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Acordo de cessar-fogo é acertado entre ucranianos e separatistas pró-russos

Os EUA preparam, em estreita coordenação com a União Europeia, novas sanções econômicas contra a Rússia para aumentar a pressão sobre o Kremlin, acusado de incitar a crise

Agência France-Presse
postado em 05/09/2014 10:24
Minsk - Kiev e os rebeldes pró-russos anunciaram a assinatura de um cessar-fogo que entra em vigor nesta sexta-feira às 15h GMT (12h de Brasília), durante uma reunião em Minsk para colocar fim a cinco meses de confrontos no leste da Ucrânia. "Confirmo que estamos dispostos a respeitar o protocolo de acordo assinado e parar os combates às 18h, hora de Kiev (15h GMT)" desta sexta-feira, declarou à imprensa o "primeiro-ministro" da autoproclamada República Popular de Lugansk, Igor Plotnitski.

O presidente ucraniano Petro Poroshenko ordenou suas tropas a cessar as hostilidades no leste do país a partir das 15h GMT, após anunciar em seu Twitter a assinatura de um "protocolo preliminar" para um cessar-fogo com os rebeldes. O Kremlin reagiu, dizendo que espera que o acordo de cessar-fogo seja "respeitado ponto por ponto". "Moscou espera que todas as disposições do documento e os acordos obtidos (em Minsk) serão respeitados por todas as partes, e que o processo de negociação em vista de uma solução completa à crise na Ucrânia prossiga", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Já o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que declarou seu ceticismo quando ao plano de paz proposto pela Rússia, indicou que espera que o anúncio de cessar-fogo seja o primeiro passo para um processo político. "Uma coisa é declarar um cessar-fogo, mas a próxima etapa crucial é a aplicação de boa fé (do cessar-fogo) e isso precisa ser visto", declarou em coletiva de imprensa ao final da cúpula da Otan em Newport.

Confrontos no leste


Não há indicações sobre a duração desta trégua, que constitui uma vitória para os separatistas e a Rússia, na medida em que poderá endossar a perda de Kiev de várias cidades do leste da Ucrânia após o avanço nas últimas semanas dos rebeldes, apoiados por militares russos. Apesar das negociações conduzidas na capital de Belarus, intensos combates foram travados nesta sexta-feira nos subúrbios da cidade estratégica portuária de Mariupol, no sul da Ucrânia, enquanto diversas explosões perto do reduto rebelde de Donetsk foram ouvidas durante a madrugada.

Mas, segundo jornalistas da AFP no local, após o anúncio de cessar-fogo os combates pararam nos arredores de Mariupol. Na estrada entre Makiivka e Yasinuvata, a nordeste de Donetsk, um grupo de separatistas custava a acreditar no cessar-fogo, já que uma de suas posições acabava de ser bombardeada. O acordo entre Kiev e os rebeldes, apoiado pelo presidente Vladimir Putin, poderia permitir a Moscou evitar novas sanções que o Ocidente está prestes a tomar.



Os Estados Unidos preparam, em estreita coordenação com a União Europeia, novas sanções econômicas contra a Rússia para aumentar a pressão sobre o Kremlin, acusado de incitar a crise que já custou cerca de 2.600 vidas desde abril. O chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond, no entanto, declarou nesta sexta-feira que as novas sanções poderiam ser suspensas em caso de cessar-fogo.

A trégua alcançada durante as discussões do "grupo de contato", reunindo a Rússia, a Ucrânia, os separatistas e a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), está muito distante do plano de paz desejado pelo primeiro-ministro ucraniano Arseniy Yatsenyuk. Ele lembrou que o plano de paz deveria incluir "a retirada das tropas russas, dos bandos e dos terroristas (os separatistas) e o restabelecimento da fronteira". Mas a margem de manobra parece pequena para Kiev, com as tropas do presidente Poroshenko perdendo terreno a cada dia.

Força rápida da Otan


Frente a atitude da Rússia na Ucrânia, a Aliança Atlântica anunciou nesta sexta-feira a criação de uma força de resposta rápida, que pode ser implantada em poucos dias em caso de escalada da crise, e que manteria uma presença permanente no leste europeu. A assinatura do acordo de cessar-fogo ocorre após o presidente russo, Vladimir Putin, apresentar um plano de paz de sete pontos, no qual pede que as forças governamentais ucranianas se retirem das regiões industriais de Donetsk e Lugansk.

Os ocidentais suspeitam das intenções do presidente russo que, descontente com o acordo de associação econômica assinado em junho entre a Ucrânia e a União Europeia, tenta a qualquer custo manter estas regiões dependentes do comércio com a Rússia. Prova desta desconfiança, Anders Fogh Rasmussen declarou na quinta-feira que "a Rússia combate contra a Ucrânia, na Ucrânia. As tropas e tanques russos atacam as forças ucranianas. Enquanto fala de paz, a Rússia não faz um único movimento para tornar a paz possível".

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