veículos de comunicação privados, que classifica como corruptos e mentirosos, pretendem desestabilizar seu governo. O jornal afirmou que, apesar do boicote e das restrições, a partir de segunda-feira terá uma edição digital e que a nova fase contará com um jornal impresso semanal.

"Essa transformação coloca o jornal no caminho por onde começam a passar todos os veículos impressos do planeta, em direção à interação com os leitores por meio de inovações tecnológicas e redes sociais, à informação imediata e à análise aprofundada, pela qual pode-se manifestar opinião", acrescentou.

A lei define que os meios de comunicação que operam na internet também estão submetidos à norma. "Prevalecerão os grandes valores firmados pelo povo equatoriano ao longo de sua história, de repúdio a imposições, ditaduras e autoritarismos, e de defesa à democracia e às liberdades", afirma.

O Congresso, com maioria do governo, promove emendas constitucionais para estabelecer a reeleição indefinida, que permitiria que Correa participasse das eleições de 2017, e para definir a comunicação como um "serviço público" prestado por veículos estatais, privados e comunitários.

Em 2012, Correa ganhou um processo judicial por injúria contra o jornal El Universo de Guayaquil, em que três diretores e um ex-editor foram condenados a três anos de prisão e ao pagamento de uma indenização de US$ 40 milhões. No entanto, o presidente - no poder desde 2007 - concedeu um perdão judicial e o processo foi arquivado.

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