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Ucrânia pode aceitar comboio humanitário russo sob certas condições

Decisão de aceitar a ajuda foi tomada durante uma reunião entre o presidente, o primeiro-ministro e os representantes das forças de ordem ucranianas

Agência France-Presse
postado em 13/08/2014 13:17
Kiev - A Ucrânia está disposta a aceitar o comboio humanitário russo com destino ao reduto rebelde de Lugansk sob certas condições, em meio a combates que deixaram mais de 2 mil mortos em quatro meses de conflito entre as forças de Kiev e separatistas pró-russos.

"A ajuda a Lugansk deve passar por um posto na fronteira perto dessa cidade. Os agentes da alfândega, guardas e representantes da OSCE devem inspecionar o carregamento na fronteira russa. Só assim a missão manterá sua rota por território controlado pelos rebeldes. Quando estiverem em Lugansk, a ajuda deverá ser distribuída aos civis pela Cruz Vermelha", disse o porta-voz do presidente ucraniano, Sviatoslav Tsegolko.

"A decisão de aceitar a ajuda foi tomada durante a madrugada desta quarta-feira" durante uma reunião entre o presidente, o primeiro-ministro e os representantes das forças de ordem ucranianas", acrescentou.

Na segunda-feira, a Rússia havia anunciado o envio de 1.800 toneladas de ajuda à população assolada pelos combates na Ucrânia, em meio a uma crise humanitária cada vez mais grave. O número de mortos no conflito no leste da ex-república soviética dobrou em apenas duas semanas, chegando a um total de 2.086, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

Esse registro leva em conta as vítimas nas forças armadas, em grupos armados e na população civil. Em 26 de julho, o balanço estimado pelo Alto Comissariado era de 1.129 mortos. Em média, mais de 60 pessoas foram mortas ou ficaram feridas por dia no leste da Ucrânia desde meados de abril, quando Kiev lançou sua operação para combater os separatistas.

Mas, enquanto a tragédia para os civis se intensifica, o comboio humanitário russo de cerca de 300 camionhões ainda estava bloqueado nesta quarta no sul da Rússia em razão de uma disputa entre Moscou e Kiev sobre a distribuição da ajuda em território ucraniano.

A Ucrânia, como as potências ocidentais, suspeita que o comboio sirva de pretexto para uma eventual intervenção russa na Ucrânia. Este cenário é considerado "de absurdo" pelo Ministério russo das Relações Exteriores.

Durante uma conversa por telefone com o presidente ucraniano nesta quarta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, propôs que a ONU se juntasse à coordenação da missão humanitária russa junto com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

"O cinismo dos russos não tem limites. Primeiro nos entregam tanques, (lança-foguetes) Grad, terroristas e bandidos que matam ucranianos e depois nos enviam água e sal", havia dito pouco antes o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk. De acordo com Moscou, o comboio transporta mais alimentos, medicamentos e geradores para os moradores do leste da Ucrânia, que sofrem há quatro meses com o conflito entre separatistas pró-Rússia e as forças ucranianas. Kiev e as potências ocidentais acusam a Rússia de armar os separatistas, o que Moscou nega.

O comboio, de mais de três quilômetros e com entre 262 e 287 caminhões, segundo diversas fontes russas, prosseguia a viagem nesta quarta. No meio da tarde estava a centenas de quilômetros da fronteira ucraniana.

A chegada ao posto de fronteira de Chebekino-Pletnevka, entre a região de Belgorod (sul da Rússia) e Kharkiv (nordeste da Ucrânia), está prevista para a noite de quarta-feira, segundo Moscou.

Cavalo de Troia russo

Tanto Kiev como o Ocidente suspeitam que o comboio poderia ser uma versão moderna do cavalo de Troia: uma ajuda humanitária que esconderia uma operação de desestabilização ou reforços para os separatistas pró-Rússia. A modalidade exata da ajuda russa é objeto de negociações há dois dias. O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou na terça-feira que havia recebido a aprovação de Kiev na terça-feira.

Mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Kiev declarou à AFP que as conversas estavam sendo mantidas. A Ucrânia exigia, a princípio, a retirada da carga na fronteira e a transferência para caminhões supervisionados pelo CICV, para que o material fosse levado prioritariamente à população do reduto separatista de Lugansk.

Mas os russos argumentaram que a transferência levaria muito tempo e apresentaram a proposta de, após uma inspeção na fronteira, continuidade da viagem em seus caminhões sob a supervisão do CICV, com representantes da Cruz Vermelha, da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e do governo ucraniano a bordo.



Moscou denuncia que a situação humanitária em Lugansk, onde não há energia elétrica ou água corrente, é "crítica". Mas a principal ofensiva do Exército ucraniano ocorre em outra cidade, Donetsk, que Kiev pretende isolar. Os ataques de artilharia da Ucrânia parecem ter debilitado consideravelmente as posições separatistas, mas também provocaram muitas vítimas civis.

Putin deve comandar nesta quarta-feira uma reunião do Conselho Nacional de Segurança na Crimeia, a península ucraniana que a Rússia anexou em março, onde na quinta-feira pronunciará um discurso aos deputados russos.

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