Agência France-Presse
postado em 17/09/2014 08:43
Kuala Lumpur - Quase um terço dos 350 mil trabalhadores da indústria eletrônica da Malásia - um importante fornecedor para as grandes marcas mundiais - sofrem com condições similares à "escravidão moderna", afirma um relatório da ONG Verite, que tem sede nos Estados Unidos. Pelo menos 28% dos trabalhadores das fábricas de produtos eletrônicos de Malásia - em particular os imigrantes de países vizinhos - estão vinculados por contrato a uma espiral de servidão.O estudo, realizado com base em entrevistas com 501 trabalhadores do setor em todo o país, foi solicitado pelo governo dos Estados Unidos, que dispõe de uma legislação para proibir a importação de produtos fabricados com mão de obra forçada, destacou a Verite. "Os resultados sugerem que o trabalho forçado está presente na indústria eletrônica da Malásia e, de fato, pode ser caracterizado como generalizado", afirma a Verite.
A indústria eletrônica é uma peça chave da economia da Malásia e fornece semicondutores, periféricos de informática, equipamentos de comunicação e outros produtos a marcas famosas como Apple, Samsung e Sony. Mas o sucesso do setor é baseado, em parte, na exploração dos trabalhadores estrangeiros, pobres e vulneráveis procedentes da Indonésia, Nepal, Índia, Vietnã, Bangladesh e Mianmar, afirma o estudo da ONG.
Um dos fatores cruciais da exploração é o pagamento de taxas de contratação pelos trabalhadores, o que gera dívidas. Os valores cobrados, tanto nos países de origem dos trabalhadores como na Malásia, "geralmente excedem os parâmetros legais e industriais equivalentes a um mês de salário", afirma o estudo. Os trabalhadores denunciam também as mentiras sobre as condições de trabalho e as pressões para horas extras.
No total, 38% dos trabalhadores estrangeiros entrevistados denunciaram que são obrigados a dormir em quartos pequenos, onde são colocadas até oito pessoas, e que a liberdade de movimento é restrita, já que os passaportes são apreendidos. "Ficar com nossos passaportes é, nem mais nem menos, a escravidão moderna", afirmou um trabalhador birmanês, segundo o documento. Funcionários do governo e as diretorias das principais empresas não reagiram ao estudo até o momento.