Agência France-Presse
postado em 02/09/2014 12:22
Dacar - A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou nesta terça-feira (2/9) que o mundo está perdendo a batalha contra a epidemia de ebola, no mesmo dia em que as Nações Unidas alertaram para a escassez de alimentos nos países mais afetados pelo vírus.
"Após seis meses com a pior epidemia de ebola da história, o mundo está perdendo a batalha. Os líderes não conseguiram tomar as medidas adequadas contra esta ameaça transnacional", afirmou a presidente da MSF, Joanne Liu, em uma sessão de informações na sede da ONU em Nova York.
Segundo a OMS, os Estados não reagiram ao apelo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 8 de agosto declarando a epidemia uma emergência de saúde pública mundial e "se limitaram a se unir a uma coalizão global da inação".
A presidente da ONG também pediu que a comunidade internacional financie mais camas nos hospitais de Guiné, Serra Leoa e Libéria, os três principais países afetados, e envie mais funcionários e laboratórios móveis.
O surto de ebola deixou até agora 1.552 vítimas fatais e infectou outras 3.062 pessoas, segundo os últimos números da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A MSF denuncia, em particular, a situação na Monróvia, a capital da Libéria, onde "a cada dia temos que rejeitar doentes porque estamos lotados", segundo Stefan Liljegren, o coordenador do centro médico ElWA 3, administrado pela ONG.
Se o ritmo atual de infecção prosseguir, a OMS prevê que em um período de entre seis e nove meses podem existir cerca de 20.000 infectados.
"Em Serra Leoa, corpos altamente infecciosos estão apodrecendo nas ruas", indicou a MSF em seu relatório.
Escassez de alimentos e preços em alta
O ebola também tem outras consequências e nesta terça-feira (2/9) a ONU alertou para o risco de escassez de alimentos devido à restrição do comércio transfronteiriço.
"O acesso à comida se converteu em uma preocupação urgente para muitas pessoas em três dos países afetados e seus vizinhos", disse Bukar Tijani, representante regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a África.
As restrições dos deslocamentos provocaram compras motivadas pelo pânico, com a consequente escassez de alimentos, assim como um forte aumento dos preços, sobretudo nos centros urbanos, disse a FAO.
"A insegurança alimentar se intensificará nas próximas semanas e meses", disse o representante da organização.
A advertência da FAO coincide com o anúncio da OMS de um novo surto na República Democrática do Congo, embora esteja confinado em uma zona situada a 800 km de Kinshasa, a capital. O vírus matou 31 pessoas neste país.
Na Libéria, um dos países mais afetados pelo ebola, que registrou até agora 694 mortos, o preço da mandioca nos mercados de Monróvia, a capital, subiu 150% nas primeiras semanas de agosto, indicou a FAO.
Para enfrentar a situação, o Programa Mundial de Alimentos (PAM) lançou uma operação regional de emergência para reunir 65.000 toneladas de comida para 1,3 milhão de pessoas nas áreas mais afetadas.
Por sua vez, um grupo de pesquisadores japoneses anunciou nesta terça-feira (2/9) ter desenvolvido um novo método para detectar a presença do ebola em 30 minutos, muito mais rápido que os sistemas atuais de diagnóstico.
O surto de ebola, um vírus que se transmite por contato com fluidos corporais infectados, colocou em estado de alerta o oeste da África e todo o mundo, e levou algumas companhias aéreas a restringir os voos aos países afetados.