Agência France-Presse
postado em 17/07/2014 17:23
Paris - Durante mais de três décadas, cientistas que combatem a Aids registraram avanços e retrocessos. A 20; conferência internacional sobre a doença, que se inicia este domingo em Melbourne, Austrália, permitirá prosseguir lidando com o mal, ainda mortal. Há vários anos, as notícias têm sido boas, com um declínio da mortalidade e menos infecções, resultantes do intenso trabalho nos laboratórios e dos bilhões de dólares investidos.
Os tratamentos contra o HIV estão alcançando um número cada vez maior de pacientes e contam, entre as descobertas farmacêuticas mais importantes da História. Também estão avançando para a forma de evitar o contágio com o vírus da Aids e não só seu tratamento. Neste sentido, existe uma campanha para promover a circuncisão na África subsaariana como forma de evitar a transmissão da doença nestas populações.
"Hoje em dia é fácil esquecer onde estávamos há 30 anos, com clínicas saturadas, fundos escassos e uma compreensão muito menor do HIV", disse à AFP Michel Sidibe, chefe do programa da ONU contra a doença, a ONUAids. Na América Latina havia 1,6 milhão de soropositivos em 2013 (60% deles, homens) e o número de novos infectados se manteve quase estagnado, com um recuo de apenas 3% entre 2005 e 2013.
No Brasil, o país da região com o maior número de infectados, a quantidade de novos casos subiu 11%. "A epidemia de Aids devastou famílias, comunidades e teve um impacto importante em países onde a epidemia está arraigada. Mas durante os últimos 15 anos, houve avanços notáveis e passamos do desespero à esperança", acrescentou. No entanto, na imprevisível sucessão de avanços e retrocessos, a euforia foi ofuscada por uma decepção importante.
O caminho que parecia levar para a meta de uma cura do HIV agora parece estar em ponto morto. A esperança tinha surgido do caso de uma menina nos Estados Unidos, conhecida anonimamente como "a menina do Mississippi", nascida com HIV, filha de uma mãe infectada e que não tinha sido tratada.
A criança tinha recebido, ao nascer, fortes doses de medicamentos durante 18 meses, antes de os médicos perderem seu rastro. Cinco meses depois, os médicos não conseguiram encontrar rastros do vírus, uma descoberta assombrosa, já que o vírus da deficiência imunológica (HIV) invariavelmente aumenta menos de um mês depois de suspenso o tratamento.
Na semana passada, no entanto, descobriu-se que depois que a menina viveu 27 meses sem HIV, nem medicamentos, o vírus voltou a aparecer. Longe de estar curada, a "menina de Mississippi" voltou a receber o tratamento, que consiste em uma dose diária que ela precisa tomar por toda a vida.
"O anúncio obviamente foi decepcionante para todos nós", disse Sharon Lewin, pesquisador da Universidade Monash de Melbourne, que copresidirá a conferência de seis dias. "O vírus nos lembrou que encontrar a cura para o HIV ou uma forma de conseguir com que fique em remissão de longo prazo será uma tarefa difícil", acrescentou.
"Por que o vírus permaneceu sob controle durante tanto tempo e por que voltou depois de dois anos de tratamento antirretroviral são perguntas que deveremos responder", prosseguiu.
- Homofobia e política repressivas -
Organizada a cada dois anos, a conferência internacional sobre a Aids é uma forma de colocar o foco sobre os problemas de financiamento da pesquisa. Aos 12 mil participantes se somará, este ano, uma dupla de ativistas famosos: o ex-presidente americano Bill Clinton e o cantor de rock Bob Geldof.
A conferência também abordará os debates sobre as leis que estigmatizam a homossexualidade na África e na antiga União Soviética, que penaliza os usuários de drogas intravenosas, uma prática agora estendida à Crimeia anexada pela Rússia. Foi demonstrado que, quando as pessoas com HIV são marginalizadas, a doença se expande, disse Chris Beyrer, professor da escola de medicina John Hopkins Bloomberg.
"Apesar de todos os nossos avanços científicos, a novidade em 2014 é que em muitos países há uma onda de leis novas e políticas repressivas", disse Beyrer em coletiva de imprensa prévia à conferência. A prêmio Nobel Françoise Barre-Sinoussi, uma das descobridoras do HIV, disse que "a todos nos afeta a homofobia, as medidas repressivas e a falta de vontade política no campo de cuidados e tratamentos. Temos que pressionar o quanto possível os tomadores de decisão nestes países e conseguir que respeitem os direitos humanos ali".
