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Israel e Hamas aceitam trégua de 72 horas na Faixa de Gaza, diz Kerry

Secretário de Estado, acrescentou que Israel manterá suas operações "defensivas" contra os túneis do Hamas durante a trégua humanitária

Agência France-Presse
postado em 01/08/2014 08:15
Soldados israelenses ficar em um veículo blindado (APC) fora do centro da Faixa de Gaza, pois o fogo de morteiro para Gaza antes de um cessar-fogo

Nova Délhi -
Israel e o Hamas acertaram uma trégua de 72 horas na Faixa de Gaza, informou na manhã desta sexta-feira (1;/8) o secretário-americano de Estado, John Kerry, em Nova Délhi. Kerry, que visita a Índia, revelou que os dois lados observarão o cessar-fogo a partir das 08h00 local (02h00 de Brasília) desta sexta, quando iniciarão as negociações no Cairo.

O porta-voz Fawzi Barhoum confirmou que "o Hamas e todos os movimentos da Resistência (palestina) aceitaram o cessar-fogo humanitário de 72 horas a partir das 08h00, que será respeitado por todos os movimentos se a outra parte (Israel) assim o fizer".

Um funcionário ligado ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, informou "o aval do gabinete de segurança e do ministério da Defesa à proposta dos Estados Unidos e da ONU para uma trégua humanitária que começará às 08H00".

Segundo Kerry, "este cessar-fogo é fundamental para permitir aos civis inocentes um alívio muito necessário em meio à violência". "Durante este período, os civis na Faixa de Gaza receberão ajuda humanitária de emergência e terão a oportunidade de realizar funções vitais, como enterrar os mortos, cuidar dos feridos e se reabastecer de alimentos".

"Os reparos necessários nas infraestruturas de abastecimento de água e energia também poderão ser realizados neste período de trégua". O secretário de Estado destacou que realizava o anúncio do cessar-fogo conjuntamente com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também implicado na busca de uma solução para o conflito.

Kerry acrescentou que Israel manterá suas operações "defensivas" contra os túneis do Hamas durante a trégua humanitária com operações "atrás de suas linhas" definidas durante o conflito.

Uma autoridade palestina na Faixa de Gaza, que pediu para não ser identificada, disse à AFP que uma delegação de negociadores palestinos seguirá na manhã de sexta-feira para o Cairo, após o início do cessar-fogo, "para discutir uma trégua e colocar as demandas de todas as facções palestinas sobre a mesa".

A delegação será integrada por lideranças da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) - incluindo Saeb Erakat e Azzam al-Ahmad -, membros da cúpula política do Hamas - entre eles Khalil al-Haya e Imad al-Alami - e o líder da Jihad Islâmica na Faixa de Gaza, Khaled el-Batsh. Frank Lowenstein, emissário americano para o Oriente Médio, confirmou que israelenses e palestinos se encontrarão nesta sexta-feira, no Egito, para iniciar as discussões após a entrada em vigor do cessar-fogo.

Pressão internacional

A trégua ocorre após o Conselho de Segurança das Nações Unidas pedir um "cessar-fogo imediato e sem condições que leve a uma paralisação duradoura do conflito, com base na proposta egípcia" de mediação. Durante a reunião do Conselho, o chefe da Agência da ONU para a Ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA), Pierre Kr;henbühl, disse que a população na Faixa de Gaza está no limite.

Segundo Kr;henbühl, as condições de vida nos abrigos superpopulosos da ONU, que reúnem cerca de 220 mil pessoas, "são cada vez mais precárias", em uma situação sanitária deplorável e de riscos de epidemias. A diretora de Operações Humanitárias da ONU, Valerie Amos, lembrou "a obrigação absoluta" dos beligerantes de proteger ao máximo os civis e os trabalhadores humanitários. "A realidade em Gaza hoje é que nenhum lugar é seguro", lamentou, lembrando que 103 instalações da ONU haviam sido alvo de ataques desde o início do conflito.

O bombardeio, na quarta-feira, de uma escola da UNRWA no campo de refugiados de Jabaliya (norte da Faixa de Gaza), uma das 83 escolas da ONU usadas para abrigar os civis que fogem dos combates, foi energicamente condenado pelas Nações Unidas e por diversas capitais, incluindo Washington.

A Casa Branca disse ter poucas dúvidas de que o Exército israelense tenha sido o autor do ataque e voltou a pedir ao Estado hebreu que "faça mais" para proteger os civis. Apesar da pressão internacional, Netanyahu alertou nesta quinta que o Exército "vai terminar o trabalho" visando à destruição da capacidade militar do Hamas na Faixa de Gaza.

"Estamos determinados em concluir" a destruição dos túneis do Hamas "com ou sem cessar-fogo", afirmou Netanyahu no 24; dia de uma nova guerra devastadora, após o anúncio da mobilização de 16.000 reservistas adicionais -- elevando o total para 86.000 mobilizados -- e do fornecimento de munições americanas.

Campanha sangrenta

Desde o dia 8 de julho, quando Israel iniciou seus ataques, os serviços de emergência da Faixa de Gaza já computaram 1.450 palestinos mortos e 8.200 feridos, a ampla maioria civis. Durante a quinta-feira, o bombardeio israelense deixou 52 mortos, e outros 13 palestinos feridos faleceram.



Na noite de quinta, 14 pessoas foram mortas em um bombardeio contra uma casa no campo de refugiados de Nusseirat, no centro da Faixa de Gaza, informou o porta-voz dos serviços de emergência, Achraf al-Qudra.

Na manhã desta sexta-feira, oito palestinos foram mortos por disparos de tanques israelenses contra a cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, e uma mulher e duas crianças estão entre as vítimas, precisou Al-Qudra.

Ainda em Khan Yunis, a aviação de Israel matou seis palestinos esta manhã. Israel anunciou que "na quinta-feira cinco soldados foram mortos por um tiro de morteiro quando operavam ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza". No total, 61 soldados do Exército hebreu morreram desde o início dos combates, em 8 de julho.


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