Agência France-Presse
postado em 11/07/2014 12:30
Várias famílias fugiram nesta sexta-feira (11/7)de Donetsk, capital da região separatista pró-russa de mesmo nome, onde ocorreram confrontos com artilharia pesada perto do aeroporto desta cidade cercada pelas tropas ucranianas. Diante desta ofensiva militar, o presidente ucraniano Petro Poroshenko indicou que não se reuniam as condições de um cessar-fogo exigido pelos europeus em diferentes contatos diplomáticos.No aeroporto internacional de Donetsk, fechado após os combates de maio, foram registrados confrontos com artilharia pesada durante a noite, anunciou a prefeitura da cidade. Segundo um porta-voz militar, as forças armadas ucranianas perderam 23 homens em confrontos com os rebeldes no leste do país nas últimas 24 horas.
Além disso, 93 soldados e guardas de fronteira ficaram feridos nas zonas de conflito durante esse mesmo período de tempo, informou Vladyslav Seleznov, porta-voz da "operação antiterrorista" empreendida por Kiev contra os separatistas pró-russos.
Na estação de Donetsk, dezenas de pessoas fazem fila para comprar passagens enquanto prosseguem os tiroteios provenientes do aeroporto próximo, seguidos do voo de um avião e de disparos antiaéreos, constatou a AFP. No mercado situado em frente à estação, as pessoas olhavam para o céu com certa preocupação. "Está igual a ontem, acredita que bombardearão?", perguntava uma comerciante a sua vizinha.
As forças de Kiev iniciaram na quinta-feira um intenso ataque contra os insurgentes pró-russos a oeste de Donetsk, cidade que cercaram depois de tomarem também posições ao sul. "Donetsk está se tornando muito perigosa", indicou à AFP um homem de 50 anos, que enviou suas filhas e netos para a casa de seus pais na Rússia.
Na região vizinha de Lugansk, quatro menores morreram e 16 pessoas ficaram feridas na quinta-feira pela explosão de um morteiro no ônibus que os transportava perto de Chervonopartizansk, indicou nesta sexta-feira a companhia de transportes.
O exército ucraniano busca agora cercar as duas capitais regionais separatistas, Donetsk e Lugansk, que os rebeldes se mostram decididos a defender.
O primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexandre Borodai, evocou na quinta-feira a possibilidade de retirar dezenas de milhares, ou inclusive centenas de milhares de habitantes da capital regional diante do avanço das tropas ucranianas.
Sequestros e torturas
Na frente diplomática, nenhuma solução se vislumbra no horizonte devido às condições impostas por Kiev e apesar das reuniões entre Ucrânia, Rússia e os países ocidentais.
Em uma conversa na quinta-feira com a chefe do governo alemão, Angela Merkel, o presidente ucraniano mostrou-se disposto a um cessar-fogo bilateral se for garantido o controle da fronteira com a Rússia para deter o envio de armas e combatentes a partir deste país.
Durante a conversa, Merkel indicou que os representantes da missão da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) no leste da Ucrânia não puderam "ter acesso aos postos fronteiriços devido às ações dos combatentes separatistas", segundo a presidência ucraniana.
Poroshenko também deu a entender que as condições para um cessar-fogo ainda estão muito distantes. A operação militar ucraniana contra os separatistas começou há três meses.
A ONG Anistia Internacional denunciou nesta sexta-feira a multiplicação dos casos de tortura e sequestros contra os militantes nacionalistas ucranianos e, em menor medida, contra os rebeldes.
Segundo o ministro ucraniano do Interior, 500 pessoas foram sequestradas no leste do país entre abril e junho. As Nações Unidas falam, por sua vez, de 222 sequestros, segundo a Anistia.