Agência France-Presse
postado em 06/08/2014 16:47
Buenos Aires - Após 36 anos de buscas, Estela de Carlotto, presidente da organização humanitária argentina Avós da Praça de Maio, encontrou Guido, um homem com dúvidas sobre sua origem que se submeteu voluntariamente a exames de DNA que provaram que era seu neto.
Nesta quarta-feira a Argentina despertou em meio à comoção, expressada na primeira página dos jornais, em comentários de rádio e televisão com a notícia que tem como protagonistas a reconhecida ;avó; Carlotto, de 83 anos, mãe de Laura, e Hortensia Ardua, de 91 anos, mãe de Walmis Oscar. Laura e Walmis são os pais de Guido, assassinado quando ele era um recém-nascido em 1978 durante a ditadura argentina (1976-83).
"É igualzinho ao pai, não pode negar que seja filho do meu filho", disse Ardua na manhã desta quarta-feira, entrevistada pela rádio Red na província patagônica de Santa Cruz.
"Vê-lo foi como ver meu filho, porque os dois são uma cópia. Emociona saber que é nosso. Quero vê-lo, abraçá-lo, saber que é meu neto", declarou Ardua sem poder conter as lágrimas ao descrever como soube na terça-feira por seu filho Jorge da localização do neto.
Carlotto comoveu o país na terça-feira ao confirmar a recuperação de seu neto Guido, um músico criado sob o nome de Ignacio Hurban, em uma coletiva de imprensa onde se viu uma mulher feliz. "Agradeço a todos, a Deus, à vida, porque eu não queria morrer sem abraçá-lo", declarou Carlotto na sede da organização que preside desde o fim da década de 80 e que já encontrou outros 113 netos desaparecidos durante a ditadura.
Nesta quarta-feira ela declarou lutará para recuperar os netos que faltam. "Não, não termina aqui, seguirei na luta. Vou seguir na ;Avós; para buscar todos os que faltam", prometeu a ativista referindo-se às quase 400 pessoas - netos - que não foram encontrados.
"É um dia crucial. Ainda estou em outro mundo, como se estivesse sonhando", declarou a dezenas de jornalistas que a esperavam na porta de sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
Em relação ao esperado reencontro com o neto, Carlotto revelou que ainda não conversaram por telefone e que o reencontro irá ocorrer quando ele estiver preparado.
"Não quero forçar nenhuma situação", disse emocionada ao contar que quando ele falou na terça-feira com um de seus filhos, perguntou "Como está Estela?". "Vê-se que é um jovem excepcional", disse.
"Não falei por telefone com ele porque não quero forçar nenhuma situação. Meu neto está bem. Falou durante o dia de ontem várias vezes com Claudia (sua filha) e disse que virá em breve. Vamos nos conhecer", declarou.
Esta mulher jovial de 83 anos, cercada por seus três filhos, 14 netos e dois bisnetos, além de companheiras de luta e vários netos localizados pela entidade humanitária, disse ainda que "Laura sorri do céu", ao lembrar sua filha, uma militante "montonera" - a guerrilha de esquerda dos anos 70 - que estava grávida de três meses quando foi sequestrada e levada a um centro de tortura da ditadura.
Após dar à luz em condições desumanas a Guido, o neto identificado na terça-feira, no dia 26 de junho de 1978, Laura foi assassinada e seu corpo foi entregue mais tarde a sua mãe, que o exigia.
À espera do encontro
"Ainda estou meio que sonhando", disse Carlotto esta quarta-feira a jornalistas que a aguardavam em frente à sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
Embora ela não tenha querido revelar a data do encontro porque não quer "forçar nenhuma situação", seu filho, o deputado governista Remo Carlotto, disse que a família se encontrará com o neto à tarde em La Plata.
No entanto, uma fonte da entidade informou à AFP que o encontro "será estritamente familiar" e não será divulgado local ou data.
Sou o neto de Estela
O músico Guido Carlotto, que participou de atos da organização humanitária de sua avó, se apresentou há apenas um mês voluntariamente para fazer um teste genético e tirar dúvidas sobre sua identidade.
Quando ainda não suspeitava de sua verdadeira identidade, o jazzista que mora em Olavarría, 350 km ao sudoeste de Buenos Aires, escreveu uma canção intitulada "Para la Memoria", dedicada ao tema dos desaparecidos na Argentina.
"Sou o neto de Estela de Carlotto", teria confessado na terça-feira ao pianista de seu grupo, um de seus amigos mais íntimos.
"Ele estava calmo. O que preocupava ;Pacho; - como é chamado - é como a notícia afetaria seus pais, os que o criaram, porque saberiam da novidade pela televisão", indicou.
Governo argentino comemora
Integrantes do governo argentino comemoraram a recuperação do jovem. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, destacou o trabalho da organização presidida por Estela de Carlotto.
"Temos um respeito e consideração especial por sua extensa luta, nos foi gerado um sentimento muito profundo de reconhecimento não apenas a sua luta, mas a esta conquista que é extraordinária para todos os netos recuperados", declarou Capitanich em uma coletiva de imprensa na Casa de Governo.
"Este encontro é muito profundo e tem relação com a reivindicação de uma luta histórica que envolve todos os argentinos em relação à memória, à verdade e à justiça, mas, sobretudo, a um sentimento extraordinário que ficará gravado na memória de todos os argentinos", acrescentou Capitanich.
