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Vida volta ao normal na Faixa de Gaza com dois lados cantando vitória

Exército israelense indicou que nenhum foguete foi disparado a partir de Gaza e que suas forças não realizaram ataques



Ainda não há detalhes sobre a possível retomada das exportações a partir do território palestino ou da importação de materiais de construção para Gaza, onde a reconstrução vai demorar meses ou anos depois de pelo menos 55 mil casas terem sido atingidas pelos ataques israelenses, segundo a ONU.

No entanto, as questões mais sensíveis, como a libertação de prisioneiros palestinos, a abertura de um aeroporto em Gaza e a desmilitarização do enclave palestino, devem ser discutidas durante conversas agendadas no Cairo dentro de um mês.

Os líderes do Hamas apareceram na noite de terça para comemorar junto com a população a suposta vitória e garantindo aos habitantes de Gaza que em breve teriam um porto e aeroporto.

Mas nesta quarta-feira, uma autoridade próxima ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afastou essa possibilidade. "Não haverá porto ou aeroporto e nada que possa servir à produção de foguetes ou para a escavação de túneis. Esta será a posição que vamos apresentar na retomada das negociações" no Cairo, declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Tzahi Hanegbi, à rádio pública.

Empate


O Hamas, que infligiu as maiores perdas ao Exército israelense desde 2006, com 64 soldados mortos, está se gabando de ter derrotado "o lendário Exército israelense que se dizia invencível" e obteve a flexibilização do bloqueio, uma das principais reivindicações palestinas.

Em contrapartida, o premiê israelense Benjamin Netanyahu afirmou que o Hamas não teve suas exigências atendidas para assinar um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

"O Hamas foi duramente atingido", considerou Netanyahu durante uma coletiva de imprensa em Jerusalém, em sua primeira declaração pública desde a entrada em vigor de uma trégua entre as duas partes em conflito, concluída na terça-feira à noite.

"Para assinar o cessar-fogo, o Hamas exigia um porto e um aeroporto em Gaza, a libertação de prisioneiros palestinos, a mediação do Catar e da Turquia, o pagamento de salários, além de outros pedidos, mas, mais uma vez, não conseguiu nada", garantiu. A imprensa israelense expressava suas dúvidas nesta quarta.

"Empate", esta foi a manchete do jornal Maariv (centro-direita). "Muito pouco, muito tarde", considerou o Yediot Aharonot sobre os resultados da operação "Barreira Protetora", lançada no dia 8 de julho, enquanto o jornal Israel Hayom, pró-Netanyahu, afirmou que "o Hamas se rendeu, mas sobreviveu".

De acordo com relatos da imprensa, Netanyahu se recusou a conduzir uma votação do gabinete de segurança antes de aprovar o cessar-fogo, que era contestado por pelo menos quatro dos seus oito membros.

Esperanças de uma trégua sólida

No âmbito diplomático, o secretário de Estado americano, John Kerry, saudou o acordo, esperando que esta nova trégua seja mantida. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seguiu no mesmo sentido e disse que espera que o cessar-fogo seja um "prelúdio de um processo político".

O chanceler francês, Laurent Fabius, também desejou um cessar-fogo "duradouro", enquanto o Irã comemorou a "vitória" dos palestinos e o Catar, um dos principais aliados do Hamas, afirmou que o acordo vai ajudar a "acabar com o sofrimento do povo palestino e a alcançar suas reivindicações legítimas."

A União Europeia também elogiou o acordo, mas pediu às duas partes que negociem um "acordo completo e duradouro".

E, pela primeira vez desde 2007, quando o bloqueio ao enclave foi reforçado, um comboio transportando cestas básicas do PAM (Programa Alimentar Mundial) entrou em Gaza, além de mais 200 toneladas de ajuda humanitária enviada pela Arábia Saudita, pelo Sultanato de Omã e pela Turquia, que passaram pelo posto egípcio de Rafah.