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Francisco denuncia cumplicidade inexplicável da Igreja com padres pedófilos

O papa reconheceu que a dor e os suicídios de vítimas de abusos sexuais pesam sobre ele próprio e sobre toda a Igreja

Agência France-Presse
postado em 07/07/2014 10:36
O papa reconheceu que a dor e os suicídios de vítimas de abusos sexuais pesam sobre ele próprio e sobre toda a Igreja
O papa Francisco se reuniu pela primeira vez no Vaticano com um grupo de seis vítimas de abusos sexuais de padres pedófilos, diante das quais pediu várias vezes perdão e se comprometeu a não tolerar e a reparar a situação.

Em uma comovente homilia pronunciada durante uma missa celebrada na capela da casa Santa Marta, onde mora desde que foi eleito, em março de 2013, o pontífice argentino denunciou a cumplicidade inexplicável da igreja com estes crimes.

"Há tempos sinto no coração a profunda dor, o sofrimento, tanto tempo oculto, tanto tempo dissimulado com uma cumplicidade que não, não tem explicação", disse.

[SAIBAMAIS]"Diante de Deus expresso minha dor pelos pecados e crimes graves de abusos sexuais cometidos pelo clero contra vocês e humildemente peço perdão", afirmou o Papa, que reconheceu que os líderes da Igreja "não responderam adequadamente às denúncias de abuso apresentadas por familiares e por aqueles que foram vítimas de abuso", disse.

"Os pecados de abuso sexual contra menores por parte do clero têm um efeito virulento na fé e na esperança em Deus", acrescentou.

"Não há lugar na Igreja para os que cometem estes abusos, e me comprometo a não tolerar o dano infligido a um menor por parte de ninguém", ressaltou o chefe da Igreja católica.

Para o Papa, os autores destes crimes não apenas cometeram atos reprováveis, mas também profanaram a imagem de Deus. Francisco pronunciou sua homilia em espanhol, sinal de que a escreveu de próprio punho, o que ocorre em momentos especiais, quando prefere utilizar seu próprio idioma. Um tradutor acompanhou o Papa.

As vítimas e familiares acompanharam primeiro a missa matutina que o bispo de Roma costuma ministrar na capela de sua residência, e depois se reuniram em particular. Os nomes das pessoas não serão divulgados à imprensa, informaram fontes do Vaticano.

Francisco se comprometeu desde sua chegada ao trono de Pedro a lutar contra a pedofilia e criou uma comissão para a proteção da infância da qual faz parte uma vítima, a irlandesa Mary Collins.

Apesar destes gestos, as associações de vítimas consideram que a hierarquia da Igreja não está fazendo todo o possível para impedir que sacerdotes abusem sexualmente de menores de idade em todo o mundo.

Um grupo de ativistas mexicanos enviou na quinta-feira uma carta ao papa Francisco na qual pede "decisões estruturais; para acabar com os padres abusadores.

As vítimas pedem que as boas intenções que o Papa expressou se tornem normas específicas, explicou no México José Barba, um ex-membro dos Legionários de Cristo, de 75 anos.

Barba foi vítima do abusador Marcial Maciel, o falecido fundador da poderosa congregação, protagonista do maior escândalo de pedofilia da instituição e que gozou durante décadas da proteção de João Paulo II.

As autoridades do Vaticano informaram no início deste ano à ONU que os procuradores da Santa Sé examinaram 3.420 casos de abusos sexuais contra menores cometidos na última década.

Por estes casos, 848 padres tiveram que aposentar a batina e os 2.572 restantes foram obrigados a "viver uma vida de orações e penitência" em um monastério, uma punição que para as associações de vítimas é insuficiente.

A dor e os suicídios de vítimas de abusos sexuais pesam na consciência do Papa, reconheceu Francisco. "Alguns sofreram inclusive a terrível tragédia do suicídio de um ente querido. As mortes destes filhos tão amados de Deus pesam no coração e consciência, minha e de toda a Igreja", afirmou pouco antes de reiterar seu pedido de perdão pelos "pecados de omissão".

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, explicou à imprensa que "ouvir as vítimas ajuda a preparar o caminho para curar as feridas e alcançar a reconciliação com Deus e com a Igreja", disse. "Trata-se de um caminho que precisa ser percorrido", declarou.

Lombardi não descartou que o Papa se reúna com outros grupos de vítimas, não muito grandes, de modo que possa conversar de maneira ampla e profunda.

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