Na terça-feira, a notícia foi comemorada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, que telefonou para Carlotto e chorou com ela, contou a líder das Avós.
"A Argentina é um país um pouco mais justo que ontem", escreveu no Twitter mais tarde a presidente.
Nesta quarta-feira a Argentina despertou em meio à comoção, expressada na primeira página dos jornais, em comentários de rádio e televisão com a notícia que tem como protagonistas a reconhecida ;avó; Carlotto, de 83 anos, mãe de Laura, e Hortensia Ardua, de 91 anos, mãe de Walmis Oscar. Laura e Walmis são os pais de Guido, assassinado quando ele era um recém-nascido em 1978 durante a ditadura argentina (1976-83).
"É igualzinho ao pai, não pode negar que seja filho do meu filho", disse Ardua na manhã desta quarta-feira, entrevistada pela rádio Red na província patagônica de Santa Cruz.
"Vê-lo foi como ver meu filho, porque os dois são uma cópia. Emociona saber que é nosso. Quero vê-lo, abraçá-lo, saber que é meu neto", declarou Ardua sem poder conter as lágrimas ao descrever como soube na terça-feira por seu filho Jorge da localização do neto.
Carlotto comoveu o país na terça-feira ao confirmar a recuperação de seu neto Guido, um músico criado sob o nome de Ignacio Hurban, em uma coletiva de imprensa onde se viu uma mulher feliz. "Agradeço a todos, a Deus, à vida, porque eu não queria morrer sem abraçá-lo", declarou Carlotto na sede da organização que preside desde o fim da década de 80 e que já encontrou outros 113 netos desaparecidos durante a ditadura.
Nesta quarta-feira ela declarou lutará para recuperar os netos que faltam. "Não, não termina aqui, seguirei na luta. Vou seguir na ;Avós; para buscar todos os que faltam", prometeu a ativista referindo-se às quase 400 pessoas - netos - que não foram encontrados.
"É um dia crucial. Ainda estou em outro mundo, como se estivesse sonhando", declarou a dezenas de jornalistas que a esperavam na porta de sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
Em relação ao esperado reencontro com o neto, Carlotto revelou que ainda não conversaram por telefone e que o reencontro irá ocorrer quando ele estiver preparado.
"Não quero forçar nenhuma situação", disse emocionada ao contar que quando ele falou na terça-feira com um de seus filhos, perguntou "Como está Estela?". "Vê-se que é um jovem excepcional", disse.
"Não falei por telefone com ele porque não quero forçar nenhuma situação. Meu neto está bem. Falou durante o dia de ontem várias vezes com Claudia (sua filha) e disse que virá em breve. Vamos nos conhecer", declarou.
Esta mulher jovial de 83 anos, cercada por seus três filhos, 14 netos e dois bisnetos, além de companheiras de luta e vários netos localizados pela entidade humanitária, disse ainda que "Laura sorri do céu", ao lembrar sua filha, uma militante "montonera" - a guerrilha de esquerda dos anos 70 - que estava grávida de três meses quando foi sequestrada e levada a um centro de tortura da ditadura.
Após dar à luz em condições desumanas a Guido, o neto identificado na terça-feira, no dia 26 de junho de 1978, Laura foi assassinada e seu corpo foi entregue mais tarde a sua mãe, que o exigia.
À espera do encontro
"Ainda estou meio que sonhando", disse Carlotto esta quarta-feira a jornalistas que a aguardavam em frente à sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
Embora ela não tenha querido revelar a data do encontro porque não quer "forçar nenhuma situação", seu filho, o deputado governista Remo Carlotto, disse que a família se encontrará com o neto à tarde em La Plata.
No entanto, uma fonte da entidade informou à AFP que o encontro "será estritamente familiar" e não será divulgado local ou data.
Sou o neto de Estela
O músico Guido Carlotto, que participou de atos da organização humanitária de sua avó, se apresentou há apenas um mês voluntariamente para fazer um teste genético e tirar dúvidas sobre sua identidade.
Quando ainda não suspeitava de sua verdadeira identidade, o jazzista que mora em Olavarría, 350 km ao sudoeste de Buenos Aires, escreveu uma canção intitulada "Para la Memoria", dedicada ao tema dos desaparecidos na Argentina.
"Sou o neto de Estela de Carlotto", teria confessado na terça-feira ao pianista de seu grupo, um de seus amigos mais íntimos.
"Ele estava calmo. O que preocupava ;Pacho; - como é chamado - é como a notícia afetaria seus pais, os que o criaram, porque saberiam da novidade pela televisão", indicou.
Governo argentino comemora
Integrantes do governo argentino comemoraram a recuperação do jovem. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, destacou o trabalho da organização presidida por Estela de Carlotto.
"Temos um respeito e consideração especial por sua extensa luta, nos foi gerado um sentimento muito profundo de reconhecimento não apenas a sua luta, mas a esta conquista que é extraordinária para todos os netos recuperados", declarou Capitanich em uma coletiva de imprensa na Casa de Governo.
"Este encontro é muito profundo e tem relação com a reivindicação de uma luta histórica que envolve todos os argentinos em relação à memória, à verdade e à justiça, mas, sobretudo, a um sentimento extraordinário que ficará gravado na memória de todos os argentinos", acrescentou Capitanich.
Na terça-feira, a notícia foi comemorada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, que telefonou para Carlotto e chorou com ela, contou a líder das Avós.
"A Argentina é um país um pouco mais justo que ontem", escreveu no Twitter mais tarde a presidente.