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Três suspeitos judeus confessam assassinato de adolescente palestino

Eles são suspeitos de pertencerem a "uma organização terrorista", sequestro, homicídio de menor, posse ilegal de armas e crime "por motivo nacionalista"

Agência France-Presse
postado em 07/07/2014 10:31
Três extremistas judeus confessaram o assassinato de um jovem palestino, queimado vivo em Jerusalém, em um clima de grande tensão em Israel, com o risco de um conflito generalizado com o Hamas islamita em Gaza.

A crise já provoca repercussões políticas: o ministro israelense das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, anunciou o rompimento da aliança com o partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por divergências quanto a uma resposta à violência em Gaza, mas sem deixar o governo.

Três dos seis israelenses detidos pelo sequestro e assassinato na semana passada de um adolescente palestino confessaram o crime, indicou nesta segunda-feira uma fonte próxima ao caso.

"Três dos seis suspeitos detidos confessaram ter assassinado e queimado Mohamed Abu Khder e realizaram uma reconstituição do crime diante dos policiais", declarou à AFP a fonte, que pediu o anonimato.

Eles são suspeitos de pertencerem a "uma organização terrorista", sequestro, homicídio de menor, posse ilegal de armas e crime "por motivo nacionalista", segundo o site de informações Ynet.

Mohammad Abu Khdeir, de 16 anos, foi sequestrado em 2 de julho em Jerusalém Oriental ocupada e anexada. Seu corpo - completamente carbonizado segundo o advogado da família - foi encontrado algumas horas depois perto de uma floresta na parte oeste da cidade.


Após a descoberta de seus restos mortais, os palestinos acusaram extremistas judeus de terem sequestrado e assassinado por vingança depois do rapto e morte de três estudantes israelenses na região de Hebron, na Cisjordânia, atribuído por Israel ao Hamas.

O horrível assassinato do jovem palestino, assim como o dos três israelenses, provocou grande comoção.

"Sequestrar um menino, matá-lo, queimá-lo até a morte, mas por quê? Nada é mais valioso ou mais exigente na história judaica do que o respeito pela vida humana", repetiu o presidente israelense, Shimon Peres.

Benjamin Netanyahu telefonou nesta segunda-feira aos pais de Mohammad Abu Khdeir para expressar sua indignação com o assassinato "abominável".

Em Gaza, quatro ativistas do braço militar do Hamas, que governa a região, morreram em um ataque israelense contra um túnel em Rafah, ao sul do território, segundo várias testemunhas e os serviços de emergência locais. Outros dois membros das brigadas Ezedin al-Qassam desapareceram.

A imprensa israelense atribuiu o incidente a uma explosão de origem indeterminada. A região tem muitos túneis que servem para o contrabando a partir do Egito, assim como galerias subterrâneas usadas por comandos para se infiltrar por trás das linhas israelenses ou lançar foguetes.

Um combatente palestino faleceu pelos ferimentos sofridos em outro ataque israelense em um campo de treinamento das brigadas de Al-Qassam em Rafah.

O exército israelense indicou em um comunicado que havia atacado "nove posições terroristas e pontos de lançamento de foguetes na Faixa de Gaza".

Desde a noite de domingo (6/7), ao menos 14 projéteis atingiram o sul de Israel, um dos quais feriu levemente um militar e provocou danos materiais. Um dos foguetes atingiu os bairros periféricos da cidade de Beersheva, a capital do deserto de Neguev, a 50 km da Faixa de Gaza, sem deixar vítimas.

Crise da coalizão
Diante da escalada da violência, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se comprometeu a "fazer o necessário para recuperar a paz e a segurança" no sul de Israel. Mas convocou o governo a se abster de declarações incendiárias para evitar um confronto generalizado.

"A experiência nos demonstrou que, num momento como este, devemos agir de forma responsável e com a cabeça fria para nos abster de declarações duras e impetuosas", declarou Netanyahu aos seus ministros.

[SAIBAMAIS]Esta linha prudente gerou divergências dentro da coalizão conservadora. O ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, um falcão ultranacionalista, anunciou o fim da aliança com o partido Likud, mas sem abandonar o governo.

"Não é nenhum segredo que existem divergências fundamentais que impedem trabalhar em conjunto (com o Likud) (...) Eu não entendo o que estamos esperando", lamentou o chefe da diplomacia, que exigiu em voz alta uma operação de grande escala contra o Hamas em Gaza.

O partido de Lieberman, Israel Beiteinu, apresentou uma lista conjunta com o Likud nas legislativas de 2013. O bloco Likud-Israel Beiteinu tem 31 deputados dos 120.

Finalmente, pela segunda noite consecutiva, distúrbios explodiram em comunidades árabes no norte de Israel.

Cerca de 110 pessoas foram presas, segundo a polícia, principalmente na Galileia.

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