Agência France-Presse
postado em 28/08/2014 15:30
O confronto previsível entre os Estados Unidos e os jihadistas do Estado Islâmico (EI) na Síria representa um verdadeiro desafio para a doutrina de Barack Obama, que se articula em torno dos ataques aéreos, mas sem mobilizar tropas de combate em terra.A visão do presidente americano, forjada durante os anos nos quais as Forças Armadas americanas estavam atoladas no conflito iraquiano, é que os drones (aviões sem pilotos) estejam no centro da estratégia militar para atacar os combatentes da Al-Qaeda no Paquistão e no Iêmen. E que as forças especiais realizem operações contra indivíduos considerados perigosos na Líbia e na Somália.
Num momento em que se pensa em estender a luta contra o EI do Iraque à Síria, Obama repete que não abandonará a regra anunciada quando iniciou os ataques aéreos: sem americanos em terra para combater o inimigo.
Em um discurso emblemático pronunciado no fim de maio na prestigiada academia militar de West Point, o presidente advertiu contra a tentação de recorrer, em todas as circunstâncias, à potência militar dos Estados Unidos.
"A estratégia de invadir todos os países nos quais os terroristas estão implantados é ingênua e insustentável", disse na época, consciente de que esta teoria seria rapidamente colocada em questão no Oriente Médio.
[SAIBAMAIS]À margem da superioridade aérea dos Estados Unidos, o presidente quer fortalecer o apoio aos aliados locais de Washington na luta contra o terrorismo, à imagem e semelhança da estratégia colocada em andamento na Somália para enfrentar os insurgentes shebab, onde os Estados Unidos fornecem ajuda financeira e logística às tropas da União Africana (UA).
Manteve este critério na ofensiva do início de agosto no Iraque dois meses e meio após a retirada das tropas americanas deste país. Os bombardeios no norte do Iraque contra o EI há três semanas permitiram evitar o massacre de milhares de yazidis sitiados no monte Sinjar. Também permitiram que o exército iraquiano e as forças curdas reconquistassem a represa de Mossul.
No entanto, alguns questionam sobre a eficácia de semelhante estratégia se a Casa Branca, como deu a entender nos últimos dias, decidir passar à ofensiva e combater os jihadistas também na Síria.
O governo americano repete incansavelmente que a opção militar não pode ser a única resposta. "Muitos têm o sentimento de que a ferramenta mais potente e mais eficaz a disposição do presidente é a ação militar", explica Josh Earnest, porta-voz de Obama. "Mas o que aprendemos de maneira dolorosa na última década é que uma operação militar realizada pelos Estados Unidos não oferece uma solução duradoura".
Derrotar e não conter o EI
O avanço dos jihadistas no Iraque desde o início de junho demonstrou, no entanto, os limites da estratégia que consiste em se apoiar nos aliados locais: as forças iraquianas, nas quais Washington investiu bilhões de dólares, desmoronaram em poucos dias.
E apesar da muito esperada partida do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, a formação de um governo de unidade em Bagdá segue estando longe de ser uma realidade.
Na Síria a situação é ainda mais complicada: os rebeldes moderados se enfraqueceram, e o único aliado potencial de peso na luta contra o EI é Bashar al-Assad, uma hipótese rejeitada por Washington.
O exemplo da Líbia, que afunda no caos, também não é particularmente estimulante para a administração americana. "Ainda existem em Washington e no seio da administração Obama pessoas que consideram que, de uma forma ou de outra, a potência militar dos Estados Unidos pode estabilizar uma zona à qual contribuiu para desestabilizar", explica Andrew Bacevich, professor de relações internacionais na universidade de Boston. "Sou cético com este tipo de raciocínio".
No entanto, a ideia de uma ofensiva mais vasta contra os jihadistas começa a ganhar espaço. Segundo o general Martin Dempsey, o militar americano de mais alta patente, os jihadistas podem ser derrotados com a condição de serem perseguidos também na Síria, e não apenas no Iraque.
"É impossível conter o EI, é preciso derrotá-lo", estima o senador republicano John McCain, que há semanas exige ataques na Síria.
Alguns analistas acreditam que para derrotar um grupo que "não tem lugar no século XXI", segundo palavras do presidente americano, Washington pode se ver obrigado a flexibilizar sua posição em relação a Damasco.
"O governo de Assad talvez seja terrível, mas é um mal menor em comparação com o EI", escreveu no Financial Times Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations,