Agência France-Presse
postado em 05/09/2014 10:13
Newport - Os Estados Unidos pediram nesta sexta-feira a nove de seus aliados a criação, antes da realização da Assembleia Geral das Nações Unidas no fim de setembro, de uma coalizão internacional para destruir o Estado Islâmico (EI). "Não devemos perder tempo para criar uma coalizão internacional para destruir a ameaça que o EI significa", afirmaram o secretário de Estado americano, John Kerry, e o secretário de Defesa, Chuck Hagel, em um comunicado conjunto.Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha organizaram na manhã desta sexta-feira à margem da cúpula da Otan uma reunião na qual participaram os ministros das Relações Exteriores de Alemanha, Austrália, Canadá, Dinamarca, França, Itália, Polônia e Turquia. "Estamos convencidos de que, nos próximos dias, teremos a capacidade para destruir o EI", disse Kerry durante o encontro.
Os Estados Unidos bombardeiam desde o início de agosto o norte do Iraque para frear o avanço do EI e permitir às tropas curdas e iraquianas avançar em terra. "Temos que atacá-los para que sejam impedidos de tomar territórios, para reforçar a capacidade das forças iraquianas, de outros na região que estão preparados para enfrentá-los, sem comprometer tropas nossas, obviamente", disse Kerry. "Esta é a linha vermelha para todos, não haverá soldados em terra", declarou, acrescentando que havia muitas formas de ajudar, "treinando, aconselhando, ajudando e equipando".
[SAIBAMAIS]Para que se torne efetiva, a coalizão, indica o comunicado, deve coordenar múltiplos aspectos: um apoio militar às Forças Armadas iraquianas, frear o fluxo de combatentes estrangeiros, contra-atacar o financiamento do EI, enviar ajuda humanitária e deslegitimar a ideologia do EI. "O presidente Barack Obama está totalmente comprometido, há uma estratégia que a cada dia é mais clara", sustentou Kerry.
Pode haver uma coalizão militar, indicou uma fonte francesa na quinta-feira, "mas não imagino que atue fora do marco legal (da ONU)" "Não podemos negar a unicidade dos cenários que Síria e Iraque representam", acrescentou. "No Iraque há um governo que pede ajuda, é um marco definido. Mas na Síria há um Estado, uma oposição, e o Estado Islâmico. É uma operação muito mais complexa em nível político e jurídico, em especial levando-se em conta que (o presidente sírio, Bashar al) Assad não é um sócio", indicou.
O presidente francês, François Hollande, que já se mostrou aberto a uma resposta militar, se reuniu nesta manhã de maneira bilateral com seu colega americano. "É necessária uma estratégia completa para pressioná-los por toda parte. É o que tentamos fazer nesta cúpula", indicou David Cameron, que pediu aos aliados que não paguem resgates pelos reféns do EI, já que é contraproducente.
Esta estratégia global inclui a entrega de armas aos combatentes curdos, na linha de frente na batalha com os militantes do Estado Islâmico no norte do Iraque. Estados Unidos, França e Itália já entregam armas. A Grã-Bretanha ainda não decidiu. A Alemanha, em uma guinada radical de sua política de não intervir no exterior, decidiu entregar 30 sistemas de mísseis antitanque, 16.000 fuzis de assalto e 8.000 pistolas.
Condenação aos atos ;selvagens;
"Nossa mensagem é clara. Estamos unidos na condenação destes atos selvagens e desprezíveis. (...) Esta ameaça só reforça nossa resolução de defender nossos valores e derrotá-los", disse o primeiro-ministro, David Cameron, no início do segundo dia da cúpula da Otan em Newport (Grã-Bretanha). O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, convocou a comunidade internacional a deter o avanço do Estado Islâmico.
Em uma coletiva de imprensa, Rasmussen indicou que a Otan está disposta a reforçar as capacidades de defesa do Iraque se as autoridades desse país pedirem. O comunicado conjunto de Kerry e Hague mostra que a Otan discutiu a forma como podem ajudar o Estado iraquiano, mas que para isso era essencial a formação de um governo. O Estado Islâmico, que controla várias regiões sírias, se apoderou de grande parte do território iraquiano desde o lançamento de uma ofensiva no dia 9 de juhno.
Este movimento de extremistas sunitas divulgou vídeos da decapitação de dezenas de pessoas, entre elas dois jornalistas americanos. A expansão do EI alarma tanto o Ocidente quanto o Oriente Médio: o Irã retirou em meio ao caos pós-eleitoral no Iraque seu apoio ao primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, acusado de promover a ascensão do EI no país com seu sectarismo. Na quinta-feira, os jihadistas do EI sequestraram dezenas de pessoas em uma aldeia do norte do Iraque, cujos habitantes teriam queimado uma bandeira do grupo e incendiado uma de suas posições militares.