Agência France-Presse
postado em 01/09/2014 18:46
Após 50 dias de guerra na Faixa de Gaza, no kibutz Dorot, próximo ao território palestino, oitenta crianças com idades entre seis e 16 anos, vindas de Israel e do sul da Cisjordânia, tentam voltar à rotina em um campo de futebol."É genial estarmos aqui depois de duas semanas trancados em casa", disse Ofir, de 11 anos, e originário de Sderot (sul de Israel), uma cidade assolada pelo dilúvio de foguetes disparados a partir da Faixa de Gaza.
[SAIBAMAIS]Os companheiros de futebol não se viam desde o início da guerra em Gaza, que deixou mais de 2.140 palestinos mortos, em sua maioria civis, e 71 mortos do lado israelense, principalmente soldados. Apesar do medo, o prazer de jogar faz o sorriso voltar aos rostos dos jovens.
"Nem todos os árabes são ruins. Tem aqueles que querem a paz, como eu", acrescentou o atacante.
Para chegar ao campo, as crianças palestinas tiveram que passar por revistas do Exército israelense em um posto de controle. Para algumas, foi a primeira vez. Depois de três horas de estrada, já em campo, as crianças procedentes da Cisjordânia acompanham atentamente as instruções do treinador.
"Gosto de quando jogamos juntos. Espero que um dia a paz entre judeus e árabes chegue, e então já não haja guerra nem mortos", declara solenemente Kusay, de 11 anos.
"Jogar juntos, viver juntos"
A Fundação pela Paz organiza este encontro, acompanhado pelo seu presidente, o ex-chefe de Estado israelense Shimon Peres, em uma de suas poucas aparições públicas desde o final de seu mandato em julho.
"Não vamos jogar uns contra os outros, e sim juntos. Que vocês, da geração do amanhã, mostrem como jogar juntos, como viver juntos, já que vocês são as crianças da paz, as crianças que preferiram o jogo à violência", disse Peres com a bola na mão antes de dar o pontapé inicial.
Este projeto educativo de promoção da paz por meio do esporte foi criado há 12 anos com um encontro entre palestinos de Jerusalém Oriental e crianças de bairros pobres de Israel. O projeto foi ampliado depois para quinze escolas de ambos os lados do muro construído por Israel entre o seu território e a Cisjordânia ocupada.
"Em 12 anos, vimos guerras e tensões, mas sabemos administrá-las. Os adultos e os treinadores se reúnem e contam o que vivem, ajudam o outro lado a entender a sua realidade e, depois, chega a vez das crianças", explica Meir Azram, coordenador do projeto.
O atual início desta temporada do programa, no entanto, não é como os outros. As crianças israelenses passaram o verão com medo dos foguetes disparados de Gaza, enquanto suas colegas palestinas da Cisjordânia tinham que passar pelas patrulhas do Exército israelense, correndo o risco de serem detidas por suspeitas de pertencerem a um grupo radical, e evitar os confrontos entre manifestantes e soldados do Estado hebreu.
Mas, em campo, os jovens jogadores esquecem tudo e se entendem. Gritam em diferentes línguas e gesticulam. Entre passes e gols, os jogadores tentam deixar para trás o último conflito e começar a construir um futuro de união.