Agência France-Presse
postado em 30/09/2014 08:38
Beirute - A campanha aérea lançada há uma semana pelos Estados Unidos e seus aliados na Síria parece ter tido um impacto limitado na organização Estado Islâmico (EI), que esvaziou suas principais infraestruturas e se misturou entre a população, segundo especialistas. Depois de lançar bombardeios contra posições do EI no Iraque no dia 8 de agosto, os Estados Unidos passaram a dirigir a partir de 23 de setembro ataques aéreos contra posições deste grupo na Síria.Os especialistas consideram que é cedo para fazer um primeiro balanço dos bombardeios na Síria, que levaram o grupo jihadista a abandonar suas posições mais visíveis. "O EI se tornou menos visível que antes, quando se viam patrulhas jihadistas nas cidades controladas por eles. Atualmente desapareceram", declara à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede na Grã-Bretanha.
[SAIBAMAIS]"Os jihadistas se misturaram à população", acrescenta Rami Abdel Rahman. Assim, por exemplo, colocaram seus blindados no meio de uma localidade do leste da Síria. Para Thomas Pierret, especialista de Síria na universidade de Edimburgo, o EI não é "um exército regular, mas uma organização relativamente flexível e, consequentemente, pouco dependente de infraestruturas fixas".
Abandonar algumas delas não representa um problema insuperável para o EI, acrescenta. Segundo o OSDH, os bombardeios liderados pelos Estados Unidos provocaram a morte de 200 jihadistas, mas serviram muito pouco para frear o avanço do EI, em particular na frente curda. Assim, os combatentes deste grupo seguiram avançando e encontram-se a apenas cinco quilômetros de Ain al-Arab, localidade síria da qual querem se apoderar para controlar de forma contínua uma longa faixa de território ao longo da fronteira com a Turquia. O grupo jihadista também avança perto da fronteira com o Iraque, onde conquistou localidades da província de Hasaka, provocando a morte de 50 combatentes curdos.
Parte da população era a favor dos bombardeios. No entanto, os especialistas estimam que o grupo EI conquistou novos simpatizantes entre os que eram seus inimigos, com os quais compartilha hostilidade em relação aos Estados Unidos. "O fato de serem os Estados Unidos os que atacam levou os islamitas sírios contrários ao EI a se opor aos ataques aéreos", estima o diretor do OSDH, para quem mais de 70 jihadistas, incluindo quatro europeus, se uniram ao grupo Estado Islâmico desde o início dos bombardeios.
A Frente Al-Nosra, braço da Al-Qaeda na Síria, odiava o EI, mas agora "a comunidade jihadista parece fechar fileiras, embora o faça em um grau limitado", estima Aron Lund, especialista da Síria no Centro Carnegie. Para ele, "pregadores jihadistas são reticentes ante a ideia de criticar severamente o EI em pleno confronto direto com os Estados Unidos". Além disso, a morte de pelo menos 22 civis, os bombardeios contra infraestruturas econômicas e o fato de o poder do presidente Bashar al-Assad não ser atacado também geraram oposição.
Segundo o exército americano, muitas refinarias de petróleo artesanais controladas pelo EI no leste da Síria permitiam ao grupo jihadista obter cerca de dois milhões de dólares por dia, razão pela qual se tentou bombardear estas refinarias. No entanto, segundo os especialistas a maioria do petróleo que o EI vende é material sem refino, extraído de uma centena de poços que continuam em atividade. "Estes ataques não afetarão sua economia de modo decisivo", afirma Romain Caillet, especialista em movimentos islamitas.