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Afeganistão assina acordo de segurança bilateral com Estados Unidos

O trato permitirá a permanência em 2015 de algumas tropas americanas no país

Agência France-Presse
postado em 30/09/2014 09:01
Cabul - O Afeganistão assinou nesta terça-feira (30/9) um acordo de segurança bilateral com os Estados Unidos para permitir que 12.500 soldados estrangeiros permaneçam no país em 2015, o que reflete a vontade do novo presidente Ashraf Ghani de manter relações mais amistosas com Washington. O acordo, há muito esperado pela Casa Branca, foi assinado em Cabul pelo embaixador dos Estados Unidos, James Cunningham, e Hanif Atmar, o conselheiro de segurança nacional do Afeganistão, um dia após a posse de Ghani, de acordo com um jornalista da AFP.

O presidente americano Barack Obama saudou a assinatura de um acordo histórico. "Hoje é um dia histórico para a parceria entre os Estados Unidos e o Afeganistão. O acordo irá ajudar a avançar em nossos interesses de longo prazo em questão de segurança no Afeganistão", afirmou em um comunicado. O presidente Hamid Karzai, que deixou o poder na segunda-feira, havia se recusado a assinar o documento, envenenando as relações entre Cabul e Washington.



No Iraque, a ausência de tal acordo levou à retirada completa das tropas americanas, processo concluído em 2011 neste país à beira do caos frente a violência islamita. Nesta terça, Cunningham e Atmar assinaram o acordo de segurança bilateral (BSA) durante uma cerimônia no palácio presidencial, em conjunto com um acordo semelhante com a Otan: o Sofa (Status of forces agreement), que estabelece as bases para o presença dessa organização no Afeganistão no próximo ano.

[SAIBAMAIS]Soldados alemães, italianos e de outros países da Otan irão juntar-se a uma força de 9.800 soldados americanos, somando um total de cerca de 12.500 homens. Após o fim da missão de combate da Otan em dezembro, a nova missão, chamada "Resolute support", vai se concentrar em treinar e apoiar as forças afegãs que combatem os insurgentes talibãs. Restam, atualmente, cerca de 41.000 soldados da Otan no Afeganistão, contra 130.000 em 2012. Logo após a assinatura do acordo, o novo presidente Ashraf Ghani afirmou que, "com base neste acordo, as forças internacionais vão (estar presentes) para fortalecer as instituições afegãs", ainda enfraquecidas 13 anos após a queda do regime talibã.

Apoio internacional


"Como um governo independente e em nome de nossos interesses nacionais, assinamos um acordo que é do interesse e para o bem do nosso povo e para a estabilidade da região e do mundo", argumentou o presidente Ghani. Por sua parte, o embaixador Cunningham declarou que "o acordo é mais do que um compromisso, é uma escolha. É uma escolha para o Afeganistão de reforçar o apoio internacional (...). É uma escolha para os Estados Unidos de continuar a cooperar com os nossos parceiros afegãos".

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, reagiu imediatamente à assinatura do texto em sua conta no Twitter com as palavras: "Morte à América". O grupo rebelde islâmico declarou repetidamente que iria lutar até a retirada de todas as tropas estrangeiras do país. "A assinatura envia a mensagem de que o presidente Ghani cumpre os seus compromissos. Ele prometeu que o (BSA) seria assinado no dia seguinte à posse, e ele o fará", declarou na segunda-feira o porta-voz de Ghani, Daud Sultanzoy.

A posição de Karzai sobre este acordo enfureceu os Estados Unidos. O ex-presidente se recusou a assinar, apesar de um voto no conselho da "Loya Jirga" para sua assinatura. Washington ameaçou retirar todas as suas tropas até o final do ano, quando o país enfrentava um impasse político para a sucessão de Karzai. Na segunda-feira, depois de semanas de bloqueio em razão de denúncias de fraudes durante a eleição presidencial de junho, Ashraf Ghani foi finalmente declarado presidente.

Durante as campanhas eleitorais, Ghani e seu rival Abdullah Abdullah prometeram assinar o BSA. Mas com o avanço do Talibã em várias províncias, o apoio da Otan é visto como crucial para o Afeganistão. Em seu discurso de posse, Ghani pediu aos talibãs para que se juntassem às negociações de paz, mas, pelo contrário, o grupo extremista reivindicou um atentado suicida que matou sete pessoas no início do dia em Cabul.

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