Agência France-Presse
postado em 03/09/2014 12:03
Malaga - Os pais do menino britânico Ashya King, que sofre de câncer no cérebro, puderam visitá-lo nesta quarta-feira (3/9) em um hospital de Málaga, no sul da Espanha, mas não foram autorizados a sair com o menino porque a criança não está sob sua custódia.Os pais do pequeno Ashya - Brett King, de 51 anos, e Naghemeh King, de 45 - saíram da prisão, em Madri, na terça-feira. Eles foram acusados de terem retirado seu filho sem autorização de um hospital de Southampton, na Inglaterra, em um caso que comoveu e dividiu a opinião pública britânica.
[SAIBAMAIS]"Os pais puderam ver o menino normalmente, sem problema algum", informou uma fonte do hospital à AFP, acrescentando que o reencontro foi "muito emocionante". Eles ficam com seu filho "o tempo todo, mas não podem tirá-lo do hospital até que seja resolvida" a questão da custódia do menino, caso que está sob responsabilidade de um juiz britânico de Portsmouth desde a semana passada.
Ao chegar ao hospital de Málaga, o pai de Ashya lamentou que a guarda do menino tenha ficado com um tribunal da Inglaterra, embora as restrições se limitem apenas à retirada da criança do hospital pelos pais. A justiça britânica planeja realizar uma audiência na próxima segunda-feira para decidir se mantém a custódia de Ashya ou se o devolve a seus pais.
Antes de ir para Málaga, Brett King informou, em uma entrevista coletiva, que ele e sua esposa tinham viajado para a Espanha para vender uma casa e usar o dinheiro no tratamento do filho na República Tcheca. A justificativa para a decisão é que o tratamento de radioterapia a que o menino estava sendo submetido no hospital britânico era muito agressivo e o havia transformado em um "vegetal".
Por isso, decidiram que o melhor seria que Ashya fosse cuidado na República Tcheca, onde receberia o tratamento com prótons, menos nocivo às partes saudáveis que circundam o tumor.
Um centro médico da capital tcheca, Praga, o Proton Therapy Center Czech (PTC), confirmou nesta quarta-feira que havia examinado o caso do menino, acrescentando que Ashya deveria, em primeiro lugar, retornar ao Reino Unido para receber "dois ciclos de quimioterapia, o que levaria várias semanas".
Pais desesperados
Desde quinta-feira, a viagem desta família virou um caso que tem chamado a atenção do Reino Unido, onde a imprensa havia descrito os pais, que são Testemunhas de Jeová, como "sequestradores". Mas a rejeição inicial se transformou em uma simpatia geral, quando os pais passaram a ser vistos como um casal desesperado para salvar seu filho.
Os médicos ingleses disseram "que os custos deste tratamento não seriam cobertos, mas sabiam que eu ia pagar quando minha casa fosse vendida. A polícia não sabia disto e nos perseguiu, nos prendeu e nos disse que éramos criminosos, mas nosso único interesse é o bem-estar do nosso filho", lamentou Brett King na quarta-feira.
Enquanto as críticas ao trabalho da polícia se espalhavam pelo Reino Unido, alguns políticos, como o próprio primeiro-ministro do país, David Cameron, reivindicam um tratamento mais justo para os pais. Cameron chegou a pedir, na terça-feira, que o "menino receba os cuidados e o amor de sua família".
Ainda na terça, a justiça britânica chegou à conclusão de que as suspeitas de negligência não tinham fundamento e decidiu suspender a ordem de prisão emitida contra os pais na semana passada.
A promotoria britânica avaliou que "o risco para a vida de Ashya não era tão grande quanto se supunha a princípio" porque seus pais "tomaram os cuidados necessários para a proteção de sua saúde".