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Sobe para 70 o número de mortos em ataque contra mesquita sunita no Iraque

Após a derrota das forças armadas ante a ofensiva do Estado Islâmico, as autoridades iraquianas passaram a recorrer às milícias xiitas ao norte de Bagdá e às tribos sunitas a oeste

Agência France-Presse
postado em 22/08/2014 12:38
Baquba - Mais de 70 pessoas foram mortas em um ataque de milicianos xiitas contra uma mesquita sunita nesta sexta-feira no Iraque, em meio à ofensiva dos jihadistas do Estado Islâmico (EI), que, de acordo com os Estados Unidos, representa um perigo sem precedentes. Apesar da ameaça deste grupo de executar um segundo refém americano após o jornalista James Foley, o governo americano prometeu continuar os ataques aéreos contra o EI no norte do Iraque para ajudar as forças iraquianas e curdas a repeli-los.

Um habitante de Hamrine, onde ocorreu o ataque, informou que milicianos xiitas dispararam contra os fiéis no momento da oração da sexta-feira em represália a um atentado com bomba contra uma de suas patrulhas. A deputada Nahida al Daini apresentou a mesma versão. Já o porta-voz do ministério do Interior, o general Saad Maan, forneceu a mesma versão do ataque, mas segundo ele, a bomba em questão tinha como alvo os civis que se ofereceram para lutar ao lado das forças de segurança iraquianas, que então dispararam aleatoriamente.

Estes voluntários são em sua maioria xiitas, mas rejeitam a denominação de milícias, temendo que sejam associados aos grupos envolvidos na violência sectária registrada nos últimos anos. Há mais de um ano, o Iraque registra diariamente atentados visando principalmente as forças de segurança e a comunidade e xiitas, mas esses ataques haviam diminuído após a ofensiva jihadista lançada em 9 de junho. Após a derrota das forças armadas ante a ofensiva do EI, as autoridades iraquianas passaram a recorrer às milícias xiitas ao norte de Bagdá e às tribos sunitas a oeste.

Paralisia

No front da guerra com o EI, as forças curdas e iraquianas tentam ganhar terreno contra os jihadistas no norte do país, depois de retomar com sucesso no domingo a estratégica represa de Mossul, com o apoio aéreo americano e depois da entrega de armas ocidentais. Eles tentam agora retomar a cidade de Jalawla, conquistada em 11 de agosto pelos jihadistas.

[SAIBAMAIS]Do outro lado da fronteira, na Síria, o EI, que combate os rebeldes e o regime, perdeu 70 homens nas últimas 48 horas em combates com o exército de Bashar Al-Assad, que tenta defender seu último reduto -um aeroporto militar- no norte da província de Raqa. Diante da violência sem precedentes nesses dois países vizinhos, a Alta Comissaria das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, lamentou a "paralisia" da comunidade internacional que "incentiva os assassinos, destruidores e torturadores na Síria e no Iraque".



Enquanto as divergências internacionais impediram até o momento qualquer iniciativa sobre a Síria, Washington e seus aliados ocidentais preparam uma estratégia de longo prazo para tentar parar o EI, chamado de "câncer" pelo presidente Barack Obama. "O EI é mais sofisticado e mais bem financiado que qualquer outro grupo que tenhamos conhecido. Vai mais além que qualquer outro grupo terrorista", declarou na quinta-feira o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, falando pela primeira vez em termos fortes sobre este grupo.

Mas, para derrotá-lo, será necessário atacar dos dois lados da fronteira, ou seja, "também na Síria" e "isso será possível quando tivermos uma coalizão capaz de derrotar o EI", considerou o chefe do Estado-Maior Conjunto, o general Martin Dempsey, que participou da coletiva de imprensa em Washington.

700 mil deslocados no Curdistão

O grupo extremista sunita, nascido em 2006 no Iraque com um nome diferente e ressurgido com força total em 2013, durante a guerra na vizinha Síria, é responsável por muitos abusos, incluindo execuções, estupros e perseguições. Ele proclamou no final de junho um "califado" que se estende por grandes áreas entre o Iraque e a Síria, provocando a fuga de centenas de milhares de pessoas.

Mas foi, sobretudo, a divulgação na terça-feira de um vídeo no qual o EI mostra um de seus combatentes, presumivelmente britânico, decapitando o jornalista americano James Foley, sequestrado em 2012 na Síria, que levou a comunidade internacional a soar o alarme. Hagel e Dempsey não comentaram sobre um ataque fracassado organizado em julho na Síria para tentar resgatar os reféns americanos, incluindo James Foley, detidos pelo EI.

Em seu vídeo, o EI ameaça executar um segundo refém americano, Steven Sotloff, também jornalista, se os ataques americanos continuarem. Segundo o site de informações americano GlobalPost, um dos empregadores de James Foley, os sequestradores haviam exigido um resgate de 100 milhões de euros. De acordo com o Departamento de Estado americano, cerca de 12.000 combatentes jihadistas estrangeiros de 50 países diferentes estão na Síria, incluindo um "pequeno número de americanos".

No Iraque, segundo um especialista iraquiano, o EI possui entre 8.000 e 10.000 combatentes, incluindo 40% do exterior. Finalmente, frente a crise humanitária no norte do Iraque, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) continua a sua operação logística para garantir suprimentos de emergência para meio milhão de pessoas que fugiram do EI, em sua maioria membros das minorias cristãs e yazidi. Segundo o Acnur, cerca de 700 mil deslocados encontraram refúgio no Curdistão.

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