Agência France-Presse
postado em 05/09/2014 15:25
Minsk - Kiev e os rebeldes pró-russos anunciaram a assinatura de um cessar-fogo e de um acordo sobre a retirada das tropas e uma troca de prisioneiros após uma reunião, em Minsk, para por fim a cinco meses de confrontos no leste da Ucrânia.O cessar-fogo entrou em vigor às 15h00 GMT (12h00 no horário de Brasília), e nenhum tiro ou explosão foi ouvida desde então em Donetsk, reduto rebelde no leste da Ucrânia, ou em Mariupol, última grande cidade sob controle das forças ucranianas na região.
"O cessar-fogo se baseia no acordo que foi alcançado durante minha conversa telefônica com o presidente russo Putin", declarou o presidente ucraniano Petro Poroshenko, à margem da cúpula da Otan em Newport (Reino Unido).
"Esta é a razão pela qual acredito que é de nossa responsabilidade comum fazer este cessar-fogo durar por muito tempo", ressaltou.
Não há indicações sobre a duração desta trégua, que constitui uma vitória para os separatistas e a Rússia, na medida em que poderá endossar a perda de Kiev de várias cidades do leste da Ucrânia após o avanço nas últimas semanas dos rebeldes, apoiados por militares russos.
O "grupo de contato" reunindo a Rússia, Ucrânia, os separatistas e a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) chegou a um acordo sobre "a retirada das tropas, o acesso aos comboios humanitários e uma troca de prisioneiros sobre o princípio de ;todos por todos", indicou a representante da OSCE, Heidi Tagliavini.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou, por sua vez, a "todos aqueles que estão envolvidos neste acordo a provar sua boa vontade e a adotar medidas concretas para aplicá-lo totalmente, de maneira urgente e eficaz".
Já o presidente Barack Obama ressaltou que o cessar-fogo na Ucrânia poderá trazer paz "apenas se for seguido por ações concretas no terreno".
No momento em que os Estados Unidos preparam, em estreita coordenação com a União Europeia, novas sanções econômicas contra a Rússia, acusada de incitar a crise, Obama considerou ser mais prudente impor sanções contra Moscou, que poderão ser retiradas caso a trégua seja cumprida.
O cessar-fogo alcançado está muito distante do plano de paz desejado pelo primeiro-ministro ucraniano Arseniy Yatsenyuk.
Ele lembrou que o plano de paz deveria incluir "a retirada das tropas russas, dos bandos e dos terroristas (os separatistas) e o restabelecimento da fronteira".
Mas a margem de manobra parece pequena para Kiev, com as tropas do presidente Poroshenko perdendo terreno a cada dia.
Força rápida da Otan
Frente a atitude da Rússia na Ucrânia, a Aliança Atlântica anunciou nesta sexta-feira a criação de uma força de resposta rápida, que pode ser implantada em poucos dias em caso de escalada de uma crise, e que manterá uma presença permanente no leste europeu.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que declarou seu ceticismo quando ao plano de paz proposto pela Rússia, indicou que espera que o anúncio de cessar-fogo seja o primeiro passo para um processo político.
"Uma coisa é declarar um cessar-fogo, mas a próxima etapa crucial é a aplicação de boa fé (do cessar-fogo) e isso precisa ser visto", declarou em coletiva de imprensa ao final da cúpula da Otan.
A criação da nova força da Otan foi criticada por Moscou, que disse "se tratar de uma modificação significativa da situação militar na região", segundo o representante da Rússia na Aliança, Alexandre Gruchko.
A assinatura do acordo de cessar-fogo ocorre após o presidente russo, Vladimir Putin, apresentar um plano de paz de sete pontos, no qual pede que as forças governamentais ucranianas se retirem das regiões industriais de Donetsk e Lugansk.
Os ocidentais suspeitam das intenções do presidente russo que, descontente com o acordo de associação econômica assinado em junho entre a Ucrânia e a União Europeia, tenta a qualquer custo manter estas regiões dependentes do comércio com a Rússia.
Confrontos no leste
Antes do anúncio do cessar-fogo, intensos combates foram travados nesta sexta-feira nos subúrbios da cidade estratégica portuária de Mariupol, no sul da Ucrânia, enquanto diversas explosões perto do reduto rebelde de Donetsk foram ouvidas durante a madrugada.
A queda do porto de Mariupol abriria aos separatistas o caminho para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em março.
De acordo com uma nota dos consultores políticos do Eurasia Group, "um cessar-fogo permanente permanece incerto, dada as diferenças fundamentais entre a Rússia e a Ucrânia sobre o que seria necessário a um acordo de paz", incluindo a negação de Kiev de retirar suas tropas do leste e aceitar o modelo de federalização reivindicado pelo Kremlin há meses.