Agência France-Presse
postado em 08/09/2014 17:01
Ramallah - Pouco depois de sair de casa em Gaza, Abu Jihad levou nove tiros na perna por ter desrespeitado a prisão domiciliar imposta pelo Hamas a 300 integrantes do Fatah, seu rival histórico."Eu nunca tinha pensado que o Hamas, ou qualquer movimento palestino me atacaria", afirma este morador de Gaza, de 27 anos, internado em um hospital de Ramallah. Jihad aceita contar seu calvário com um nome falso e sem revelar o nome do centro médico onde está.
Jihad foi levado da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, para receber tratamento na Cisjordânia, onde fica a sede da Autoridade Palestina, do presidente Mahmud Abbas, líder do Fatah.
Em Gaza, onde o grupo radical Hamas tomou o poder à força em 2007, os integrantes do Fatah -do simples militante às autoridades de maior escalão- evitam se identificar por temerem represálias.
O Hamas colocou em prisão domiciliar 300 integrantes do Fatah e dezenas deles foram atacados a tiros para que respeitassem a ordem, disseram.
"O Fatah não se atreve a enfrentar o Hamas"
Ibrahim, uma liderança do Fatah, quer contar sua história, já que ninguém, nem a direção do partido na Cisjordânia, apoia seus membros em Gaza. "Na melhor das hipóteses, eles nos enviam uma mensagem desejando nossa pronta recuperação, mas não se atrevem a enfrentar o Hamas", afirma.
"Para evitar que o Hamas os ataque, muitos membros do partido entraram para a Jihad Islâmica", a segunda maior força em Gaza, diz Abu Iyad, outro militante do Fatah.
O segundo dia de guerra com Israel na Faixa de Gaza, "quatro homens vestidos de preto, armados e mascarados" chegaram à casa de Ibrahim e entregaram a ele um papel com o selo oficial das Brigadas Ezzedin al-Qassam, braço armado do Hamas.
"Para sua própria segurança, pedimos que não deixe sua casa durante todo o período de guerra", indica o comunicado. "Nosso único erro é pertencer ao Fatah", afirma Ibrahim diante da ausência de acusações no texto.
[SAIBAMAIS]Abu Ahmed, de 23 anos, está convencido de que levou 19 tiros nas pernas por pertencer ao Fatah. "Eles me colocaram contra a parede, atiraram e gritaram: ;Este é o nosso presente para o Fatah;", explica à AFP em um hospital da Cisjordânia.
"Se o Hamas duvida de nós, por que não nos executa como fez recentemente com 18 pessoas acusadas de colaboração? Por que não nos julga e abre uma investigação?", afirma Abu Jihad.
"Em nossa sociedade, onde a reputação está acima de tudo, famílias inteiras vivem agora com medo", afirma uma autoridade do Fatah em Gaza. "O Hamas questiona a dignidade e o patriotismo de nossos militantes, sendo que alguns lutaram e perderam parentes em combate".
Procurado pela AFP, o Hamas garantiu que essas prisões domiciliares não têm motivação política e que estavam relacionadas a "procedimentos judiciais contra pessoas, incluindo membros do Fatah".