Rodrigo Craveiro
postado em 05/08/2014 06:01
CARA A CARA
Roaa khaled Asad Zidan, 17 anos, palestina, moradora de Tal el hawa (Cidade de Gaza)
;Os israelenses destruíram casas de civis. Eu e minha família tivemos que abandonar nossa residência, duas semanas atrás. Agora, eu, meus pais e meus dois irmãos vivemos em um escritório, a uma rua do bairro de Tal el Hawa. Nós dormimos sobre um único cobertor. Algumas vezes não há espaço, então, eu me deito sobre duas cadeiras. Os israelenses ainda não explodiram nossa casa, mas ameaçaram nossos vizinhos. O que acontece aqui é uma questão de humanidade. Não se trata do Hamas, mas de 1.800 mortos. É um completo genocídio. Se eu sobreviver, quero escrever sobre como escapei.;
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Miriam Schwab, 37 anos, empresária, moradora de Jerusalém
;Nos anos 2000, quando homens-bomba explodiam em Jerusalém todos os dias, você tentava descobrir para onde não devia ir, como se proteger, mas jamais saberia. Eles tentaram explodir escolas e mesmo hospitais. Não foram bem-sucedidos. Tentaram detonar explosivos presos ao corpo em meio a festas de casamento. Para onde ir? Eu faço o que muitas pessoas fazem. Elas procuram ficar em casa o tanto que podem. Uma campanha de atentados não ocorre desde a operação Chumbo Fundido. É possível que essa situação na Faixa de Gaza leve os palestinos de Jerusalém Oriental a se rebelarem.;
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Três perguntas para:
Kenneth Roth, diretor geral da organização não governamental Human Rights Watch (HRW)
Que tipo de violações cometidas por soldados israelenses, nos
últimos dias, mais o chocaram?
Tem havido muitos exemplos de que os soldados israelenses demonstram não tomar cuidado adequado para proteger civis em Gaza, e estão mesmo operando de forma imprudente. Israel atacou três homens sobre uma motocicleta quando passavam diante de uma escola da ONU repleta de refugiados, matando 10, em vez de aguardar um ponto mais adiante. Também disparou uma chuva de artilharia pesada de 155mm sobre outra escola. Tal artilharia jamais deveria ser usada em áreas populosas, porque não pode ser usada com precisão em um raio de mais de 50m, além de ter um efeito de explosão e de fragmentação de até 300m. Israel também atacou militantes em suas casas (em um caso, matando 25 pessoas que obedeciam à quebra do jejum do Ramadã) e em cafés (matando nove que assistiam a uma partida da Copa do Mundo). Israel também alertou civis a fugir de uma cidade, então disparou e matou vários deles. Todos eles são crimes de guerra. Enquanto isso, o Hamas continua a cometer os mesmos crimes ao lançar foguetes, de modo indiscriminado, contra áreas populosas de Israel.
O que a HRW pretende fazer para punir os autores desses crimes?
Tanto Israel quanto o Hamas têm um registro abismal de trazer os criminosos de guerra à Justiça. Por isso, precisamos do Tribunal Penal Internacional (TPI). Agora que a Palestina é reconhecida pela ONU como um Estado, ela poderia se unir ao TPI ou invocar sua jurisdição, mas tem adotado a abstenção, por causa da enorme e vergonhosa pressão dos Estados Unidos e de governos europeus.
Um novo cessar-fogo deve começar nesta terça-feira. Como o senhor vê isso?
A HRW vai continuar a investigar a conduta de ambos os lados do conflito, havendo ou não um cessar-fogo. É óbvio que uma trégua tornará o trabalho mais fácil. Mas, o mais importante, ele pode deter o banho de sangue ; caso se sustentar. A longo prazo, eu suspeito que não haverá um cessar-fogo duradoura sem algum progresso sobre as duas mais importantes demandas de cada lado: o fim dos ataques de foguetes do Hamas e a suspensão de um bloqueio que, além de legitimamente tentar bloquear o fluxo de armas, prejudica a economia de Gaza e equivale a uma punição coletiva em larga escala.