Agência France-Presse
postado em 04/09/2014 18:16
Newport - Os líderes da Otan acusaram nesta quinta-feira (4/9) a Rússia de não ter dado "um passo em direção à paz" na Ucrânia, depois do anúncio de um possível cessar-fogo entre Kiev e os separatistas, que levou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, a manifestar um "otimismo prudente". "Em vez de reduzir a tensão nesta crise, a Rússia só aumentou", afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, em uma entrevista coletiva à imprensa depois de uma reunião do Conselho Ucrânia-Otan.Pouco antes, os Estados Unidos anunciaram que estavam preparando novas sanções contra a Rússia, em coordenação com a União Europeia (UE), que prepara uma nova rodada de sanções econômicas e deve tomar uma decisão política para aplicá-las na sexta-feira (5/9). "Se a Rússia aumentar a tensão, estamos preparados para intensificar a pressão", indicou a Casa Branca.
Os aliados da Otan, que realizam uma cúpula de dois dias até sexta-feira em Newport (Grã-Bretanha), haviam fixado como maior objetivo mostrar sua união frente à Rússia e manifestar apoio à Ucrânia. Nesta quinta, os integrantes da Aliança aprovaram a criação de quatro fundos para ajudar Kiev em seu esforço militar e prestar assistência aos soldados feridos no conflito com os separatistas, que deixou 2.600 mortos em cinco meses. Na sexta, os chefes de governo e de Estado devem aprovar um plano para mobilizar tropas e equipamento militar no leste da Europa.
Esforço "genuíno" pela paz
O acordo para acabar com os confrontos no leste da Ucrânia pode ser assinado em Minsk, capital de Belarus, durante uma reunião que teve a supervisão da Rússia, da União Europeia e da OSCE. "Amanhã em Minsk será assinado um documento para introduzir gradualmente o plano de paz ucraniano", disse Poroshenko à imprensa ucraniana em Newport, onde é realizada a cúpula da Otan com a participação de mais de 60 delegações. A resposta dos separatistas não tardou.
[SAIBAMAIS]Em um comunicado, eles se disseram "dispostos a ordenar um cessar-fogo na sexta-feira, caso haja um acordo e se os representantes da Ucrânia assinarem um plano para uma solução política". O anúncio foi feito depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter apresentado na quarta-feira um plano para um cessar-fogo que foi chamado de "cortina de fumaça" pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk. "O que conta é o que acontece na prática e continuamos sendo testemunhas do envolvimento da Rússia na desestabilização do leste da Ucrânia", disse Rasmussen.
"Todos os esforços para encontrar uma solução pacífica para a crise na Ucrânia são bem-vindos", acrescentou o secretário-geral da Otan, ressaltando que a Rússia deve conter o "fluxo de armas e combatentes" para o leste ucraniano e "se comprometer com um processo político construtivo." "Isto seria um esforço genuíno para proporcionar uma solução pacífica", completou.
Mais cedo, Poroshenko falou sobre a situação na Ucrânia com os líderes de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Itália. O francês François Hollande pediu um "verdadeiro cessar-fogo" para que um processo político possa ser levado adiante. O mandatário francês afirmou que um cessar-fogo e uma solução política são as duas condições que a França espera ver reunidas para entregar os dois navios de guerra encomendados pela Rússia, em um contrato de 1,2 bilhão de euros.
A Otan acusa a Rússia de enviar tropas e armamento sem identificação para o leste da Ucrânia, algo que Moscou nega. O chanceler russo, Serguei Lavrov, negou nesta quinta qualquer envolvimento da Rússia na Ucrânia e acusou os Estados Unidos de comprometerem os esforços de paz ao apoiar os "partidários da guerra". Nas frentes de batalha, havia poucos sinais de mudança. Jornalistas da AFP ouviram explosões nos arredores da cidade portuária de Mariupol e no reduto separatista de Donetsk.
Estado Islâmico na agenda
A Otan também está disposta a estudar "seriamente" os pedidos de ajuda do Iraque na luta contra os extremistas do Estado Islâmico (EI), declarou Rasmussen. "Toda a comunidade internacional tem a obrigação de conter o avanço" do EI, acrescentou. Na noite desta quinta, os líderes dos países-membros da Otan discutirão a resposta a ser dada a este grupo extremista responsável por inúmeros assassinatos e atrocidades.
A polícia iraquiana anunciou nesta quinta que os jihadistas haviam sequestrado dezenas de pessoas em um povoado do norte. Durante a cúpula, o presidente Barack Obama tentará criar uma coalizão contra o EI. Dois jornalistas americanos foram decapitados pelos extremistas e um cidadão britânico está em poder do grupo. Londres não descarta participar de ataques aéreos no Iraque.