Agência France-Presse
postado em 15/09/2014 08:45
Roma - Cerca de 500 imigrantes se encontra desaparecidos após a colisão de duas embarcações que acabaram naufragando perto de Malta, o que seria o caso mais grave do tipo registradono Mediterrâneo, anunciou nesta segunda-feira (15/9) a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Este elevado balanço se soma às dezenas de imigrantes clandestinos desaparecidos em um outro naufrágio no domingo, a leste de Trípoli, segundo a Marinha líbia.Ao mesmo tempo, a Marinha italiana informou nesta segunda-feira ter resgatado 2.380 pessoas durante o fim de semana, como parte do vasto programa "Mare Nostrum" criado após a morte de mais de 400 imigrantes em dois naufrágios em outubro. Segundo as autoridades de Malta, a colisão envolveu um navio transportando de 300 a 400 imigrantes e um outro com 30 pessoas a bordo, que aparentemente se chocou deliberadamente contra o outro, provocando o naufrágio das duas embarcações.
A tragédia, que ocorreu na quarta-feira em águas internacionais a 300 milhas náuticas no sudeste de Malta, foi constatada quando um cargueiro panamenho resgatou duas pessoas na quinta-feira. A OIM interrogou essas duas testemunhas, dois jovens palestinos de Gaza, que desembarcaram no sábado em Pozzallo, no sul da Sicília. Interrogados separadamente, eles explicaram que partiram em 6 de setembro de Damietta, no Egito, com outras 500 pessoas, entre sírios, palestinos, egípcios e sudaneses.
De acordo com os depoimentos, os traficantes obrigaram os imigrantes a trocar várias vezes de embarcação. Na quarta-feira, pediram que saltassem para um barco menor e mais precário. Quando os passageiros se rebelaram, os traficantes, que estavam em outra embarcação, avançaram contra o barco dos imigrantes, que sofreu o naufrágio. Os dois palestinos foram resgatados no dia seguinte. Sete outras pessoas, todas inconscientes e com hipotermia, foram socorridas e levadas de helicóptero para um hospital na Grécia. Uma menina morreu durante o trajeto.
Homicídio em massa
As autoridades italianas abriram uma investigação. Caso as informações sejam confirmadas, seria o naufrágio com o maior número de vítimas dos últimos anos, especialmente por não ser um acidente e sim um "homicídio em massa", denunciou a OIM. Ao largo da Líbia, 36 pessoas, incluindo três mulheres, foram resgatadas pela Marinha. Segundo o coronel Kassem Ayoub, havia "200 pessoas ou mais" a bordo do barco que afundou. "Havia um monte de corpos flutuando. Mas a falta de recursos não nos permitiu recuperar os corpos", disse à AFP.
Além disso, 102 imigrantes africanos foram resgatados nesta segunda-feira na costa de Guarabouli, 60 km a leste de Trípoli, de acordo com a Guarda Costeira, que também relatou três mortos e três desaparecidos. A Líbia é um país de trânsito para as praias da Europa para muitos imigrantes, principalmente africanos, que pagam muito caro para viajarem em barcos frágeis esperando alcançar Malta ou a ilha italiana de Lampedusa, ao sul da Sicília. No final de agosto, cerca de 170 africanos desapareceram em outro naufrágio na costa da Líbia, onde o caos reina absoluto permitindo aos traficantes multiplicar as partidas nas últimas semanas.
Em visita no domingo ao centro de resgate marítimo de Malta, o alto comissário da ONU para os refugiados, António Guterres, pediu um esforço verdadeiramente coletivo por parte da Europa para evitar novas tragédias em sua porta. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 2.200 pessoas morreram ou desapareceram ao tentar atravessar o Mediterrâneo desde junho, e 130.000 chegaram à Europa por mar a partir de 1; de janeiro.