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Gaza: apesar das bombas e dos mortos, uma esperança de trégua se mantém

Dois lados em conflito prometeram um compromisso de uma trégua humanitária



Em uma rara declaração divulgada pela rádio e pela televisão do Hamas, Mohammad Deif, chefe das Brigadas Ezzedine al-Qassam - braço armado do movimento palestino -, lembrou a posição de sua organização: não haverá trégua "sem o fim da agressão e a suspensão do cerco", referindo-se ao bloqueio israelense imposto desde 2006 ao enclave palestino.

De acordo com o secretário-geral da OLP, Yasser Abed Rabbo, "a direção palestina decidiu com o Hamas e a Jihad Islâmica enviar uma delegação (...) ao Cairo para discutir o futuro". "É uma prova de que temos uma posição comum", insistiu Abed Rabbo. A OLP e o Hamas selaram sua reconciliação em abril.

A delegação palestina aguarda um convite oficial do Egito antes de partir para o Cairo, segundo fontes palestinas.



Gaza sem energia elétrica

Mas a situação ainda é complicada. Nos últimos dias, vários anúncios de trégua, feitos pelo Hamas e por Israel, não permitiram o fim das hostilidades. O movimento radical palestino rejeitou na semana passada um projeto de cessar-fogo proposto pelo Egito, que no passado serviu em várias oportunidades de intermediário entre palestinos e israelenses.

De acordo com o Exército de Israel, cerca de sessenta foguetes foram disparados nesta terça a partir de Gaza. Durante a noite, as sirenes soaram perto de Jerusalém e um foguete foi interceptado 30 km a sudoeste da cidade. A Faixa de Gaza teve nesta terça um novo dia sangrento, com mais de cem mortos em um conflito devastador que entra em sua quarta semana.

Após uma efêmera trégua na segunda-feira, no início da festa do Fitr que marca os últimos dias do Ramadã, um dilúvio de fogo atingiu de norte a sul o estreito enclave palestino. Os ataques eram mantidos na madrugada de quarta-feira.

[SAIBAMAIS]"De repente, mísseis caíram como chuva", contou Mohamed al-Dalo, um morador de Gaza. "Nós deixamos nossas casas, alguns correndo em uma direção, outros para outra (...) As pessoas gritavam: Saiam"

Em um episódio de violência registrado durante a noite, pelo menos 13 palestinos morreram atingidos por disparos de tanques israelenses no campo de refugiados de Jabalyia, norte da Faixa de Gaza, de acordo com o chefe dos serviços de socorro palestinos, Ashraf al-Qudra.

A ofensiva israelense iniciada em 8 de julho matou, de acordo com os serviços de emergência locais, mais de 1.200 palestinos - cerca de 70% civis, segundo a ONU. Entre as vítimas, há 239 crianças, de acordo com o Unicef.

Os bombardeios desta terça foram os mais violentos em dias, segundo um jornalista da AFP. Todas as partes foram atacadas: Cidade de Gaza, o campo de Bureij (centro), Jabaliya (norte) e a região de Rafah (sul).

A única central elétrica do território foi bombardeada. A usina garante normalmente 30% das necessidades em energia elétrica. Quase todo o enclave mergulhou na escuridão ao anoitecer.

;Desmilitarizar Gaza;

Mas se um acordo por uma pausa nos combates pode ser atingido, um entendimento mais amplo permanece distante. O Hamas exige a retirada do bloqueio, que asfixia esta faixa de terra de 40 por 10 km onde vivem cerca de 1,8 milhão de pessoas.

Quanto às autoridades israelenses, elas reiteraram que, enquanto o poderio de fogo do Hamas não for eliminado, suas forças não deixarão o território de onde tinham se retirado unilateralmente em 2005 antes de retornarem em 17 de julho.

Cinquenta e três soldados israelenses morreram desde o início da operação "Barreira Protetora", em 8 de julho, o registro mais pesado desde e guerra contra o Hezbollah libanês em 2006. O Exército ainda não atingiu o seu objetivo de "desmilitarização de Gaza" e de destruir o arsenal de foguetes e os túneis do Hamas.

Quatro soldados foram mortos na segunda-feira por um comando palestino que conseguiu penetrar em território israelense. Nesta quinta, o Exército indicou ter eliminado cinco "terroristas" em um túnel na Faixa de Gaza.

O governo de Benjamin Netanyahu enfrenta uma forte pressão de sua opinião pública, muito sensível à questão dos túneis e que, com base nas últimas pesquisas, é fortemente favorável à manutenção das operações militares.