Agência France-Presse
postado em 27/09/2014 16:39
Damasco - A coalizão anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos ampliou neste sábado seus ataques na Síria e no Iraque, onde aviões britânicos realizaram sua primeira missão.Os novos ataques aéreos liderados por caças americanos, mas que também tiveram a participação da Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, atingiram sete alvos na Síria e três no Iraque, segundo o comando americano para o Oriente Médio e Ásia Central (Centcom).
Os ataques na Síria tiveram como alvo especialmente a região curda de Ain al-Arab (Kobane em curdo), no norte do país, onde um edifício usado pelo Estado Islâmico (EI) e dois veículos blindados foram atingidos. Apesar destes bombardeios - os segundos realizados pela coalizão internacional esta semana na região - os jihadistas do EI atacaram com foguetes Ain al-Arab, forçando 160.000 pessoas a se refugiar na vizinha Turquia devido ao avanço dos jihadistas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os foguetes, "lançados pelo EI a partir de colinas 8 km a oeste de Kobane", deixaram 12 feridos, informou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane, destacando que "é a primeira vez que foguetes do EI atingem a vila desde a ofensiva lançada contra esta região em 16 de setembro". Os ataques da coalizão também tiveram como alvo a província de Raqa (norte), considerada reduto do grupo extremista sunita, onde "um aeroporto controlado pelo EI, uma caserna e um campo de treinamento foram atingidos", segundo o Centcom.
As operações, que começaram na terça-feira após ataques semelhantes realizados desde agosto no Iraque, são hoje conduzidas "quase continuamente", segundo uma autoridade americana, que não quis se identificar. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), outros ataques foram direcionados pela primeira vez na província de Homs, enquanto se concentravam até então principalmente no leste e norte do país, onde o EI controla extensas áreas.
As muitas atrocidades, incluindo a decapitação de estrangeiros, cometidas pelo EI em áreas sob seu controle levaram os Estados Unidos a criar uma coalizão internacional para "destruir (...) a rede da morte", nas palavras do presidente Barack Obama. Reino Unido atacará no Iraque Esta aliança recebeu um reforço de peso na sexta-feira com a decisão do Reino Unido de atacar os jihadistas no Iraque, onde apenas os Estados Unidos e a França têm atuado.
Neste sábado, dois caças-bombardeiros Tornado GR4 da Royal Air Force (RAF) deixaram a base de Akrotiri, no Chipre, "sobrevoam o Iraque e estão prontos para serem utilizados em combate" se alvos forem identificados, informou o ministério da Defesa em um comunicado. Os aviões não realizaram bombardeios, pois não foi identificado "nenhum alvo necessitando de um ataque aéreo imediato", prosseguiu o ministério. Dinamarca e Bélgica também decidiram participar da coalizão, enviando seus caças F-16 para futuros ataques no Iraque.
Além disso, neste sábado, o Irã anunciou que atacará os jihadistas do Estado Islâmico caso se aproximem de sua fronteira. "Se o grupo terrorista Daesh (acrônimo em árabe do Estado Islâmico) se aproximar de nossa fronteira, nós atacaremos no território iraquiano e não permitiremos que se aproximem de nossa fronteira", declarou o general Ahmad Reza Purdastab.
Na sexta-feira a coalizão atacou na Síria instalações petroleiras controladas pelos jihadistas na província de Deir Ezor (leste), um centro de comando do EI, próximo a Al Mayadin, na mesma província, assim como a instalações petroleiras e a uma base dos jihadistas na província de Hasaka (nordeste). O grupo ultrarradical controla amplos setores nas cinco províncias iraquianas, incluindo em Diyala, no leste, na fronteira com o Irã. O Irã xiita, aliado do governo iraquiano e muito hostil aos extremistas sunitas do EI, afirma apoiar o governo de Bagdá e as forças curdas iraquianas em seu combate aos jihadistas. Armas e conselheiros militares foram enviados por Teerã.
O EI suspendeu a extração de petróleo em seis campos que controla em Deir Ezor por medo dos bombardeios americanos, ficando sem uma importante fonte de renda, informaram nesta sexta-feira os moradores da região. Desde julho, o EI controla a maior parte da província petroleira de Deir Ezor e a maior parte dos campos de petróleo da região, segundo o OSDH, uma ONG com sede no Reino Unido.
O EI produz mais petróleo do que o governo sírio. O ministério do Petróleo sírio estima que os jihadistas extraiam 80.000 barris diários, enquanto a produção governamental caiu até os 17.000 barris diários. - Washington é alvo de críticas de Moscou - Também neste sábado, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, aliado do regime sírio, criticou, na tribuna da ONU, o intervencionismo militar americano no mundo.
"Washington declarou abertamente seu direito de usar a força de forma unilateral por toda parte para defender seus interesses", denunciou o ministro russo. Para Moscou, os ataques na Síria têm um caráter ilegal, uma vez que não são efetuados em coordenação com Damasco.
Os Estados Unidos excluíram, explicitamente, qualquer participação do Estado sírio na coalizão e apoia facções rebeldes consideradas moderadas, que combatem os jihadistas e o regime de Bashar al Assad.
Na sexta-feira, a conselheira do presidente Barack Obama sobre segurança nacional, Susan Rice, reuniu-se na sexta-feira com a oposição moderada síria na Casa Branca. Durante o encontro, Rice disse que os ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos na Síria "têm como objetivo o Isis", e discutiu formas de "apoiar a oposição moderada para avançar os nossos objetivos comuns de combater o Isis e fortalecer as perspectivas de uma transição política", afirmou em um comunicado, usando o nome alternativo dado ao grupo EI.