Agência France-Presse
postado em 08/10/2014 16:57
Guala de la Independencia- Forças de segurança do governo do México intensificaram nesta quarta-feira as operações de busca pelos 43 estudantes desaparecidos há mais de dez dias em Iguala, em uma jornada com manifestações previstas em todo o país para exigir justiça. Pressionadas interna e externamente, as autoridades também são criticadas por não terem investigado a relação entre grupos criminosos e o prefeito de Iguala, onde policiais colaboraram com traficantes na repressão aos estudantes que antecedeu o desaparecimento.O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, garantiu na segunda-feira que os responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes não ficarão impunes. Os jovens podem estar entre os corpos encontrados no fim de semana em fossas clandestinas. Às equipes policiais mobilizadas pelo governo, somaram-se nesta quarta-feira membros de milícias de autodefesa da região. "Vamos encontrar os jovens, vivos ou mortos", declarou um de seus comandantes, identificado como Moisés.
Cerca de 500 milicianos se dirigiram nesta manhã ao local das fossas clandestinas. Mas ao se aproximarem, receberam ordem para dar meia volta, segundo constatou uma equipe da AFP. Esses milicianos da União de Povos e Organizações da região de Guerrero (UPOEG), um dos primeiros grupos de autodefesa criados no início de 2013 para combater o tráfico de drogas, lançaram suas próprias buscas, "porque os policiais realizam buscas apenas perto da estrada", indicou um de seus líderes, Bruno Placido.
Os 43 estudantes universitários desapareceram no dia 26 de setembro, após uma violenta repressão a protestos no município de Iguala, em Guerrero, da qual participaram policiais e membros do cartel das drogas "Guerreiros Unidos".
Pressão estrangeira
A ONU, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e os Estados Unidos exigiram esclarecimentos sobre o caso. Várias organizações civis convocaram para esta quarta-feira à tarde protestos em todo o país, incluindo na capital e em Chiapas.
As famílias dos jovens desaparecidos seguem concentradas na Universidade Rural para Normalistas de Ayotzinaga (Guerrero), onde estudavam as vítimas. Os pais ainda esperam a identificação dos 28 cadáveres encontrados nas fossas. Este trabalho poderia durar várias semanas devido ao estado dos corpos.
O governo de Guerrero reconheceu a possibilidade de que sejam os jovens desaparecidos em razão das informações de pistoleiros que confessaram ter matado 17 alunos. Contudo, as famílias resistem em acreditar na morte de seus filhos e denunciam a participação de policiais locais no crime.
Investigação tardia
Conforme mais informações sobre o caso aparecem, crescem as suspeitas contra o prefeito, José Luis Abarca, e sua esposa, María de los Ángeles Pineda, foragidos desde os protestos. Na noite do ataque, policiais e pistoleiros do cartel Guerreiros Unidos dispararam contra os ônibus em que estavam os estudantes.
No tiroteio morreram seis pessoas, incluindo três estudantes. Muitos dos jovens desaparecidos nesta noite foram vistos pela última vez em patrulhas da polícia. Um relatório dos serviços de inteligência, citado pelo jornal El Universal, indica que a esposa do prefeito ordenou que o responsável local pela Segurança Pública reprimisse os estudantes, temendo que interrompessem um discurso naquele dia.
Em 2009, dois irmãos de Pineda chegaram a fazer parte da lista dos narcotraficantes mais procurados do país. Eles lideravam o cartel dos Beltran Leyva, do qual surgiram os Guerreiros Unidos. Além disso, o prefeito Abarca foi denunciado em 2013 por assassinar um colega de partido.
O procurador-geral Jesús Murillo Karam se defendeu na terça-feira das acusações de não ter agido mais cedo em Iguala. Murillo Karam disse que, embora tivesse conhecimento da denúncia por homicídio contra o prefeito, cabia à justiça de Guerrero agir.
Sobre a esposa do prefeito, "não investigamos por causa de parentesco, mas por fatos", ressaltou.