Agência France-Presse
postado em 22/09/2014 16:08
Kiev - O exército ucraniano se preparava para retirar suas forças na linha de frente, uma nova etapa na desmilitarização do conflito no leste do país após uma acordo de cessar-fogo de forma geral respeitado, e antes de discutir a difícil questão do estatuto das regiões separatistas.Ainda há confrontos esporádicos, com dois soldados ucranianos mortos nas últimas 24 horas, mas a situação no terreno melhorou significativamente e o número de civis mortos em bombardeios diminuiu nos últimos dias.
Sinal de calma, comboios de ajuda russa e ucraniana conseguiram entrar durante o fim de semana em Donetsk e Lugansk. E pela primeira vez desde 26 de julho um trem de Kiev chegou nesta segunda-feira a Lugansk.
Depois da assinatura no sábado de um plano de paz de nove pontos prevendo o congelamento no front e a implementação de uma zona tampão de 30 km, os beligerantes multiplicaram suas declarações tranquilizadoras.
O presidente ucraniano Petro Poroshenko comemorou no domingo à noite uma desescalada no conflito, ressaltando que a resolução da crise não inclui unicamente uma solução militar.
No entanto, ele alertou os separatistas e a Rússia, de que seu país estava pronto para se defender militarmente se o processo de paz fracassar.
Do lado separatista, o líder da autoproclamada República Popular da Donetsk (DNR), Andrei Purguine, considerou como reais as chances de aplicação do plano de paz.
"Os acordos serão cumpridos, mas com grande dificuldade", disse à AFP.
Nenhum tiro a partir da Rússia
Por sua vez, o exército ucraniano anunciou o início da implementação das disposições do plano de paz, que, além da zona de segurança, inclui a proibição de voos sobre as regiões separatistas e a retirada das peças de artilharia de ambos os lados.
"Estamos nos preparando para retirar as armas pesadas 15 km" do front, assegurou o porta-voz do exército, Andrii Lysenko.
Nas últimas 24 horas "não constatamos quaisquer violações da fronteira ucraniana nem de nosso espaço aéreo" pela Rússia, assegurou Lysenko.
"Da mesma forma, não há registro de disparo a partir do território russo, o que demonstra a aplicação prática (pela Rússia) dos pontos do plano de paz adotado por iniciativa do presidente ucraniano", concluiu.
Mas, depois de cinco meses de um conflito que custou cerca de 2.900 vidas e que provocou a maior crise desde o fim da Guerra Fria entre a Rússia e o Ocidente, a resolução do conflito que começou em novembro de 2013 com um protesto pró-europeu em Kiev que levou à queda do presidente Viktor Yanukovytch, seguido de uma anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia e o despertar separatista pró-russo no leste do país não parece fácil.
Nem independência nem federalismo
Após o acerto das questões militares, resta o problema do estatuto das regiões separatistas que deveria ser negociado em Minsk, mas que não foi mencionado.
Os rebeldes rejeitaram até o momento as propostas de Kiev de conferir maior autonomia por três anos às áreas sob seu controle, além da organização de eleições locais em 7 de dezembro e uma anistia condicional aos combatentes rebeldes.
O "líder" da República autoproclamada de Lugansk, Igor Plotnitski;, considerou nesta segunda-feira que as autoridades de Kiev deveriam reconhecer a independência de fato de sua "República".
"Que elas (as autoridades de Kiev) chamem isso de um estatuto especial, se quiserem, mas se as leis ucranianas não se aplicam em uma área este é um reconhecimento de fato da nossa independência, só que com outras palavras", disse ele. Por sua parte, Kiev reiterou sua rejeição à "independência" e a qualquer "federalismo".