Agência France-Presse
postado em 10/08/2014 15:15
Ancara - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, era apontado neste domingo como vencedor das eleições presidenciais já no primeiro turno, estendendo por cinco anos sua presença no comando do país, apesar das advertências de autoritarismo. Segundo resultados parciais, com três quartos dos votos apurados, Erdogan vencia com 52% dos votos as eleições, realizadas pela primeira vez por voto universal direto.
O candidato dos dois principais partidos de oposição, Ekmeleddin Ihsanoglu, um acadêmico renomado de 70 anos, ex-chefe da Organização da Cooperação Islâmica (OCI), teve 39% dos votos, enquanto Selahattin Demirtas, da minoria curda do país, candidato do Partido Democrático Popular (HDP), teve 9%.
[SAIBAMAIS]Se a vitória for confirmada, será um êxito pessoal de Erdogan, no poder desde 2003, que se uniria ao fundador da Turquia moderna e laica, Mustafa Kemal Atatürk, entre os líderes mais emblemáticos do país. Obrigado a ceder a cadeira de primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2015, Erdogan já havia expressado o desejo de manter as rédeas do país desde a presidência, um cargo fundamentalmente simbólico.
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O primeiro-ministro, que falhou em 2013 em sua tentativa de instaurar um regime presidencial, havia deixado claro que usaria todos os poderes a seu alcance para reformar a Constituição e "presidencializar" o governo. "O presidente eleito e o governo eleito trabalharão lado a lado", insistiu hoje, ao votar em um colégio na parte asiática de Istambul. Como esperado, Erdogan venceu após uma campanha eleitoral marcada por seu carisma, o poder financeiro de seu partido, Justiça e Desenvolvimento (AKP), e sua influência nos meios de comunicação do país.
Este domingo, Ihsanoglu denunciou a "campanha injusta e desproporcional" do rival. O candidato dos curdos, um advogado de 41 anos dono de um sorriso fotogênico, não conseguiu somar votos além de sua comunidade, de 15 milhões de pessoas.
Acusações de despotismo
"Votei em Erdogan porque acredito que ele é o único capaz de comandar nosso país com correção", disse a enfermeira aposentada Zahide, 52, em uma seção eleitoral de Istambul. "Estou aqui para que Erdogan não possa ser eleito", protestou Melih Kocak, 40, ao deixar uma cabine eleitoral na capital. "Mas infelizmente, já sabemos que ele será presidente." Paradoxalmente, a vitória de Erdogan é anunciada após meses difíceis.
Em junho de 2013, milhões de turcos foram às ruas denunciar um giro autoritário e islamita do poder. A repressão severa a este movimento manchou a imagem do governo. No inverno passado, veio à tona um escândalo de corrupção sem precedentes. Erdogan denunciou, então, um complô de seu ex-aliado islamita e aprovou leis de controle da internet, gerando uma nova onda de críticas.
Ainda assim, Erdogan já havia vencido com vantagem as eleições locais de março, e mantém uma grande popularidade no país. Mas seu desejo de reforçar os poderes do presidente alimentaram as críticas e os alertas de "autocracia". "Por vários motivos, a principal dificuldade para Erdogan não é vencer as eleições presidenciais, e sim enfrentar o que virá depois", considerou Ziya Meral, da Universidade britânica de Cambridge. "Seu futuro político depende, em grande parte, da forma como ele poderá manter seu poder sobre o AKP".