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Igreja foi cúmplice, diz papa em reunião com europeus que sofreram abusos

Francisco implora por perdão, reconhece falhas do Vaticano e promete punir a proteção aos criminosos. Vítimas admitem ceticismo ao Correio

Rodrigo Craveiro
postado em 08/07/2014 07:10
Papa Francisco acena para fiéis da janela do Palácio Apostólico, na Praça de São Pedro: pontífice denunciou uma cumplicidade sem explicação da Igreja para com os casos de pedofilia

O líder máximo da Igreja Católica surpreendeu o mundo, ontem, ao admitir pela primeira vez que a instituição de 1,2 bilhão de seguidores foi cúmplice de padres pedófilos. Diante de seis vítimas de abusos sexuais cometidos por clérigos ; duas da Irlanda, duas do Reino Unido e duas da Alemanha ;, o papa Francisco celebrou uma missa privada, durante a qual fez o mea-culpa e implorou por perdão. Pouco depois, manteve uma reunião individual de cerca de 30 minutos com cada uma das vítimas, três homens e três mulheres, na Casa Santa Marta, a residência pontifícia no Vaticano. A Santa Sé não divulgou os nomes dos participantes do encontro nem o teor das conversas. ;Há tempos sinto no coração uma profunda dor, um sofrimento tanto tempo oculto, tanto tempo dissimulado com uma cumplicidade que não tem explicação;, declarou Francisco em sua homilia.

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O papa comparou os abusos de crianças a um ;culto sacrílego; e assegurou que a Igreja deseja ;chorar; pelos crimes. ;A infância é um tesouro. (;) Hoje, o coração da Igreja mira os olhos de Jesus nesses meninos e meninas e quer chorar. Pede a graça de chorar ante os atos execráveis de abusos perpetrados contra menores;, desabafou Francisco. O santo padre prometeu punição aos padres violadores sexuais e garantiu que ;não há lugar; na Igreja para eles. ;Eu me comprometo a não tolerar o dano infligido a um menor;, disse. Segundo ele, todos os bispos renderão contas da responsabilidade de proteger as crianças. O pontífice também lamentou que famílias de vítimas tenham sofrido a ;terrível tragédia; do suicídio de um ente querido. ;As mortes desses filhos tão amados de Deus pesam no coração e na consciência minha e de toda a Igreja;, comentou.

Quem carrega na pele e na alma os traumas da violência sexual não disfarça o ceticismo ante a postura de Francisco. Morador de Gelsenkirchen ; 517km a sudoeste de Berlim ;, o alemão Wilfried Fesselmann, 46 anos, precisou de anos de psicoterapia para amenizar os ataques de pânico. Ele conta que, aos 11 anos, foi forçado a fazer sexo oral no reverendo Peter Hullermann. ;Os casos de abuso não são pecados, mas ações criminosas. Francisco quer mudar alguma coisa, isso não é o bastante. Os papas Bento XVI e João Paulo II estiveram envolvidos (nos escândalos). O significado do encontro de hoje (ontem) foi que vítimas foram convidadas e tiveram um dia bom, mas não creio numa mudança de ação da Igreja;, afirmou ao Correio, por e-mail. Em maio de 2010, Wilfried escreveu duas cartas a Bento XVI, detalhando os abusos que sofreu e mostrando interesse em se reunir com ele. ;Não tive resposta.;

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