Agência France-Presse
postado em 28/08/2014 11:58
Gaza - Ajuda humanitária e produtos de consumo começaram a entrar nesta quinta-feira na Faixa de Gaza, território palestino devastado por 50 dias de uma guerra violenta, onde a população aguarda, após o cessar-fogo, uma flexibilização do bloqueio imposto por Israel.
[SAIBAMAIS]Israelenses e palestinos encerraram na terça-feira à noite a guerra, a terceira em seis anos em Gaza, após um acordo de cessar-fogo por tempo indefinido. Desde então, os moradores de Gaza tentam retornar à normalidade em um território destruído pelos bombardeios.
Desde 8 de julho, início das hostilidades, mais de 2.140 palestinos morreram na estreita faixa de terra localizada entre Israel, Egito e o mar Mediterrâneo. Onze mil pessoas ficaram feridas.
As perdas materiais foram gigantescas também. Quase 500.000 moradores - 25% da população - deixaram suas casas em consequência da guerra e muitos perderam as residências. No total, 55.000 casas foram atingidas pelos bombardeios israelenses e 17.200 foram total ou quase totalmente destruídas, segundo a ONU.
Quase 100.000 pessoas precisam de ajuda urgente de moradia, de acordo com as Nações Unidas. O bloqueio que asfixia a economia do território impede a entrada de muitos materiais de construção. Israel veta a passagem de produtos que podem ser usados na fabricação de armas, especialmente foguetes, ou na construção de túneis utilizados para atacar o Estado hebreu.
Mas depois do acordo que permitiu o cessar-fogo, obtido com a mediação do Egito, Israel se comprometeu a flexibilizar o bloqueio econômico a Gaza.
Israel deve suspender as restrições impostas aos pescadores de Gaza, de maneira concreta a limitação de navegar a três milhas náuticas para ampliar a faixa a seis milhas (11 km) e posteriormente a 12 milhas.
Israel indicou ainda uma flexibilização das restrições à entrada de bens e autorizou o trânsito da ajuda humanitária e de alguns materiais de construção pelas passagens de Erez e Kerem Shalom.
Nesta quinta-feira em Kerem Shalom era possível observar uma longa fila de caminhões, a maioria com mercadorias para as lojas de Gaza. Outros tinham a sigla da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) e transportavam ajuda humanitária. Mas nenhum material de construção entrava no local.
Os israelenses controlam todas as passagens de fronteira de Gaza, com exceção de Rafah, que liga o território com o Egito. Na quarta-feira, pela primeira vez desde 2007, um comboio de ajuda humanitária do PAM (Programa Mundial de Alimentos) atravessou a fronteira egípcia e entrou na Faixa de Gaza, com alimentos suficientes para 150.000 pessoas durante cinco dias.
Mais de 200 toneladas de ajuda humanitária da Arábia Saudita, de Omã e da Turquia também entraram por Rafah na Faixa de Gaza. Após o início do cessar-fogo, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fez advertências.
"O Hamas foi duramente golpeado e não obteve nenhuma de suas demandas para assinar o cessar-fogo. Não vamos tolerar nenhum lançamento de foguete contra Israel e nossa resposta será ainda mais dura".
O líder do movimento islâmico palestino Hamas, Khaled Meshaal, por sua vez, rejeitou qualquer tentativa de desarmar seus combatentes na Faixa de Gaza. "As armas da resistência são sagradas. E nós não vamos aceitar que sejam colocadas na agenda" de discussões das próximas negociações previstas pelo acordo de cessar-fogo em Gaza, disse Meshaal durante uma coletiva de imprensa em Doha (Qatar), onde vive no exílio.
"Esta questão não pode ser objeto de barganha ou negociação. Ninguém pode desarmar o Hamas e sua resistência", acrescentou, desafiando o Netanyahu, que faz do desarmamento do movimento islâmico um pré-requisito para qualquer acordo de longo prazo.
A maioria dos israelenses acredita que nem Israel nem o Hamas venceram a guerra na Faixa de Gaza.
Para 54% dos israelenses, nenhuma parte saiu vitoriosa do conflito, contra 26% que apontam a vitória de Israel e 16% que citam o Hamas, segundo uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira.