Agência France-Presse
postado em 07/10/2014 17:26
Mursitpinar - Intensos combates eram travados na cidade curda de Kobane entre as forças locais e combatentes extremistas nesta terça-feira (7/10) à noite, 24 horas após a entrada do grupo Estado Islâmico (EI) nesta cidade, sem que os ataques aéreos da coalizão internacional tenham conseguido conter os invasores.A situação nesta cidade estratégica curda, próxima à fronteira com a Turquia, inflamou as ruas turcas, onde pelo menos três pessoas morreram em confrontos entre a polícia e manifestantes pró-curdos.
Em Genebra, o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, fez um apelo por "uma ação imediata" para salvar a cidade dos jihadistas, enquanto os ataques realizados há vários dias pela coalizão liderada pelos Estados Unidos na Síria não conseguem contê-los.
Três novos ataques foram realizados nesta tarde nos arredores de Kobane contra posições do EI, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Cada disparo que atinge o alvo levanta uma espessa coluna de fumaça negra que é saudada por aplausos e gritos de dezenas de civis curdos reunidos do lado turco da fronteira para acompanhar o andamento dos combates.
Os jihadistas do EI entraram na localidade na segunda-feira (7/10) e ocuparam três bairros do leste, derrotando o combatentes curdos, que estão em menor número e têm menos armas. Na fronteira turca era possível ouvir os disparos procedentes da cidade, que ainda conta com uma bandeira curda hasteada na área central.
;Resistência desesperada;
O EI enfrenta na cidade a resistência desesperada dos combatentes das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), principal milícia curda síria. Trata-se de "uma guerrilha urbana", segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
De acordo com a ONG, mais de 400 pessoas, em sua maioria combatentes curdos e jihadistas, morreram em Kobane desde o início da ofensiva em 16 de setembro.
"As YPG resistem ferozmente", afirmou Ozgur Amed, um jornalista curdo perto da linha de frente. "Nosso moral está alta. Só tememos pela situação humanitária", garantiu.
As informações sobre o número de civis que permanecem na cidade são difíceis de verificar. Algumas fontes, como Amed, falam de "milhares de civis" que se recusaram a deixar a cidade.
A ofensiva do EI, que conseguiu tomar 70 aldeias no caminho para Kobane, obrigou cerca de 300 mil pessoas a deixarem suas casas, e mais de 190 mil se refugiaram na Turquia.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, considerou nesta terça-feira que "despejar bombas do ar não acabará com o terror."
"O terror não vai parar até que cooperemos por uma operação terrestre com os que travam combate no terreno", considerou Erdogan.
"Os meses se passaram e não conseguimos resultado algum. Kobane está prestes a cair", acrescentou o premiê turco diante de refugiados sírios em um acampamento de Gaziantep (sul da Turquia).
O avanço do EI no norte da Síria colocou a Turquia na linha de frente do conflito. Apesar de ainda não intervir militarmente, seu Exército recebeu autorização do Parlamento para agir no Iraque e na Síria, no momento em que os Estados Unidos e outros aliados da coalizão descartaram a mobilização de tropas terrestres.
Se os jihadistas, que já ocupam grandes regiões do norte e do leste sírio, conquistarem Kobane - a terceira principal cidade curda da Síria - eles dominarão uma longa faixa ininterrupta de território na fronteira Síria-Turquia.
;Tarde demais;
Para o analista Mario Abu Zeid, do Centro de Pesquisas Carnegie em Beirute, "neste estágio, é muito tarde para salvar Kobane. Este avanço do EI prova que a campanha de ataques aéreos da coalizão não atinge seu objetivo, ou seja, destruir as capacidades militares da organização".
O Irã denunciou nesta terça-feira (7/10) "a passividade da comunidade internacional" e pediu apoio ao governo sírio contra os terroristas.
Já os Estados Unidos manifestaram sua preocupação com os civis que permanecem em Kobane.
O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, declarou à imprensa que Washington está "muito preocupado" com a segurança dos civis, considerando que, "mais uma vez, vemos esta organização extremista, que em nome de uma religião pacífica, o Islã, comete terríveis atos de violência contra minorias religiosas e étnicas".
Ainda na Síria, um padre e vários cristãos foram sequestrados pela Frente Al-Nosra - braço sírio da Al-Qaeda -, que luta contra o regime do presidente Bashar al-Assad, informou nesta terça-feira (7/10) a ordem franciscana do sacerdote.
A ordem franciscana não tem notícias do padre Hanna Jalluf e dos paroquianos que foram capturados no domingo à noite em Qunya (noroeste), perto da fronteira com a Turquia, informou a Custódia da Terra Santa.
No Iraque, caças F-16 holandeses fizeram seus primeiros ataques contra o grupo EI para ajudar os combatentes curdos no norte do país. Vários países ocidentais estão envolvidos nos ataques no Iraque, onde os militares americanos utilizaram pela primeira vez helicópteros, marcando uma escalada no conflito e expondo as tropas dos Estados Unidos a um risco maior.