Agência France-Presse
postado em 02/10/2014 14:32
Ancara-O Parlamento turco autorizou nesta quinta-feira (2/10) o governo a enviar tropas, se considerar necessário, para combater os jihadistas na Síria e Iraque.
De 550 deputados, 298 votaram a favor da autorização de mobilizar tropas nos dois países vizinhos, e também para autorizar a passagem de tropas estrangeiras pelo território turco para lutar contra o Estado Islâmico (EI).
Depois de ter rejeitado explicitamente uma participação na coalizão internacional anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos, a Turquia deu um passo atrás e se dispôs a cooperar na guerra contra o grupo extremista, acusado de inúmeras atrocidades.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, convocou uma reunião com os principais líderes militares e da sociedade civil logo após a votação para explicar as modalidades do envolvimento turco na coalizão.
De acordo com a imprensa turca, o governo não deve se envolver diretamente nas operações militares nos países vizinhos, mas se concentrar em abrir algumas de suas instalações aos aliados, entre elas a base aérea de Incirlik (sul), para operações humanitárias. "Não podemos esperar medidas imediatas logo após a votação", alertou o ministro da Defesa, Ismet Yilmaz, antes do debate parlamentar.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou nos últimos dias que seu país estava pronto para fazer "tudo o que for necessário" para combater o EI, mesmo lembrando que a queda do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, continua a ser uma de suas "prioridades". Erdogan justificou essa prudência pelo sequestro de 46 cidadãos turcos, ocorrido em junho na cidade iraquiana de Mossul. Os reféns foram libertados em 20 de setembro.
O chefe de Estado, que considerou na quarta-feira que os atuais ataques aéreos não passam de uma "solução temporária", defende a criação de uma zona tampão no norte da Síria destinada a proteger os refugiados sírios e o território turco. "O único alvo deste texto é a organização terrorista que quer acabar com a tranquilidade deste país", afirmou Yilmaz ao Parlamento, acrescentando que seu país não pode "fechar os olhos" para os abusos cometidos pelo grupo ultra-radical sunita.
O principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), e o Partido Democrata do Povo (HDP, pró-curdo) votaram contra o projeto de resolução, considerando-o "pouco claro" e "limitado".
A votação foi realizada no momento em que os combatentes do EI estavam nas proximidades da cidade síria de Kobane (Ain al-Arab, em árabe), a poucos quilômetros da fronteira com a Turquia.