Agência France-Presse
postado em 08/07/2014 09:53
Cabul - O candidato à presidência do Afeganistão Abdullah Abdullah se proclamou vencedor da eleição e rejeitou os resultados provisórios, que apontam uma vantagem importante do rival Ashraf Ghani, em mais uma fase da crise política que provoca temores de conflitos étnicos. O secretário de Estado americano, John Kerry, advertiu nesta terça-feira (8/7) contra qualquer tentativa de tomar o poder ilegalmente no Afeganistão e ameaçou cortar a ajuda financeira e de segurança ao país.A comissão eleitoral independente afegã anunciou na segunda-feira que o candidato Ashraf Ghani lidera a apuração, segundo os primeiros resultados do segundo turno celebrado em 14 de junho, com 56,4% dos votos, contra 43,5% para Abdullah. Abdullah, que era favorito depois de vencer o primeiro turno com 12 pontos de vantagem sobre Ghani, rejeitou os resultados e alegou fraudes a favor do adversário. "Sem nenhuma dúvida, somos os vencedores das eleições", disse Abdullah a milhares de simpatizantes em Cabul.
Abdullah se afastou do segundo turno da eleição presidencial de 2009, ao denunciar fraudes a favor do atual presidente, Hamid Karzai. Mas desta vez ele não parece disposto a ceder a vitória ao rival. "Queremos que o Afeganistão tenha dignidade e unidad nacionale. Não queremos uma guerra civil", afirmou Karzai, ao tentar tranquilizar a comunidade internacional. O governo dos Estados Unidos, principal respaldo financeiro do fundo de apoio militar do Afeganistão desde 2001, reagiu imediatamente. "Qualquer ação com o objetivo de tomar o poder por meios ilegais custaria ao Afetganistão o apoio financeiro e de segurança dos Estados Unidos e da comunidade internacional", declarou Kerry.
O chefe da diplomacia americana também pediu calma a todos os dirigentes afegãos para preservar os avanços da última década. Abdullah não fez nenhuma menção ao tema nesta terça-feira e afirmou que havia conversado tanto com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como com John Kerry, que informou sobre uma viagem a Cabul na sexta-feira. O presidente da comissão eleitoral advertiu que os dados anunciados não são definitivos e que não determinam o vencedor da eleição. O organismo ainda precisa examinar as queixas.
Após o anúncio, a equipe de Abdullah afirmou que a situação era um "golpe de Estado" contra o povo, estimulado pelo organismo electoral. Os partidários de Abdullah, reunidos nesta terça-feira em um local que recebe a Loya Jirga (assembleia tradicional afegã), acusam o presidente Hamid Karzai de ter manipulado as eleições a favor de Ashraf Ghani. No último dia 22, a equipe de campanha de Abdullah revelou provas da suposta fraude eleitoral.
A equipe divulgou gravações de áudio que colocava o chefe de secretariado da Comissão Eleitoral, Zia ul-Haq Amarjail, no centro da polêmica eleitoral, ao acusá-lo de ter cometido irregularidades ao transportar as cédulas de voto não utilizadas no segundo turno da eleição de sábado passado. No entanto, a equipe de campanha se negou a revelar a origem dessas gravações, cuja autenticidade é difícil de verificar de fonte independente.
Estas eleições são muito importantes, depois de mais de 12 anos de presidência de Hamid Karzai, que dirigiu o país desde a queda dos talibãs, em 2001. Soma-se o fato de as tropas da Otan planejarem deixar o Afeganistão até o fim do ano. Este contexto preocupa a comunidade internacional, principalmente devido ao aumento de tensão entre os partidários dos dois adversários.