Agência France-Presse
postado em 07/09/2014 09:02
Cabul - Um juiz afegão condenou sete homens à morte, neste domingo, por terem estuprado quatro mulheres em um caso que gerou indignação e deu destaque à violência contra a mulher no país desde a era do Talibã. Os sete acusados foram considerados culpados pelo sequestro e estupro de um grupo de mulheres que voltavam de carro para casa em Cabul, vindas de um casamento.O presidente Hamid Karzai havia pedido que os réus fossem enforcados. Tecnicamente, as penas de morte foram proferidas pelo crime de assalto à mão armada, e não pelo estupro. Em um julgamento de poucas horas transmitido pela televisão, a Corte ouviu que os homens, com uniformes da polícia e armados, pararam um comboio de carros na manhã de 23 de agosto.
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Eles arrastaram quatro mulheres para fora dos veículos, roubaram seus pertences, espancaram-nas e, depois, cometeram os estupros. Uma delas disse que estava grávida. "Fomos a Paghman com nossas famílias. Na volta, eles nos pegaram", contou uma das vítimas, vestida de burca, ao tribunal, enquanto pessoas protestavam, pedindo a pena de morte. "Um deles colocou uma arma na minha cabeça, o outro levou todas as minhas joias, e o resto começou o que vocês já sabem", detalhou.
Os aplausos tomaram a Corte depois que o chefe de polícia de Cabul proferiu a sentença de pena de morte por enforcamento. De acordo com a lei em vigor no Afeganistão, o presidente deve ratificar a sentença de pena de morte para que ela seja executada.
Ameaça aos direitos da mulher?
Desde a queda do regime talibã em 2001, os direitos das mulheres têm sido considerados centrais nos projetos multibilionários para o desenvolvimento do Afeganistão. Pelas leis do regime talibã, as mulheres eram forçadas a vestir burca, proibidas de trabalhar e não podiam sair de casa sem a companhia de um homem.
Segundo a Anistia Internacional, o estupro e a violência contra mulheres e meninas eram frequentes, mas as afegãs continuam sendo rotineiramente discriminadas, abusadas e perseguidas. O estupro das quatro mulheres desencadeou uma onda de protestos nas ruas do país, na mídia e na Internet, ecoando crimes parecidos ocorridos na Índia. O episódio ganhou as páginas de jornais do mundo todo.
Na semana passada, a embaixada americana em Cabul condenou "o brutal roubo, espancamento e estupro" e pediu justiça às autoridades. Hassina Safi, do grupo ativista Rede de Mulheres Afegãs, elogiou a condenação à morte. "Consideramos que é um grande passo e uma conquista para as mulheres do Afeganistão. Eu gostaria que mais casos fossem decididos abertamente, para que não tivéssemos de ser vítimas de atos abomináveis como este", declarou.
A ONG Human Rights Watch avalia que o Afeganistão falhou em garantir o devido processo legal e que os acusados deveriam ter tido um julgamento justo.