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Secretário da Justiça dos EUA visita cidade atingida por distúrbios raciais

Eric Holder, se reuniu com moradores e funcionários do governo local para tentar reduzir as tensões e os protestos desencadeados pela morte do jovem negro Michael Brown

Agência France-Presse
postado em 20/08/2014 18:36
O secretário da Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, é o funcionário de mais alto escalão do governo Barack Obama a visitar Ferguson

Ferguson -
O secretário da Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, chegou à cidade de Ferguson nesta quarta-feira (20/8) e se reuniu com moradores e funcionários do governo local para tentar reduzir as tensões e os protestos deflagrados com a morte do jovem negro Michael Brown.

Esse é o funcionário de mais alto escalão do governo Barack Obama a visitar Ferguson. A cidade, de maioria negra, tornou-se palco de manifestações e episódios de violência quase que diários desde que Michael, de 18 anos, foi morto a tiros por um policial branco. Holder, também um afro-americano, visita a localidade do centro do país a pedido de Obama. O procurador-geral dos EUA prometeu que a investigação dos fatos será "completa, imparcial e independente, mas que levará tempo".

Um grande júri decidirá se o policial que matou Brown será processado. O caso começou a ser estudado nesta quarta-feira e, de acordo com o promotor Robert McCulloch, a decisão não deve ser anunciada antes de meados de outubro. Os manifestantes pressionam as autoridades para que o policial autor dos disparos seja acusado formalmente.

Também nesta quarta, a polícia anunciou a detenção de 47 pessoas na terça-feira à noite, em distúrbios motivados pela morte do jovem. A polícia apreendeu três armas dos manifestantes durante os protestos - os primeiros majoritariamente pacíficos após várias noites de confronto.

"Temos 47 detidos", anunciou o capitão Ron Johnson, da Patrulha Rodoviária, acrescentando que os manifestantes jogaram garrafas de água e urina contra a polícia no fim dos protestos, o que obrigou a intervenção policial.

Johnson insistiu em que, ao contrário dos protestos da última segunda-feira, os manifestantes não usaram armas de fogo, e a polícia não utilizou gás lacrimogêneo.

"Esta noite, observamos uma dinâmica diferente", avaliou o capitão.

Em relativa calma, centenas de pessoas se reuniram perto do local onde, em 9 de agosto, Brown foi morto pelo policial e exigiram que se faça justiça.

A inesperada chegada de um "trem da paz" - proveniente de um parque de diversões e que tocava a música "What;s going on" do cantor negro já falecido Marvin Gaye - deu inclusive um toque festivo aos protestos.

"Não atirem", gritaram os manifestantes, com os braços para o alto, diante das forças de segurança.

Por volta da meia-noite (2h de quarta no horário de Brasília), os policiais dispersaram a multidão que continuava nas ruas. Depois das acusações de violência dos últimos dias, os agentes não recorreram ao gás lacrimogêneo.

Funerais públicos

Anthony Gray, um dos advogados da família de Brown, disse a jornalistas que o enterro do jovem será público e contará com a presença de "líderes nacionais".

A morte de Brown ganhou dimensão nacional e reavivou o fantasma dos conflitos raciais nos Estados Unidos.

Os protestos e a violência foram se tornando cada vez mais violentos em Ferguson, desde que, em 9 de agosto, o policial branco Darren Wilson matou Brown. O rapaz estava desarmado.

Depois de uma entrevista coletiva, o presidente Obama disse ter pedido ao governador do Missouri, Jay Nixon, o uso limitado da Guarda Nacional, que havia chegado ao local na segunda-feira. Obama declarou que a polícia não tem desculpa para empregar uma "força excessiva".

A importância de elucidar a morte de Brown resultou na decisão de se realizar três necropsias. Uma foi solicitada pelas autoridades locais; outra, pela família; e uma terceira, pelo Departamento de Justiça.

O médico legista Michael Baden, que examinou o corpo do jovem a pedido de sua família, disse na segunda-feira não ter encontrado sinais de briga com o policial. Além disso, acrescentou o perito, o jovem foi atingido por pelo menos seis tiros - dois deles na cabeça.

[SAIBAMAIS]A ausência de pólvora no corpo de Brown aponta que a pistola pode ter estado a uma distância de até dez metros, segundo Baden, que deixou claro que suas conclusões são preliminares.

A polícia indicou que, ao deter Brown, o jovem tentou tomar a arma do agente. Testemunhas relataram, porém, que, no momento em que sofreu os disparos, Brown estava com as mãos para cima e não ofereceu resistência.



Para "estabelecer um novo diálogo", o prefeito de Ferguson, James Knowles, anunciou uma série de medidas na terça-feira. Entre elas, está um programa que favorece o ingresso de mais negros na Polícia local. Dos 53 integrantes da corporação, apenas três são afro-descendentes.

Nesta quarta, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu ao governo que melhore o sistema de identificação de abusos policiais, que não inclui os agentes locais. A ONG também pediu ao Congresso que revogue uma lei que prevê a formação dos policiais em técnicas com perfis raciais. Vários representantes da HRW vêm denunciando a violência policial em Ferguson.

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