Agência France-Presse
postado em 24/08/2014 09:59
Donetsk - A Ucrânia celebrou neste domingo (24/8) o Dia da Independência, mas os separatistas pró-Rússia da cidade de Donetsk decidiram comemorar a data com um desfile humilhante de soldados ucranianos capturados em combate.
Sob um sol forte, enquanto era possível ouvir explosões em outras partes da cidade, os soldados caminharam de cabeça baixa, com as mãos nas costas.
A multidão recebeu os prisioneiros de guerra aos gritos de "fascistas".
"Queriam vir para cá, aqui estão", "Vocês estão matando crianças", vociferavam os moradores do reduto separatista, cercado pelo Exército ucraniano há mais de um mês.
Garrafas de plástico e lixo voaram em direção aos prisioneiros. Um soldado tem os olhos vendados, enquanto outro mais jovem, assustado, olha de relance para a multidão e é atingido por um objeto.
A Convenção de Genebra proíbe que os prisioneiros de guerra sejam vítimas "de ato de violência ou intimidação, de insultos ou de curiosidade pública".
[SAIBAMAIS]"Pederastas", grita um homem exaltado. Outro exige a pena de morte ao conversar com um dos rebeldes que marcham ao lado dos soldados para protegê-los da multidão.
O cortejo passa pela estátua de Lenin, no centro da cidade.
A marcha de Donetsk lembra o "desfile dos vencidos" alemães, organizado por Stalin em Moscou em julho de 1944.
Uma ideia diferente
Após 15 minutos de calvário, os soldados sobem em um ônibus, que parte para um destino desconhecido.
Uma combatente rebelde, com a cabeça raspada, óculos escuros e acompanhado por um cão da raça pastor alemão, recebe os aplausos dos espectadores.
"Bravo" "Nova Rússia (Novorossiya)", grita uma espectadora.
"Foi um prazer ver estes bastardos", afirma uma idosa com orgulho.
"Eu os odeio! Olhem todas estas pessoas que estão morrendo com as suas bombas", diz Svetlana, outra mulher procedente de Petrovsky, uma área muito afetada pelos bombardeios diários.
"Não há outra maneira para que entendam", grita Liudmila, outra idosa.
Durante todo o dia, centenas de moradores se reuniram na Praça Lenin diante de uma dezena de veículos militares destruídos ou capturados do inimigo.
Uma mulher tira uma foto ao lado de um dos combatentes, conhecido como "Chayka", que é aclamado. Outro, uniformizado, ensina a filha de 10 anos a mirar com um fuzil kalashnikov.
Outra manifestante lê poemas em cima de um blindado destruído em homenagem à "Nova Rússia" que os separatistas desejam criar.
Mas alguns tiveram a ousadia de comparecer ao desfile com uma ideia diferente.
Lidia Vassilievna, de 80 anos, ucraniana e orgulhosa da pátria, não escondeu o desprezo pelo ato.
Ela disse que compareceu para presenciar "esta confusão organizada por estes homens da República Popular de Donetsk".