Agência France-Presse
postado em 04/10/2014 12:11
Londres - A Grã-Bretanha esperava que Alan Henning não tivesse o mesmo destino que os outros reféns devido a seu trabalho humanitário junto aos muçulmanos, mas sua decapitação pelo grupo Estado Islâmico deixou os britânicos chocados. O primeiro-ministro David Cameron, a comunidade muçulmana, o Conselho de Segurança das Nações Unidas e familiares prestaram uma homenagem ao taxista de Manchester, sequestrado em dezembro qando acompanhava um comboio humanitário na Síria.[SAIBAMAIS]"Alan Henning era um homem de paz, gentil e com um grande coração. Sua morte é um ato odioso, que não responde a nada, que é totalmente imperdoável. Vamos usar de todos os meios para encontrar os responsáveis e vencer essa organização impiedosa, sem sentido e bárbara", afirmou David Cameron neste sábado, depois de uma reunião de crise.
"Alan era um amigo dos muçulmanos, e os muçulmanos vão chorar por ele", declarou, por sua vez, Shuja Shafi, secretário-geral do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha. "O Islã não apenas condea esses crimes, como também os proíbe", recordou Mohammed Shafiq, presidente da Ramadhan Foundation.
O presidente americano, Barack Obama, também condenou o "brutal" assassinato do refém britânico, garantindo que os Estados Unidos levarão os culpados à Justiça. "Mantendo-nos unidos com uma ampla coalizão de parceiros e aliados, continuaremos a adotar ações decisivas para degradar e, finalmente, destruir o Isil", declarou Obama, na nota divulgada pela Casa Branca
O Conselho de Segurança da ONU condenou energicamente o assassinato "atroz e covarde" e, em uma declaração unânime, seus 15 membros expressaram que "os contínuos atos de barbárie cometidos pelo EI não os intimidarão, e sim endurecem sua determinação de combatê-los". Os amigos da vítima destacaram, por sua vez, o compromisso de Alan Henning, que, aos 47 anos, chegou a lavar carros para arrecadar fundos para causas humanitárias.
"Era muito generoso, humilde e corajoso. Se preocupava com as pessoas, independente de sua religião. Ajudava as crianças, os viúvos, as pessoas que o mundo inteiro havia abandonado", declarou à BBC Rádio 4 Majid Freeman, que o acompanhou à Síria. Sua esposa, Barbara, pediu em várias ocasiões a libertação de um homem não apenas inocente, como também admirável porque "foi voluntário com seus amigos muçulmanos para ajudar o povo sírio".
"Ontem à noite, recebemos a notícia de seu assassinato pelo Estado islâmico. Esta é uma notícia que esperávamos que jamais receberíamos. Estamos arrasados com a sua morte. Eu, Lucy e Adam (seus filhos), assim como toda a família e os amigos de Alan estamos tomados pela dor", escreveu Barbara Henning em um comunicado divulgado neste sábado.
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"Alan era um bom homem, que se preocupava com os outros. Vamos lembrar dele como tal, e nós, sua família, estamos extremamente orgulhosos pelo que ele tem feito e as pessoas que ele ajudou", acrescentou. Barbara Henning também agradeceu a todos que a apoiaram e fizeram campanha pela libertação de seu marido.
Execução
O anúncio do EI sobre a decapitação de Alan Henning foi feito na noite de sexta-feira. Intitulado "uma nova mensagem aos Estados Unidos e a seus aliados", o vídeo foi gravado no mesmo local das execuções anteriores de dois americanos e de um britânico. Vestido com o mesmo uniforme laranja das outras vítimas anteriores - e que lembra o dos presos da base militar americana de Guantánamo -, Alan pronuncia uma frase curta e, depois, o agressor toma a palavra para acusar o Parlamento britânico de ser responsável pela morte de seu cidadão.
Embora a voz pareça ter sido modificada eletronicamente, o carrasco tem sotaque britânico e, segundo o centro americano de monitoramento de páginas islâmicas na Internet SITE, aparenta ser o mesmo que matou o também britânico David Haines, em meados de setembro. Ao final da gravação, que dura um minuto e 11 segundos, o EI apresenta outro refém americano, identificado como Peter Kassing.
Henning é o quarto refém executado pelos jihadistas do EI na Síria, depois dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff (vídeos divulgados em 19 de agosto e 2 de setembro, respectivamente) e do trabalhador humanitário britânico David Haines (vídeo divulgado em 13 de setembro). As execuções foram cometidas em resposta à intervenção militar de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria para combater o movimento ultra-radical.