Agência France-Presse
postado em 09/07/2014 13:17
Sob um calor abrasador, centenas de pessoas participaram nesta quarta-feira (9/7), em Beit Hanun, no norte da Faixa de Gaza, dos funerais de seis membros de uma mesma família mortos em um ataque da aviação israelense. Uma multidão, composta basicamente por homens, esperou em silêncio diante da mesquita que fica próxima à casa da família Hammad, pulverizada pelas bombas. Alguns tentavam ver os corpos, enquanto outros se concentravam na recitação das orações.O míssil destruiu a casa antes da meia-noite local, quando o pai da família, Hafez Hammad, um alto dirigente da Jihad Islâmica, voltava da rua, segundo testemunho de vários vizinhos. Hafez morreu junto com cinco familiares, entre eles duas mulheres e uma adolescente de 16 anos. "Era uma família inteira, gente muito respeitada aqui. Agora só resta o avó e um dos filhos", conta Mohamed Hammad, de 21 anos.
Quando os corpos, colocados em macas, deixam a mesquita, preenchendo o ar com o perfume utilizado no ritual funerário local, alguns homens os saúdam disparando para o alto. Um dos corpos está envolto na bandeira palestina. Todos são colocados em uma caminhonete aberta, onde as crianças do bairro se acotovelam para poder dar uma olhada, mesmo que rápida.
As pessoas agitam bandeiras de várias facções palestinas: a verde do Hamas, a negra da Jihad Islâmica e a amarela do Fatah. Lentamente, o cortejo avança para o cemitério, situado a poucos quilômetros, enquanto que por um alto-falante se cantam os méritos dos falecidos. Em meio ao ambiente sombrio, os presentes estão visivelmente cansados em função do jejum da festa muçulmana do Ramadã, do calor e da angústia de não saber onde cairia o próximo míssil israelense.
Segundo um membro da família, a aviação lançou uma advertência e a maioria dos habitantes do prédio teve tempo de fugir, embora alguns tenham ficado feridos. "A modo de aviso, dispararam um foguete luminoso que danificou levemente o telhado. E quatro minutos depois, dispararam pela segunda vez", contou Jaldun Hammad. "Na construção viviam três famílias, umas trinta pessoas, e o ataque era contra apenas um homem. Mas os israelenses dispararam contra todos", denuncia.
No lugar agora se pode ver uma imensa cratera, cheia de destroços, placas de metal retorcidas e móveis destruídos. E também há palmeiras e oliveiras arrancadas pela força da explosão. "Quatro minutos não são o bastante para sair de casa", lamenta Mohamed Hammad.
Israel intensificou sua ofensiva contra o movimento islamita Hamas na Faixa de Gaza, depois de atacar pelo ar centenas de alvos e receber foguetes que chegaram a Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. Na véspera, o governo israelense autorizou a mobilização de 40 mil reservistas para uma possível operação terrestre.
O Hamas respondeu disparando 165 foguetes, alguns deles chegando a Jerusalém, Tel Aviv e inclusive à costa de Haifa, 160 km ao norte. As operações israelenses deixaram até o momento 43 palestinos mortos, entre eles ativistas do Hamas, mas também mulheres e crianças, e mais de 300 feridos. Do lado israelense não foram registrados mortos ou feridos.