Agência France-Presse
postado em 17/09/2014 10:34
Glasgow - Nacionalistas e unionistas tomaram as ruas da Escócia nesta quarta-feira (17/9) para as últimas horas da campanha, um dia antes do referendo que decidirá sobre o rompimento ou a permanência no Reino Unido depois de 307 anos. As pesquisas apontam uma leve vantagem do "Não", mas com pequena margem, comparada ao número de indecisos.Os analistas concordam que uma previsão é muito difícil, pois esperam que uma participação superior a qualquer eleição anterior no país. "Venceremos", disse o ex-primeiro-ministro trabalhista britânico Gordon Brown, escocês, que nas últimas semanas assumiu o comando da campanha unionista. Brown discursou em um centro comunitário de Glasgow diante de centenas de pessoas e apelou para a história comum, em uma defesa da permanência da Escócia no Reino Unido.
"Lutamos duas Guerras Mundiais juntos. Não há um cemitério na Europa em que não estejam lado a lado um escocês, um galês, um inglês e um irlandês. Quando lutaram, nunca perguntaram de onde vinham", disse. O líder independentista Alex Salmond, chefe de Governo regional, escreveu uma carta aos escoceses com um pedido para que não deixem escapar a oportunidade. "Acordem na sexta-feira no primeiro dia de um país melhor. Sabendo que o fizeram, sabendo que fizeram com que acontecesse", escreveu Salmond.
"Isto é sobre deixar o futuro de vosso país em vossas mãos. Não deixem que a possibilidade escorregue. Não deixem que digam a vocês que não podemos. Vamos fazer". Até mesmo uma derrota teria algo de vitória para Salmond, porque os partidos britânicos se comprometeram a ceder mais autonomia à Escócia caso o país permaneça no Reino Unido. Salmond encerrará a campanha à noite em Glasgow, mas durante a manhã visitou uma fábrica no subúrbio da capital econômica da Escócia.
Além disso, ele deu uma entrevista à rádio BBC, após uma semana de tensão com a emissora pública, que ele acusa de cobertura tendenciosa da campanha, e se declarou seguro da vitória. "Na sexta-feira, quando o "Sim" tiver vencido, e espero que por boa margem, os políticos de Londres cantarão uma canção muito diferente", disse, em uma referência aos acenos do primeiro--ministro David Cameron e os outros líderes aos escoceses.
Os independentistas se reuniram na praça George de Glasgow, onde exibiram seus símbolos diante da estátua do escritor Walter Scott. "Na sexta-feira vou sair e dançar um puco pela cidade para celebrar", disse à AFP um sorridente Frank Evans, eleitor do "Sim", de 62 anos, que compareceu à praça com a filha.
Pequena vantagem do "Não" nas pesquisas
Duas novas pesquisas divulgadas na terça-feira apontam uma pequena vantagem do "Não". De acordo com o instituto ICM, o "Não" tem 45% das intenções de voto, contra 41% do "Sim", com 14% de indecisos. O instituto Opinium mostra um resultado de 49%-45%, com 6% de indecisos. Mas os analistas advertem para a dificuldade de qualquer previsão, pois o índice de participação deve superar 80%, 30 pontos a mais que nas últimas eleições regionais. Além disso, o referendo deve receber os votos de setores da sociedade que normalmente não comparecem às urnas, como os moradores dos subúrbios pobres.
"Todas as previsões sugerem uma participação acima de 80%", disse Mary Pitcaithly, a funcionária que anunciará o resultado oficial na sexta-feira. Os locais de votação abrirão as portas às 6h GMT (3h de Brasília) e os eleitores poderão comparecer até 21h GMT (18h de Brasília). Os resultados devem ser conhecidos no fim da noite ou durante a madrugada. Quase 4,3 milhões de pessoas acima de 16 anos, residentes na Escócia - 97% dos que podem votar -, estrangeiros e britânicos incluídos, se registraram para participar no referendo. "É um acontecimento que provocou o interesse do mundo pela Escócia como nunca antes", afirmou à AFP Magnus Gardham, editor de política do jornal The Herald.