Agência France-Presse
postado em 11/07/2014 21:44
Kirkuk - A perspectiva de se formar um governo iraquiano de unidade ficou ainda mais distante nesta sexta-feira com o controle das forças curdas sobre dois importantes campos de petróleo na região de Kirkuk, no norte do Iraque, onde um duplo atentado deixou 28 mortos.A principal cidade do norte do Iraque foi sacudida por um atentado com carro-bomba seguido pela explosão de uma bomba artesanal, que deixou 28 mortos, incluindo mulheres e crianças que fugiam da ofensiva dos rebeldes sunitas contra as províncias vizinhas, segundo uma fonte médica.
O atentado com carro-bomba atingiu um posto de controle no sul da cidade e, logo depois, uma outra bomba foi detonada.
Aproveitando-se da retirada do Exército iraquiano diante do avanço dos insurgentes sunitas, as forças curdas tomaram o controle de Kirkuk, em 12 de junho. A cidade é disputada com o governo iraquiano.
Nesta sexta, o Curdistão também se apropriou de dois grandes campos de petróleo perto de Kirkuk. Junto com esses avanços, as autoridades curdas já anunciaram, para os próximos meses, a realização de um referendo pela independência.
Kirkuk é uma cidade multiétnica, situada 240 km ao norte de Bagdá. Antes de ser tomada pelos curdos, sua segurança era garantida por uma força policial formada por árabes, curdos e turcomanos.
Intensos combates foram registrados nesta sexta entre as forças iraquianas e insurgentes islamitas em Ramadi, 100 km de Bagdá, onde ao menos 11 policiais morreram e 24 ficaram feridos.
Os combates a oeste da capital da província de Al-Anbar, onde os rebeldes controlam alguns setores desde janeiro, começaram na quinta-feira à tarde e prosseguiam nesta sexta.
Os insurgentes assumiram o controle de várias áreas a oeste da cidade desde o início dos combates. Também tomaram uma delegacia e provocaram uma explosão em outra.
A queda de Ramadi seria uma vitória importante para os insurgentes, que já controlam amplas áreas de território em cinco províncias afegãs, principalmente Al-Anbar.
A dois dias de uma reunião crucial do Parlamento, o primeiro-ministro Nuri al-Maliki, que aposta em sua vitória nas eleições legislativas de abril para tentar um terceiro mandato, enfrenta a ofensiva insurgente sunita e tensões crescentes com o Curdistão iraquiano.
Tensão com Erbil
Enquanto o Exército combate em Ramadi, o Ministério iraquiano do Petróleo acusou nesta sexta-feira as forças curdas, os Peshmergas, por assumir o controle dos dois campos petrolíferos na região de Kirkuk (norte).
"O Ministério do Petróleo condena firmemente a tomada de poços petrolíferos nos campos de Kirkuk e Bey Hassan nesta manhã por parte de grupos de combatentes curdos", afirmou em um comunicado. Esses campos produzem juntos cerca de 400.000 barris diários, de acordo com um porta-voz do ministério.
Essas acusações marcam uma nova escalada nas tensões entre Erbil e Bagdá, que contribuíram recentemente para o fracasso na formação de um governo de unidade nacional.
Aproveitando a retirada do Exército iraquiano diante da ofensiva lançada em junho pelos insurgentes sunitas, as forças curdas tomaram o controle de territórios disputados com Bagdá.
As autoridades curdas pediram na quinta-feira a renúncia do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, classificando-o de histérico depois de o líder ter acusado a província autônoma de ser o quartel-general dos insurgentes.
As tensões comprometem as tentativas de formação de um governo de unidade nacional que permitiria à classe política apresentar uma frente unida contra a os insurgentes sunitas que, liderados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), iniciaram em 9 de junho uma ofensiva que permitiu controlar Mossul, segunda maior cidade do Iraque, grande parte de sua província, Nínive, e alguns setores das províncias de Diyala, Saladino, Kirkuk e Al-Anbar.
Unidade comprometida
O Parlamento deve se reunir no domingo para tentar iniciar o processo de formação de um governo após as eleições legislativas de 30 de abril. Uma primeira sessão realizada em 1; de julho terminou em confusão e causou o adiamento de uma nova sessão prevista para terça-feira.
O aiatolá Ali al-Sistani, maior autoridade religiosa xiita do país, lançou um novo apelo nesta sexta-feira aos líderes políticos iraquianos para que parem as disputas e escolham um governo.
Apesar das críticas sobre seu autoritarismo e sua escolha de marginalizar a minoria sunita, Maliki rejeita a possibilidade de deixar o poder. E, para alguns, ele pode deliberadamente sabotar a sessão parlamentar de domingo para ganhar tempo.
As críticas a Maliki também são relacionadas à incapacidade das Forças Armadas de impedir o avanço dos jihadistas e recuperar o controle das áreas perdidas.
Apesar da ajuda fornecida pelos Estados Unidos, pela Rússia e pelas milícias xiitas, o Exército iraquiano não consegue se recuperar de uma debandada em massa ocorrida nos primeiros dias da ofensiva jihadista.