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Milhares de ucranianos deixam cidade de Donetsk por medo de ataque

Nas últimas 48 horas, conflitos na região deixaram 48 mortos

Agência France-Presse
postado em 12/07/2014 18:24
Donetski - Milhares de habitantes de Donetsk deixaram neste sábado (12/7) o reduto dos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, diante do temor de um ataque iminente das forças ucranianas.Nas últimas 48 horas, os confrontos com os rebeldes deixaram 30 mortos entre as forças de Kiev.

Após um dia sangrento na sexta-feira, Kiev afirmou ter bombardeado na sexta-feira e no sábado várias bases dos separatistas nas regiões de Donetsk e de Lugansk, onde teriam infligido "importantes perdas" aos insurgentes. Pelo menos dez veículos blindados foram destruídos.

Essas informações ainda não puderam ser confirmadas por fontes independentes. Elas foram divulgadas depois que o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, prometeu vingar cada soldado morto com "dezenas e centenas" de rebeldes mortos.

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Poroshenko disse que quer evitar o uso da Força Aérea e de artilharia pesada na cidade para proteger os civis, mas milhares de famílias em Donetsk e em Lugansk decidiram não correr o risco e abandonaram a cidade.

Ruas desertas de Lugansk

Em Lugansk, as ruas estavam desertas neste sábado; e quase todas as lojas, fechadas. Jornalistas da AFP ouviram disparos de artilharia esporádicos.

Um morteiro caiu em um terminal de ônibus pouco depois das 15h00 (09h00 de Brasília), segundo testemunhas. O ataque não deixou feridos porque o local, alvo de ataques de morteiro na véspera, estava vazio.

Um veículo blindado e três caminhões com artilharia estavam nos arredores da estação rodoviária. Na saída de Lugansk, blindados rebeldes se dirigiam rumo a Donestk, de acordo com relatos de testemunhas.

As tropas de Kiev apertam o cerco a Donestk, depois de terem avançado esta semana para tomar posição a cerca de 20km da cidade.Segundo o autoproclamado primeiro-ministro da República Popular de Donetsk, Alexandre Borodai, mais de 70 mil dos 90 mil habitantes foram embora.

Na sexta, os trens que saíam da cidade estavam lotados, algo bastante comum apesar das circunstâncias, explicou um funcionário da companhia ferroviária.As saídas transcorreram com calma, sem pânico, mesmo diante da tensão e das longas filas para a compra de passagens.

Enquanto isso, os confrontos continuam em várias partes, incluindo no aeroporto de Donetsk, controlado pelas tropas de Kiev e alvo das forças separatistas.O ataque mais letal ocorreu na manhã de sexta-feira em Rovenki, na região de Lugansk, onde 19 soldados haviam sido mortos em ataques com foguetes Grad.

Outros quatro soldados morreram na zona de conflito entre quinta e sexta-feira, e a morte de outros sete foi anunciada neste sábado, elevando para 30 o número de mortos em 48 horas em meio às forças de Kiev.

O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou hoje para o presidente Poroshenko para apresentar suas condolências pela morte dos 23 soldados na sexta.No telefonema, "o presidente Poroshenko informou o vice-presidente (Biden) sobre os últimos ataques cometidos pelos separatistas, que utilizam armas pesadas contra as forças ucranianas", anunciou a Casa Branca em um comunicado.Biden "expressou suas condolências por essas perdas de vidas humanas", assim como seu "apoio aos esforços do presidente Poroshenko para organizar uma reunião com o objetivo de discutir um possível cessar-fogo com os separatistas", acrescentou o texto.

Incidente na fronteira russa

Apesar dos contatos entre ucranianos, ocidentais e russos, a diplomacia não parece surtir efeito. Kiev resiste às pressões europeias e russas e se nega a considerar um cessar-fogo, enquanto os rebeldes não aceitarem suas condições - ou seja, ceder o controle da fronteira com a Rússia e libertar todos os "reféns".

O presidente Petro Poroshenko terá a oportunidade de tratar do tema com o presidente russo, Vladimir Putin, neste domingo no Brasil. Ambos os líderes participarão de um almoço, a convite da presidente Dilma Rousseff, pela final da Copa do Mundo.

Neste sábado, Moscou e Kiev trocaram acusações sobre disparos efetuados perto da fronteira. A Rússia anunciou que "se reserva o direito" de defender seu território por todos os meios. Já um porta-voz ucraniano mencionou a presença de tropas russas a 3 km da fronteira. O assessor alerta que as forças de Moscou podem estar neste local para abrir um corredor que permita a passagem de "mercenários e material" para os rebeldes na Ucrânia.

O governo ucraniano também denunciou um ataque com morteiros cometido na noite de sexta-feira da localidade russa de Kuibichevsk contra seu posto fronteiriço de Marynivka, na região de Donetsk. Kiev classificou o ataque de "provocação escandalosa".

Também neste sábado, a União Europeia incluiu as principais autoridades das autoproclamadas Repúblicas de Donetsk e Lugansk em uma lista negra de ucranianos pró-russos alvos de sanções por seu envolvimento no conflito.

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