Agência France-Presse
postado em 29/08/2014 17:09
Moscou - O homem forte da Rússia, Vladimir Putin, está tentando criar um novo e pequeno Estado na Ucrânia e parece disposto a uma intervenção militar direta para alcançar seu objetivo, indicam analistas.
Nesta sexta-feira (29/8) Putin se dirigiu diretamente aos separatistas pró-russos da Ucrânia, classificando-os como defensores da "Novorossiya" (Nova Rússia), um termo usado na era tzarista para denominar os redutos imperiais da região.
Analistas indicaram que a mensagem direta aos separatistas representa um passo significativo nos quase cinco meses de combates na Ucrânia, já que Putin parece agora disposto a criar um pequeno Estado independente na Ucrânia. "Putin definitivamente decidiu pela alternativa da Novossiriya", disse Alexander Morozov, analista político crítico ao Kremlin. "Ele acredita que a Novorossiya deve existir", disse Morozov à AFP.
Por sua vez, Konstantin Kalachev, líder do grupo de análise política Political Expert Group em Moscou, disse que "é quase óbvio que a Novorossiya irá acontecer".
Morozov acredita que o Kremlin concentrará nos próximos dois meses seus esforços na definição das fronteiras do território planejado.
Nome histórico
O porta-voz de Putin defende o uso da palavra no documento oficial do Kremlin. "Esta é a maneira como o território foi denominado historicamente e se você revisa a história, assim foi chamada, Novorossiya, nos últimos séculos", disse Dmitry Peskov à rádio. "É o nome absolutamente russo do território. Foi assim que estas terras foram chamadas na Rússia", explicou.
A mensagem de Putin aos rebeldes ocorre em meio a uma escalada dramática dos combates, e quando a Ucrânia e o Ocidente dizem que há tropas regulares russas no território que combatem ao lado de grupos separatistas apoiados pelo Kremlin.
O Ocidente considera que a Rússia reforçou seu apoio aos separatistas para deter o avanço das forças ucranianas nos redutos rebeldes. A Rússia desmentiu em várias ocasiões ter enviado tropas, apesar dos indícios apresentados nos últimos dias de que enviaram integrantes do exército para combater na Ucrânia.
Citando chefes militares, uma esposa de um paramilitar da Rússia central disse à AFP nesta semana que 350 solados da cidade de Kostroma foram enviados a praticar exercícios militares perto da fronteira com a Ucrânia e depois foram mobilizados "fora da Rússia".
Interesses vitais de Putin
A primeira menção por parte de Putin da Novorossiya ocorreu em um programa especial de televisão quando falou com russos em abril e argumentou que o leste e o sul da Ucrânia já pertenceram à Rússia, mas foram entregues à Ucrânia pelos bolcheviques em 1920.
"Por que fizeram isso? Só Deus saberá", disse Putin, lembrando que os territórios foram conquistados para a Rússia em famosas batalhas por Catarina, a Grande. Putin usou uma lógica similar para justificar a anexação da Crimeia em março, ao indicar que a Rússia corrigia o erro ao devolver a si mesma o que lhe pertencia desde antes de 1954.
Analistas indicam que a escalada dos combates na Ucrânia busca forçar as autoridades da Ucrânia a realizar negociações diretas com os separatistas, correndo o risco inclusive de envolver o exército russo. A analista política independente Maria Lipman disse que a mensagem de Putin ao Ocidente é clara: "Estou pronto para ir muito longe, e vocês?". "Putin está mostrando literalmente ao Ocidente que a Ucrânia está na órbita de seus interesses vitais", acrescentou.
Único líder determinado
Várias rodadas de sanções ocidentais afetaram a economia russa, mas não amedrontaram Putin, que ordenou um embargo virtual às importações alimentares da União Europeia e americanas.
Alguns analistas sugerem que Putin quer estabelecer com as regiões rebeldes ucranianas um pequeno Estado parecido com a região de Transdniestr na Moldávia.
[SAIBAMAIS]Holger Schmieding, chefe economista do Berenberg Bank, com sede em Londres, disse nesta semana que estas ações sugerem que a Rússia quer forjar "um reduto parecido com Transdniestr por fora da região de Donbass para manter um ponto de apoio permanente para além da Crimeia".
Kalachev disse que Putin está sendo encorajado por um desejo visceral de punir a Ucrânia, depois que o ex-Estado soviético decidiu assinar acordos e negociações com a União Europeia, um movimento considerado uma afronta pela Rússia.
O analista considera que a crise ucraniana serve a Putin como uma missão para reivindicar e provar que é o único líder determinado no mundo. E precisa de um Estado vassalo.