Agência France-Presse
postado em 19/08/2014 19:49
Gaza - O cessar-fogo entre o Hamas e o Exército israelense foi quebrado nesta terça-feira com disparos de foguetes contra Israel e ataques aéreos na Faixa de Gaza, retomando uma guerra que volta a assolar região.
De acordo com os serviços de emergência locais em Gaza, dois palestinos, uma mulher e uma criança, morreram e mais de 20 pessoas ficaram feridas em ataques aéreos israelenses efetuados em resposta aos disparos de foguetes feitos a partir de Gaza antes mesmo do fim de um cessar-fogo que vinha sendo respeitado desde o dia 11 de agosto e que expirava às 21h00 GMT (19h00 de Brasília).
Durante a noite, o braço armado do movimento Hamas, que controla Gaza revindicou vários disparos de foguetes em direção a Israel, incluindo um que atingiu Tel Aviv e outro em direção a Jerusalém, as duas principais cidades israelenses. De acordo com o Exército, ninguém ficou ferido.
[SAIBAMAIS]A quebra do cessar-fogo interrompeu as negociações no Cairo entre israelenses e palestinos que tinham por objetivo transformar essa pausa em uma trégua prolongada. Os representantes israelenses foram chamados de volta pelo seu governo, sem perspectiva alguma de retorno às discussões.
As negociações antes da retomada dos disparos não registraram progresso e "as chances de chegar a um acordo se evaporam", havia indicado no Twitter Ezzat El-Rishq, um líder do Hamas, principal alvo da ofensiva lançada por Israel em 8 de julho.
Os moradores de Gaza, duramente afetados por um mês de combates, voltaram a fugir aos milhares das áreas mais expostas.
Centenas de pessoas com grandes bolsas e colchões deixaram Chajaya para se abrigar em escolas da ONU transformadas em abrigos.
"Ouvimos notícias de que a trégua tinha acabado. Vou para a casa dos meus pais no centro. Meus filhos ficaram aterrorizados quando ouviram que a guerra ia ser retomada", disse Raghda al-Muqqa, mãe de três filhos, enquanto começavam a se preparar para deixar o norte de Gaza.
Washington "muito preocupado"
A ofensiva aérea e terrestre israelense que devastou a Faixa de Gaza matou mais de 2.000 palestinos e feriu cerca de 10.000. Do lado israelense, 64 soldados morreram, assim como três civis.
Os Estados Unidos manifestaram preocupação com o "rompimento do cessar-fogo", considerando o Hamas "responsável" pelos disparos de foguetes e considerando que Israel tem o direito de se defender.
O Hamas negou ter atacado primeiro e ameaçou Israel. Ezzat al-Rishq, um dos líderes do grupo, afirmou que "Israel não estará em segurança enquanto o povo palestino não estiver".
"O cessar-fogo está morto e Israel é responsável", disse, pouco depois, Azzam al-Ahmed, chefe da delegação palestina que participa das negociações indiretas com Israel.
"O processo do Cairo é baseado na precondição de um respeito total ao cessar-fogo", explicou uma autoridade israelense. "Se o Hamas começar a disparar foguetes, o processo do Cairo está fadado ao fracasso".
As novas hostilidades foram desencadeadas pelos disparos de foguetes palestinos durante a tarde, em plena trégua, aos quais o Exército respondeu com ataques aéreos ordenados por Netanyahu.
Dos foguetes disparados contra Israel, seis caíram em áreas vazias, um em Tel Aviv e dois foram interceptados pelo sistema de defesa anti-mísseis, de acordo com o Exército. Não houve vítimas.
Quanto ao foguete disparado contra Jerusalém, o porta-voz da Polícia, Micky Rosenfeld, disse à AFP que não tinha informações sobre um foguete que teria caído na cidade e que um pode ter sido interceptado fora da zona urbana.
Uma série de ataques israelenses atingiram a Faixa de Gaza, incluindo um que atingiu uma casa durante a noite, matando uma mulher e uma criança, ferindo outras 16 pessoas, provavelmente da mesma família, de acordo com as equipes de socorro palestinos.
;Sabotar as negociações;
Na segunda-feira à noite, israelenses e palestinos haviam chegado a um acordo de última hora para prolongar a trégua por 24 horas, até esta terça-feira à meia-noite (19h00 de Brasília). E nada indicava que as discussões pudessem levar a um acordo duradouro entre as partes, com exigências aparentemente inconciliáveis.
Sem um acordo, o temor é grande em ver novos combates em alguns meses em um território que já está em sua terceira guerra em seis anos.
Os palestinos -representados no Cairo por uma delegação composta por representantes do Hamas, da Jihad Islâmica e da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) à qual pertence a Autoridade Palestina- afirmaram em diversas oportunidades que não assinariam um acordo que não estabelecesse uma retirada do bloqueio israelense de Gaza.
Já os israelenses fazem da desmilitarização do enclave uma condição indispensável.
O Egito apresentou aos protagonistas uma proposta em que ambas as partes se comprometeriam a interromper os combates e que prevê a reabertura dos postos de passagem na fronteira. Esta é uma reivindicação da Autoridade Palestina, expulsa de Gaza pelo Hamas em 2007. O tema mais complicado é o das aberturas de um porto e de um aeroporto, às quais Israel de opõe. Essa questão ia ser deixada para depois.