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Multidão amarela e vermelha pede referendo separatista na Catalunha

As pessoas podem a realização, no dia 9 de novembro, de um referendo sobre a independência da região

Barcelona - Usando as cores amarela e vermelha da bandeira catalã, uma maré humana percorreu as principais vias da cidade para exigir a realização, no dia 9 de novembro, de um referendo sobre a independência da região. A manifestação gerou uma guerra de números: 1,8 milhão de pessoas, segundo a Prefeitura de Barcelona - do partido nacionalista catalão CiU - e entre 470 mil e 520 mil, de acordo com a delegação do governo espanhol na Catalunha.



"Não será fácil porque vão nos impor muitos obstáculos, mas conseguiremos. Espero chegar a ver isso", confessou. Com ela, a jovem Laura Sánchez Lora, de 16 anos, se mostrava ansiosa para votar no dia 9 de novembro, no que será o seu primeiro encontro com as urnas. "Não é só por uma questão sentimental. Agora, mais do que nunca, a Catalunha precisa de um Estado que defenda seu idioma, sua cultura e sua economia", opinou.

Pressão cidadã

Nas esquinas das diferentes ruas, foram erguidas dezenas de "castells", enormes torres humanas típicas da região, enquanto os espectadores gritavam: "In, Inde, Independência". "Juntos, aqui, convocamos a consulta. Parlamento catalão, governo, presidente da Catalunha, venham às urnas no dia 9 de novembro", pediu em seu discurso Carme Forcadell, presidente da Assembleia Nacional Catalã, principal associação civil separatista.

[SAIBAMAIS]"Temos que pressionar o máximo, não podem nos parar", afirmou Roger Farssac, um técnico em informática de 45 anos. Em 2012, uma imensa manifestação em Barcelona precipitou a o processo de autodeterminação. Em 2013, uma corrente humana separatista de 400 quilômetros obrigou o governo catalão a fixar a data da votação para o dia 9 de novembro.

Impossível impedir o voto

O presidente catalão, Artur Mas, advertiu Madri que "é praticamente impossível impedir para sempre" a consulta na Catalunha. É absurdo pretender isso e acredito que o Estado espanhol deve perceber", declarou na quarta-feira em uma entrevista à AFP em seu gabinete no palácio de la Generalitat, sede do governo catalão. A falta de iniciativa do governo central parece ter dado asas ao independentismo nesta região de 7,5 milhões de habitantes de onde sai um quinto da riqueza espanhola.

O desentendimento começou em 2010, quando o Tribunal Constitucional privou a Catalunha - que tem amplas cotas de autogoverno em educação, saúde e segurança - de seu status de nação incluído no estatuto de autonomia regional aprovado em 2006. Dois anos depois, a divisão se acentuou quando o governo central negou um melhor financiamento a esta região muito afetada pela crise.

Nos próximos dias, Mas espera convocar sob o amparo de uma lei regional esta consulta que constará de uma dupla pergunta: "Quer que a Catalunha seja um Estado? Quer que seja um Estado independente?". Ao contrário de Londres, o governo de Mariano Rajoy se opõe fortemente à consulta e pensa em impugná-la na justiça porque, na sua opinião, viola a Constituição de 1978, que consagra a "indissolúvel unidade da nação espanhola".