Os tratamentos contra o HIV estão alcançando um número cada vez maior de pacientes e contam, entre as descobertas farmacêuticas mais importantes da História. Também estão avançando para a forma de evitar o contágio com o vírus da Aids e não só seu tratamento. Neste sentido, existe uma campanha para promover a circuncisão na África subsaariana como forma de evitar a transmissão da doença nestas populações.
"Hoje em dia é fácil esquecer onde estávamos há 30 anos, com clínicas saturadas, fundos escassos e uma compreensão muito menor do HIV", disse à AFP Michel Sidibe, chefe do programa da ONU contra a doença, a ONUAids. Na América Latina havia 1,6 milhão de soropositivos em 2013 (60% deles, homens) e o número de novos infectados se manteve quase estagnado, com um recuo de apenas 3% entre 2005 e 2013.
No Brasil, o país da região com o maior número de infectados, a quantidade de novos casos subiu 11%. "A epidemia de Aids devastou famílias, comunidades e teve um impacto importante em países onde a epidemia está arraigada. Mas durante os últimos 15 anos, houve avanços notáveis e passamos do desespero à esperança", acrescentou. No entanto, na imprevisível sucessão de avanços e retrocessos, a euforia foi ofuscada por uma decepção importante.
O caminho que parecia levar para a meta de uma cura do HIV agora parece estar em ponto morto. A esperança tinha surgido do caso de uma menina nos Estados Unidos, conhecida anonimamente como "a menina do Mississippi", nascida com HIV, filha de uma mãe infectada e que não tinha sido tratada.
A criança tinha recebido, ao nascer, fortes doses de medicamentos durante 18 meses, antes de os médicos perderem seu rastro. Cinco meses depois, os médicos não conseguiram encontrar rastros do vírus, uma descoberta assombrosa, já que o vírus da deficiência imunológica (HIV) invariavelmente aumenta menos de um mês depois de suspenso o tratamento.
Na semana passada, no entanto, descobriu-se que depois que a menina viveu 27 meses sem HIV, nem medicamentos, o vírus voltou a aparecer. Longe de estar curada, a "menina de Mississippi" voltou a receber o tratamento, que consiste em uma dose diária que ela precisa tomar por toda a vida.
"O anúncio obviamente foi decepcionante para todos nós", disse Sharon Lewin, pesquisador da Universidade Monash de Melbourne, que copresidirá a conferência de seis dias. "O vírus nos lembrou que encontrar a cura para o HIV ou uma forma de conseguir com que fique em remissão de longo prazo será uma tarefa difícil", acrescentou.
"Por que o vírus permaneceu sob controle durante tanto tempo e por que voltou depois de dois anos de tratamento antirretroviral são perguntas que deveremos responder", prosseguiu.
- Homofobia e política repressivas -
Organizada a cada dois anos, a conferência internacional sobre a Aids é uma forma de colocar o foco sobre os problemas de financiamento da pesquisa. Aos 12 mil participantes se somará, este ano, uma dupla de ativistas famosos: o ex-presidente americano Bill Clinton e o cantor de rock Bob Geldof.
A conferência também abordará os debates sobre as leis que estigmatizam a homossexualidade na África e na antiga União Soviética, que penaliza os usuários de drogas intravenosas, uma prática agora estendida à Crimeia anexada pela Rússia. Foi demonstrado que, quando as pessoas com HIV são marginalizadas, a doença se expande, disse Chris Beyrer, professor da escola de medicina John Hopkins Bloomberg.
"Apesar de todos os nossos avanços científicos, a novidade em 2014 é que em muitos países há uma onda de leis novas e políticas repressivas", disse Beyrer em coletiva de imprensa prévia à conferência. A prêmio Nobel Françoise Barre-Sinoussi, uma das descobridoras do HIV, disse que "a todos nos afeta a homofobia, as medidas repressivas e a falta de vontade política no campo de cuidados e tratamentos. Temos que pressionar o quanto possível os tomadores de decisão nestes países e conseguir que respeitem os direitos humanos ali".