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Mulheres que sobreviveram a ataques com ácido relatam drama e preconceito

A cada ano, mil mulheres se tornam vítimas desses ataques. Lei exige prisão de agressores e indenização para custear despesas médicas

Rodrigo Craveiro
postado em 31/08/2014 08:00

A cada ano, mil mulheres se tornam vítimas desses ataques. Lei exige prisão de agressores e indenização para custear despesas médicas

No hinduísmo, Laxmi é mulher de Vishnu, o deus responsável pela manutenção do universo. Os adeptos da mais antiga religião do planeta também a veem como a personificação da beleza. Laxmi também é o nome de uma indiana que busca ressignificar a vida, depois que o ácido arremessado contra o rosto corroeu sua beleza e sua estima. Ela tinha apenas 15 anos quando ocorreu a tragédia. ;Fui atacada em 22de abril 2005 por um homem com o dobro de minha idade, com o qual me recusei a casar;, afirmou ao Correio, em entrevista por videoconferência. Laxmi conta que o incidente aconteceu à luz do dia, dentro de um dos mercados mais lotados de Nova Délhi. ;Ele veio em uma bicicleta, com uma garota. Ambos me jogaram na estrada e derramaram o ácido;, lembra. ;Fiquei física e emocionalmente sequelada. Eu o enviei à cadeia e meu trabalho está encerrado. Não posso odiá-lo, porque não foi para isso que nasci, mas também não consigo perdoá-lo;, disse. A cada ano, cerca de mil mulheres são desfiguradas por ataques com ácido na Índia ; em média, 83 todos os meses.

Laxmi passou por sete cirurgias plásticas e, ao contrário de muitas vítimas, escolheu viver sem se esconder da sociedade. Tornou-se uma espécie de porta-voz do movimento para pôr fim a agressões do tipo. ;Muitas vítimas nunca retornam à vida. Algumas vezes, não medem esforços para ocultar sua desfiguração. Várias delas renunciam à educação ou ao trabalho por terem que aparecer em público. O suicídio também não é incomum. Eu não me escondi;, comentou. O preconceito foi inevitável. ;Meus vizinhos e parentes abandonaram nossa família. Resolvi sair com a cara aberta e lutar para que me respeitassem.; O agressor foi condenado a 10 anos de prisão, e a cúmplice a 7 anos.



Em 18 de julho de 2013, oito anos após o ataque, ela ganhou uma compensação equivalente a US$ 5 mil do governo. ;É muito pouco para o que minha família precisou gastar com o meu tratamento. As despesas ultrapassaram os US$ 50 mil;, opina. Em meio à batalha judicial, Laxmi perdeu o irmão caçula e o pai. O ácido que lhe levou o rosto corroeu os seus sonhos. ;Eu sempre quis ser cantora. Antes da agressão, levava a vida de qualquer garota normal. Depois, encarei tanta dor e depressão que abandonei a escola;, diz.

A data 26 de maio de 2012 também não sai da memória de Ritu Saini, hoje com 19 anos. ;O ataque ocorreu no momento em que eu jogava vôlei;, conta. O motivo da barbárie, ocorrido no vilarejo de Jamni, no distrito de Jind, seria uma disputa por patrimônio envolvendo o pai de Ritu e a irmã dele. ;Meu primo, filho dessa tia, lançou o ácido em meu corpo;, afirma a jovem, também por videoconferência. Questionada sobre como lida com o preconceito por conta do rosto desfigurado, ela responde após um tempo meditando: ;Eu me sinto sozinha, me sinto mal nesses dias;. Sua vida sofreu uma guinada ;drástica e dolorosa;.

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