Agência France-Presse
postado em 10/09/2014 14:47
Monróvia - Impotência na Libéria, alívio relativo no Senegal: os países africanos atingidos pela epidemia de ebola tentam desesperadamente frear o avanço incontrolável do vírus.
"Estamos aterrorizados. Os doentes chegam em grande número", declarou nesta quarta-feira (10/9) Sophie Jan, uma porta-voz da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Libéria.
No centro anti-ebola de Monróvia, os doentes continuam a chegar sem cessar, enquanto a Libéria é atualmente o país mais atingido pela epidemia.
Na terça-feira, o ministro da Defesa da Libéria, Brownie Samukai, declarou em discurso nas Nações Unidas que seu país "enfrenta uma séria ameaça a sua existência nacional". A doença agora "está se propagando como um incêndio fora de controle, devorando tudo em seu caminho", afirmou em tom de desespero.
A fim de coordenar sua ajuda aos países africanos atingidos pela epidemia, a Comissão Europeia organizará na segunda-feira (8/9) uma reunião com especialistas e ministros. A Comissão anunciou na semana passada o desbloqueio de 140 milhões de euros para reforçar os serviços de saúde nos países afetados.
O surto, o pior desde a identificação desta febre hemorrágica em 1976, fez 2.296 mortos de um total de 4.293 casos registrados. Destes, 1.224 mortes foram na Libéria, de acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) até 6 de setembro.
Quatro países do oeste africano lutam contra o vírus: Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria. Em Serra Leoa, onde cerca de 500 pessoas morreram, espera-se um aumento do número de vítimas por ocasião de uma operação particularmente radical. As autoridades anunciaram um confinamento a domicílio de seis milhões de pessoas a partir de 19 de setembro por 72 horas.
"Nós prevemos um aumento de 5 a 20% do número de caso durante esta tentativa de romper o canal de transmissão", explicou Steven Ngaoja, que dirige o centro governamental anti-ebola.
A epidemia também devasta a economia. A taxa de crescimento de Serra Leoa deverá passar de 11,3% a 7%. O Banco Mundial também prevê um recuo da economia da Guiné, cujo crescimento deve passar de 4,5% a 3,5%. Para o alívio das autoridades locais, o Senegal anunciou a cura do único caso confirmado de ebola no país, um estudante guineense que foi tratado em um hospital da capital senegalesa.
O Senegal, depois de vários alarmes falsos, tornou-se o quinto país no final de agosto afetado pela epidemia, com a descoberta do caso do estudante que entrou no país pouco antes do fechamento das fronteiras com Guiné em 21 de agosto.
Medo da morte
Em Monróvia, a situação continua dramática nesta quarta-feira (10/9), confirmando que o vírus encontra terreno particularmente fértil em países com infra-estrutura de saúde debilitada.
Um paciente que mal se mantinha em pé teve seu acesso negado a um centro de tratamento, já superlotado de doentes. "Eu vim para cuidar de mim, mas eles me disseram que não há mais espaço. Tenho dores de cabeça e febre. Vou para casa", disse à AFP, sob o olhar dos curiosos.
Perto dali, uma mulher suplica: "Senhor, ajude-nos a não acabar como este homem e dê força a ele para que possa chegar a sua casa".
Muitos na capital pedem o reforço das medidas preventivas. Essas chamadas têm aumentado desde o anúncio na segunda-feira (8/9) pela OMS de que "vários milhares de novos casos de ebola na Libéria são esperados nas próximas três semanas."
"Emmanuel, não saia de casa hoje. Não deixa ninguém entrar", pede a seu filho mais velho Kluboh Johnson, uma mulher de 45 anos de idade prestes a ir para o trabalho. "Eu estou com medo. Não sei o que fazer. Será que vamos morrer?", pergunta.
[SAIBAMAIS]A organização das Nações Unidas reconheceu na terça-feira (9/9) que seria impraticável impedir a propagação do vírus em áreas onde ela "aumenta exponencialmente", como em Monrovia, e que é uma prioridade em primeira instância "reduzir a transmissão".
A fundação Bill e Melinda Gates anunciou nesta quarta-feira (10/9) a doação de 50 milhões de dólares "para acelerar as operações de emergência".
Além disso, preocupados com o risco de contaminação, alguns pilotos da Air France, após comissários de bordo, se recusam a realizar voos em direção a países atingidos pela doença.