Agência France-Presse
postado em 26/07/2014 18:27
Gaza - Israel aprovou na noite deste sábado uma extensão de 24 horas - até a meia-noite de domingo - da trégua humanitária na Faixa de Gaza, a pedido das Nações Unidas, mas o movimento palestino Hamas rejeitou a medida e manteve os disparos de foguetes contra o território israelense.O gabinete de Segurança "aprovou a solicitação das Nações Unidas sobre uma trégua humanitária válida até a meia-noite de domingo", revelou um alto funcionário israelense, que pediu para não ser identificado.
O Exército "prosseguirá com suas operações contra os túneis", destacou o funcionário, acrescentando que o cessar-fogo envolve a suspensão dos ataques aéreos, marítimos e terrestre, mas com a manutenção das tropas israelenses no terreno.
O porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum, rejeitou a extensão do cessar-fogo afirmando que "qualquer trégua humanitária não terá valor sem a retirada dos tanques israelenses da Faixa de Gaza, sem que seus habitantes possam voltar as suas casas e sem que as ambulâncias transportando os corpos possam circular livremente".
Segundo o Exército hebreu, o Hamas violou o primeiro período de cessar-fogo (mesmo antes da extensão) com disparos de foguetes e tiros de morteiro a partir da Faixa de Gaza. "Os terroristas escolheram utilizar a janela humanitária em Gaza" para atacar.
As Brigadas Ezzedine al-Qassam - braço armado do Hamas - confirmaram os disparos de foguetes contra o sul de Israel e Tel Aviv.
Em resposta, a artilharia israelense abriu fogo contra o setor de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, de onde partiram os foguetes", informou à AFP um oficial hebreu.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia pedido neste sábado "às partes a extensão da trégua humanitária por mais sete dias".
Em Paris, em uma reunião internacional para buscar uma trégua duradoura, os chefes da diplomacia de Estados Unidos, Catar, Turquia e de outros países europeus pediram a extensão do cessar-fogo, que a princípio seria de 24 horas. Eles também apelaram por uma trégua duradoura o mais rápido possível, que responda às necessidades legítimas de israelenses e palestinos.
Mais de 1.000 palestinos, em sua grande maioria civis, morreram e outros 6.000 ficaram feridos desde o início da ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, no dia 8 de julho.
Israel perdeu 42 soldados. Os foguetes lançados de Gaza também mataram dois civis israelenses e um trabalhador tailandês no território de Israel. As últimas baixas fatais foram o capitão Liad lavi, 22 anos, e o sargento Rami Chalon, 39, ambos da Infantaria, que estavam hospitalizados em estado crítico.
Há 138 militares israelenses hospitalizados, sendo sete em estado grave.
Os habitantes da Faixa de Gaza expulsos de seus lares pela violência aproveitaram a frágil trégua para voltar aos seus bairros, onde viram cenas de desolação: casas destruídas, corpos enegrecidos em meio às ruínas e poças de sangue sobre as marcas dos tanques israelenses.
Em meio à trégua, as equipes de emergência palestinas já encontraram 147 corpos, sendo 29 no leste de Gaza, 13 nos campos de refugiados de Deir al-Balah, Bureij e Nousseirat, 32 e Beit Hanoun (norte) e 11 em Khan Yunis e Rafah (sul).
No setor de Beit Hanun, correspondentes da AFP viram o corpo de um socorrista do Crescente Vermelho em um hospital parcialmente destruído por um bombardeio israelense.
Medo das bombas
O Hamas desaconselhou os deslocados pelo conflito - mais de 160.000, segundo a ONU - a se aproximar dos imóveis bombardeados e das zonas de combate pela possível presença de artefatos não ativados.
"Temos medo de abrir uma porta e encontrar uma bomba", declarou Khader Sukar, um morador de Shejaiya, um subúrbio da cidade de Gaza duramente bombardeado.
Os cerca de 1,8 milhão de palestinos da Faixa de Gaza, enclave pobre e superpovoado de 362 km2 submetido a um bloqueio israelense desde 2006, se apressaram para comprar suprimentos e combustível.
Antes do início da trégua, 20 palestinos, 16 deles membros de uma mesma família, incluindo mulheres e crianças, morreram em um ataque aéreo de Israel contra Khan Yunes (sul), segundo fontes locais.
O conflito em Gaza, o quarto desde que o Exército israelense se retirou deste território, em 2005, também atinge a Cisjordânia ocupada, palco de violentos combates.
As tropas israelenses mataram na noite de sexta-feira dois palestinos, de 16 e 18 anos, durante protestos. Em 24 horas, uma dezena de palestinos morreram na Cisjordânia.
Levantamento do bloqueio?
Para tentar colocar fim ao derramamento de sangue, vários chefes da diplomacia de diversos países, entre eles o americano John Kerry, participaram de uma breve reunião internacional em Paris, que não fez nenhum anúncio concreto, além de pedir o prolongamento do cessar-fogo.
"Qualquer intervenção regional ou internacional que detenha a agressão (israelense) e levante o bloqueio de Gaza é bem-vinda", declarou à AFP um porta-voz do Hamas, Fawzi Barhum.
O levantamento do bloqueio israelense é uma das exigências do Hamas para alcançar qualquer acordo, depois de rejeitar a proposta de trégua egípcia.
Por sua vez, o governo israelense, que considera que as propostas favorecem o Hamas, está disposto a aceitar tréguas humanitárias desde que seu Exército possa continuar com a destruição dos túneis do movimento islamita palestino para evitar o lançamento de foguetes contra seu território, segundo um funcionário israelense de alto escalão citado pela rádio pública.
Protestos pró-palestinos
Em Paris, a polícia prendeu cerca de 70 pessoas neste sábado durante uma manifestação pró-Palestina, que reuniu milhares e desafiou a proibição imposta pelo governo para evitar distúrbios e demonstrações antissemitas.
Os distúrbios duraram uma hora e meia, no centro da capital francesa, e segundo o ministério do Interior, das 70 pessoas detidas, 40 estão em prisão preventiva.
Doze policias ficaram levemente feridos nos confrontos.
Gritando "Israel assassino, Hollande cúmplice" e "todos somos palestinos", mais de 10.000 manifestantes se reuniram em uma praça do centro de Paris, acompanhados por um forte dispositivo policial.
Em Tel Aviv, milhares de israelenses protestaram na noite deste sábado contra a operação militar na Faixa de Gaza.
A manifestação, organizada por grupos de esquerda, foi a mais importante contra a ofensiva desde o início dos ataques, no dia 8 de julho passado.
Os manifestantes se concentraram na praça Yitzhak Rabin, apesar da proibição da polícia "por razões de segurança", especialmente diante do risco da queda de foguetes disparados da Faixa de Gaza.
A multidão exibiu numerosos cartazes com os dizeres: "Há outro caminho que a guerra", "Liberdade para Gaza" e "Parem a guerra de ocupação".