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Mulher de 98 anos tenta revogar condenação por espionagem nos EUA em 1950

Miriam Moskowitz era secretária de Abraham Brothman, um homem acusado em 1947 pelo FBI de estar envolvido em espionagem atômica

Agência France-Presse
postado em 26/08/2014 12:58
Nova York - Uma mulher de 98 anos, condenada nos Estados Unidos em vinculação a um midiático caso de espionagem nuclear a favor da ex-União Soviética em 1950, pediu à justiça federal de seu país que revogue as acusações contra ela, invocando novas evidências que demonstram sua inocência. Miriam Moskowitz se apresentou na segunda-feira (25/8) com seu advogado no tribunal do sul de Manhattan diante do juiz Alvin Hellerstein, que deve tratar a demanda para limpar o nome desta mulher, que cumpriu dois anos de prisão por conspiração para obstruir a justiça.

Seu caso está vinculado ao julgamento nos anos 1950 de Julius e Ethel Rosenberg, considerados culpados de entregar segredos militares nucleares à ex-União Soviética e executados em 1953, quando o senador Joseph McCarthy, conhecido por sua caça às bruxas de comunistas e opositores políticos, agia com todo o seu poder nos Estados Unidos.

"Através deste pedido, o tribunal tem a oportunidade de corrigir um erro judicial da era McCarthy, da qual a senhora Moskowitz talvez seja a última vítima com vida. Agora é tempo, antes que seja muito tarde, de corrigir este erro histórico apagando a condenação de Miriam Moskowitz", indicou o advogado Guy Eddon na demanda apresentada.



Moskowitz era secretária de Abraham Brothman, um homem acusado em 1947 pelo FBI de estar envolvido em espionagem atômica. Três anos mais tarde ela foi condenada junto ao seu chefe e a outro homem, Harry Gold, de conspirar para mentir a um grande júri que investigava o caso. Gold, única testemunha do governo, primeiro disse ao FBI que Moskowitz não sabia nada do tema, mas foi ameaçado com a pena de morte e trocou sua declaração envolvendo a mulher na hora de testemunhar no julgamento.

Segundo o advogado de Moskowitz, desde a condenação em 1950 apareceram provas que demonstram o "erro fundamental" cometido contra sua cliente. Entre estas provas está o acesso a evidências retidas pelo governo e ocultadas da defesa por cerca de 60 anos que mostram a contradição na declaração de Gold ao FBI e em seu testemunho ante o grande júri. "As atas do grande júri e os próprios relatórios do FBI, que sob leis menos antiquadas deveriam ter sido compartilhadas com a defesa, revelam que Harry Gold mentiu no julgamento", afirma a demanda, em referência a estes documentos desclassificados em 2008 por ordem do juiz Hellerstein.

Ao justificar o pedido para que a condenação seja revogada, o advogado lembra que Moskowitz continua sofrendo as consequências do ocorrido e, por exemplo, atribui o fato de não ter se casado nem ter tido filhos a esta questão, além das dificuldades financeiras pelas quais passou e da estigmatização social. A condenação de Moskowitz, e as posteriores dos Rosenberg, ocorreram pouco após a ex-União Soviética testar com sucesso sua primeira bomba atômica, em 1949.

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