Agência France-Presse
postado em 27/09/2014 10:09
Cairo - O tribunal que julga Hosni Mubarak adiou para 29 de novembro o veredicto contra o ex-presidente egípcio por cumplicidade na morte de centenas de manifestantes durante a revolta que o derrubou do poder em 2011. Durante a audiência no Cairo, o juiz Mahmoud Kamel al-Rashidi declarou não ter tido tempo suficiente para redigir as 2.000 páginas explicando sua decisão.[SAIBAMAIS]Mubarak, de 86 anos e com a saúde debilitada, ouviu com expressão tranquila em uma cadeira de rodas o anúncio do juiz. Depois disso, voltou para o hospital militar no Cairo, onde permanece detido. O mesmo tribunal também deverá pronunciar-se sobre outro caso, desta vez de corrupção, envolvendo o presidente deposto e seus dois filhos, Alaa e Gamal. Em maio passado, o ex-presidente foi condenado a três anos de prisão por corrupção.
Mubarak, que governou o país com mão de ferro por 30 anos, é acusado de "cumplicidade" na morte de centenas de manifestantes durante a revolta de 18 dias que levou à sua renúncia em 11 de fevereiro de 2011. De acordo com um balanço oficial, 846 pessoas morreram e milhares ficaram feridas durante o levante há quase quatro anos.
O ex-presidente está sendo julgado com o ex-ministro do Interior, Habib al-Adly, e seis ex-altos funcionários dos serviços de segurança. Em um primeiro julgamento em junho de 2012, Mubarak foi condenado à prisão perpétua, mas a sentença foi anulada por motivos técnicos e o processo precisou ser reiniciado.
O contexto político atual é, no entanto, muito diferente do existente no país em junho de 2012. Há dois anos, o Egito realizava suas primeiras eleições presidenciais democráticas, que elegeram o primeiro presidente civil e islâmico, Mohamed Mursi, o que parecia ser o fim da autocracia que caracterizou os governos anteriores do país.
Atualmente, Mursi, derrubado pelo exército após um ano de governo, está na prisão, e os militares retornaram ao poder com força total personificada pelo ex-comandante-em-chefe do exército, Abdel Fatah al-Sissi, eleito presidente no final de maio 2014, com amplo apoio popular.
A oposição islâmica tem sido brutalmente reprimida. Cerca de 1.400 partidários da Irmandade Muçulmana, à qual pertence Mursi, foram mortos na repressão e milhares de outros foram presos. Centenas deles foram condenados à morte em julgamentos em massa que causaram críticas da comunidade internacional.
Sissi continua a repetir que a estabilidade do país é uma prioridade, à frente das liberdades e direitos civis e humanos. Sua posição encontrou amplo apoio entre a população, cansada de três anos de caos e dificuldades econômicas.
Desde a queda de Mursi em julho de 2013, o Egito também sofreu ataques jihadistas contra as forças de segurança. E até mesmo a revolta de 2011 foi desacreditada, e numerosos meios de comunicação a veem como uma conspiração para minar o Egito.